Diferentemente da monarquia, na qual o poder é concentrado nas mãos de um rei ou imperador, na república espera-se que o poder emane do povo, que elege os seus representantes. Com o declínio do prestígio do governo de Pedro II, a ideia de se instituir uma república no Brasil começou a ganhar força. Existiram diversos projetos e várias tentativas regionais foram realizadas até que, em 15 de novembro de 1889, um golpe liderado pelos militares enviou o monarca para o exílio, tomando seu lugar.

Primeira República

Em 1925 durante uma visita ao Rio de Janeiro, Albert Einstein afirmou que “a teoria que minha mente formulou foi respondida pelo ensolarado céu do Brasil”, fazendo referência às observações do eclipse solar fotografado em Sobral, no Ceará, em 1919. Na sua interpretação, a matéria causa alterações no tecido do espaço-tempo da mesma maneira que um lençol esticado se deforma quando colocamos algo pesado em cima. Objetos com maior massa causam deformações maiores que atraem para perto de si outros objetos ao redor. A essa força de atração chamamos gravidade. Uma forma de confirmar a teoria seria observar a movimentação da luz emitida por algumas estrelas em duas ocasiões: na proximidade do Sol, que possui uma grande massa, e quando o Sol não estivesse mais na frente delas. Comparando os dois momentos seria possível calcular se a luz sofria o desvio previsto por Einstein, causado pela força gravitacional do Sol. Para isso, era preciso esperar por um eclipse.Em 1912, fortes chuvas impediram que o eclipse solar total fosse observado pelos astrônomos em Minas Gerais. Em 1919, Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, estudou dados meteorológicos de várias cidades brasileiras para escolher Sobral como a mais adequada para a observação do eclipse previsto para o dia 29 de maio. Essa informação foi compartilhada com astrônomos do mundo inteiro e, como resultado, duas expedições estrangeiras se juntaram aos brasileiros para o estudo do fenômeno. Dos Estados Unidos, o Instituto Carnegie enviou o meteorologista Andrew Thomson e o geofísico Daniel Wise. Já na Inglaterra, um comitê especial com membros da Real Sociedade Astronômica, da Real Sociedade e do Observatório de Física Solar de South Kensington preparou duas comitivas. Enquanto Andrew Crommelin e Charles Davidson vieram para o Brasil, Arthur Eddington e Edwin Cottingham se dirigiram para a Ilha do Príncipe, próxima da África, onde o eclipse também poderia ser observado. No Brasil, Morize chefiou a expedição do Observatório nacional, que contava com Domingos Costa, Allyrio de Mattos, Lélio Gama, Theophilo Lee, Luiz Rodrigues e Arthur Almeida. Por intermédio de Morize e do governo brasileiro, os estrangeiros receberam diversos auxílios durante sua passagem pelo país, como transporte e hospedagem gratuita na única residência com abastecimento de água na cidade.A passagem dos cientistas por Sobral foi amplamente coberta pela mídia local, assim como o eclipse. Apesar de algumas dificuldades, como a fina poeira que se levantava do chão e prejudicava alguns dos instrumentos e o tempo nublado no início do dia, as condições de observação no dia eram adequadas. Na Praça do Patrocínio, os astrônomos observaram, registraram, cronometraram e fotografaram o fenômeno durante os cerca de cinto minutos de sua duração. Além disso, também fizeram estudos sobre a composição química da coroa solar, o magnetismo terrestre e a eletricidade atmosférica. Das dezenas de fotografias feitas, sete foram consideradas muito boas, enquanto a equipe inglesa na Ilha do Príncipe só conseguiu duas fotos e com qualidade inferior às de Sobral. Após a revelação das fotografias, os cientistas realizaram uma aprofundada análise das imagens utilizando um micrômetro para medir a curvatura dos raios de luz na vizinhança do Sol durante o eclipse e só no dia 6 de novembro os resultados foram publicados confirmando a teoria de Einstein, suplantando a teoria gravitacional de Newton e transformando a nossa compreensão do universo."

Durante a expedição para a observação do eclipse total do Sol de 29 de maio de 1919, os astrônomos do Observatório Nacional apontaram para o céu um telescópio refrator astrográfico do construtor Mailhat que media 8 metros de comprimento (distância focal) e possuía uma lente objetiva de 15 centímetros. Conjugado com um celostato, um instrumento formado por espelhos que permitiam registrar a imagem refletida do Sol em fotografia, foram capturadas 8 imagens durante os 5 minutos e 13 segundos em que o eclipse ocorreu. Nesta imagem, de número 3, é possível observar o momento em que o Sol encontrava-se por detrás da Lua, apenas sua coroa visível ao lado das bordas de nosso satélite natural. Na fotografia, estão registradas também as coordenadas geográficas norte, sul, leste e oeste, e pequenos quadrados em tons de cinza que permitem aos astrônomos identificar a sensibilidade, contraste e saturação da fotografia.

Placa fotográfica número 3 obtida pelo Observatório Nacional durante o eclipse de 1919

Na fotografia vemos de pé, da esquerda para a direita: o meteorologista Luiz Rodrigues, o químico Theophilo Lee, o astrônomo estadunidense Daniel Wise e os astrônomos Henrique Morize, Allyrio de Mattos, Lélio Gama e Antônio C. Lima, ao lado de um homem não identificado. Sentados, a partir da quarta pessoa da esquerda: Rosa dos Santos, esposa de Morize, os astrônomos britânicos Andrew Crommelin e Charles Davidson, e o estadunidense Andrew Thomson, que observaram o eclipse de 1919 em Sobral.

Fotografia dos cientistas que observaram o eclipse solar em Sobral em 1919

Observação do eclipse total do Sol de 29 de maio de 1919 em Sobral

Em observações e experimentos, ressaltamos dois processos importantes na construção do conhecimento científico. As observações dos fenômenos naturais, orientadas por conhecimentos prévios, assim como os experimentos que reproduzem fenômenos naturais, fornecem suporte para a comunidade científica construir modelos, testar hipóteses e formular teorias para explicar o funcionamento da natureza.

Observações e Experimentos

Foi por meio de um golpe liderado pelos militares que, em 1º de abril de 1964, teve início um dos períodos mais truculentos, repressivos e antidemocráticos da história brasileira. Diferentemente de uma democracia, onde o povo é soberano, uma ditadura concentra o poder nas mãos de um indivíduo ou grupo. Por meio de atos institucionais que suplantavam até mesmo a constituição, diversas liberdades civis foram cassadas e a oposição foi censurada, torturada e assassinada.

Ditadura Civil-Militar

Em 7 de março de 1973 o astrônomo alemão Lubos Kohoutek, no Observatório de Hamburgo, descobriu o cometa batizado com seu nome. Identificando o astro quando estava distante do Sol e da Terra, e com uma luminosidade atípica, logo os cientistas estimaram que, ao se aproximar do periélio, nos próximos meses, a passagem do cometa seria um grande espetáculo para os observadores na Terra.A partir de então, a imprensa mundial circulou várias notícias sobre o evento, gerando muita expectativa na população, inundada com manchetes que diziam que Kohoutek teria um brilho 50 vezes maior que o cometa Halley em 1910! A enxurrada de notícias também deveu-se à Operação Kohoutek: idealizada pela NASA era um programa coordenado de observações do cometa, a partir de observatórios terrestres, aeronaves, balões, foguetes, satélites e, principalmente, por meio da estação espacial norte americana Skylab, que já vinha realizando estudos sobre o Sol na órbita da Terra.Nos meses que antecederam a entrada do cometa em periélio, proximidade com o sol que viabiliza a luminosidade e gera a cauda desses astros, a NASA formou uma missão tripulada, a Skylab 4, visando registrar pioneiramente o cometa direto de uma estação espacial. A missão foi um sucesso e várias imagens foram captadas: dos preparativos da missão até o encontro com o cometa, que só voltaria à vizinhança da Terra daqui a 75 mil anos.Se para quem estava no espaço o cometa foi um espetáculo, na Terra os expectadores não tiveram sucesso esperado. A olho nu o cometa foi pouco visto, devido sua baixa magnitude e cauda discreta. Logo, a promessa feita pela mídia, de que o cometa seria um espetáculo na última semana do ano, foi substituída por matérias que nomeavam o popular Kohoutek como o “fiasco do século”.A fama do cometa chamou atenção de um personagem que já tinha declarado sua admiração pelos "astros com cabeleiras" em vários escritos. Carlos Drummond de Andrade, poeta e cronista, aproveitou o evento para rememorar em sua coluna do Jornal do Brasil o encontro que teve com o cometa Halley, quando tinha sete anos. Desconfiado e, talvez, enciumado com a louvação em torno do Kohoutek, disse em crônica intitulada “Dou-te um cometa: vai”: “Não quero declarar-me importante, mas vi o de 1910, entendes? O que me confere particular autoridade para dizer de cometas. Quem foi gratificado com sua visão dispensa sucedâneos. No capítulo de espetáculos, já viu tudo. Viu camonianamente visto o lume vivo, guardou aquilo nos armários da memória, armoriais. Duques de Halley somos nós, os poucos daquela época e a-ventura”.Mas, em outro momento do texto, reconhece a importância do cometa de 1973, pois existia uma espécie de sacralidade e distinção em torno desses astros - qualquer um deles: “O cometa é um cavalo maior de todos, pêlo fosforescente, crina azulada, patas de ouro veloz. Segura bem, para não seres precipitado no espaço; e esporeia o corcel ionizado. Do afélio ao periélio, do quarto de dormir ao Sol, que verás de frente e franco: o sol te dirá saravá; na claríssima noite constelada que será teu reino, visitado no lombo magnífico do cometa.Vai.Antes dos outros.O nome é Kohoutek.Que importa o nome?O nome é cometa, e basta”(ANDRADE, 1973, p.5).

Fotografia colorida do cometa Kohoutek foi tirada por membros da equipe fotográfica do laboratório lunar e planetário da Universidade do Arizona, no Observatório Catalina em 11 de janeiro de 1974.

Fotografia do cometa Kohoutek tirada no Observatório Catalina em 1974

Fotografia tirada do cometa Kohoutek da estação espacial Skylab na órbita da Terra por um membro da tripulação do Skylab 4.

Fotografia do cometa Kohoutek tirada da Estação Espacial Skylab 4

Montagem artística com as vistas progressivas do cometa Kohoutek com base em esboços e uma descrição do astronauta Edward Gibson da Estação Espacial Skylab-4.

Montagem retratando o cometa Kohoutek em 1973

Fotografia de Lubos Kohoutek, descobridor do cometa Kohoutek, na sala de controle de Operações do Centro Espacial Johnson - NASA (EUA), em 28 de dezembro de 1973. Na ocasião, o astrônomo checoslovaco conversava por radiotelefone com os tripulantes da estação espacial Skylab na órbita da Terra.

Fotografia de Lubos Kohoutek em contato com a tripulação do Skylab 4 em 1973

Desenho retratando a passagem do cometa Kohoutek em 29 de dezembro de 1973. Elaborado pelo astronauta da Estação Espacial Skylab-4, Edward Gibson, o desenho reúne as impressões coletivas da tripulação do Skylab-4 que observava o fenômeno no espaço.

Desenho do cometa Kohoutek elaborado em 29 de dezembro de 1973

A passagem do cometa Kohoutek registrada pela NASA e por Carlos Drummond de Andrade em 1973

Em julho de 1981, as notícias sobre o inverno no Brasil eram preocupantes, pois havia risco de geadas em diferentes partes do sul e sudeste do país.&nbsp; Além da geada, fenômeno atmosférico conhecido pela formação de camadas de gelo sobre plantas e superfícies, a queda de temperatura cobriu de neve várias cidades do sul do país e provocou friagem até em estados do norte, como Amazonas e Rondônia.Apesar das camadas de gelo já serem esperadas no sul do país, naquele ano, o fenômeno causou perdas significativas para a agricultura e pecuária, e estendeu-se para regiões do sudeste e centro-oeste que foram pouco atingidas em anos anteriores. Os jornais da época veiculavam diferentes notícias destacando as perdas significativas para a cafeicultura e as consequências financeiras decorrentes.&nbsp;Para registrar a ocorrência e intensidade do fenômeno, e estabelecer um modelo de previsão de geadas para os próximos anos, o Departamento de Meteorologia do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) colocou em prática a “Operação Inverno”. A ação registrou as geadas de 20 a 22 de julho de 1981 por meio de imagens de satélite de sensoriamento remoto, SMS-GOES, recebidas pelo INPE em São José dos Campos. Também foram instalados pontos de observação na superfície com apoio do Instituto de Pesquisas Agronômicas no Rio Grande do Sul (IPAGRO), e do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).A imagem destacada faz parte deste monitoramento e mostra a região sul do Brasil, e parte do sudeste e centro-oeste. As linhas pontilhadas indicam os limites territoriais entre os estados. Vê-se que a área congelada estendeu-se da fronteira do Paraguai até o sul do estado de Minas Gerais, seguindo até São Paulo e estendendo-se até o&nbsp; Mato Grosso do Sul.Os dados coletados e analisados mostraram que a causa da geada no sul do país, em 1981, se deu pela passagem de um ciclone (vórtice circular) fechado sobre o estado do Paraná. O fenômeno foi intenso no ar, mas quase imperceptível visto da Terra, daí a necessidade de um moderno sistema de sensoriamento remoto para compreender a extensão e gravidade do fenômeno. Ao contrário das geadas de anos anteriores, formadas por frentes frias vindas do sul do Chile e Argentina, canalizadas pela Cordilheira dos Andes, naquele ano, o vórtice causador das geadas cercou o ar recém chegado da região subantártica e seguiu progressivamente até o sul do Brasil. A costa atlântica foi atingida, na noite de 20 de julho e, três dias depois, foram registradas as geadas mais severas. Também foi registrado um anticiclone, partindo de duas vertentes de ar sobre o Paraguai e o Uruguai.&nbsp; Para mostrar a diferença de temperatura, as imagens em preto e branco, obtidas por infravermelho, apresentam escalas de cinza. Tonalidades mais escuras representam temperaturas abaixo de 0℃ e as mais claras denotam temperaturas acima de 0℃.Os dados vindos da “Operação Inverno” foram fundamentais para a elaboração de artigos científicos sobre o tema, entre eles o intitulado “A severidade das geadas de 1981, vista pelo satélite GOES”, do pesquisador do INPE Michael A. Fortune. O conjunto dessas informações foram fundamentais para estabelecer um modelo de&nbsp; previsão do fenômeno, suas consequências e particularidades. São utilizados, também, como respaldo científico para os esforços empregados em cenários de crise vindos de quedas bruscas de temperaturas.

Fotografia em preto e branco, indicando regiões sul e sudeste do Brasil, obtida por meio de satélite de sensoriamento remoto SMS GOES - E. Faz parte do dossiê “Fotografias da Missão Espacial Completa Brasileira”, do Fundo Jacques Danon (AHC-MAST). Fotos doadas pelo INPE e associadas a um texto de divulgação para a imprensa.&nbsp;

Fotografia do sul do Brasil obtida pelo satélite SMS-GOES em 1981

A “Operação Inverno” realizada pelo departamento de meteorologia do INPE em 1981

O ano de 1988, quando é promulgada a constituição "cidadã", marca o auge de um processo de abertura política iniciado em 1985. Com o fim da ditadura, o Brasil retoma a democracia presidencialista com um novo governante escolhido pelo povo em eleições diretas. Embora essa seja uma história recente, muito já aconteceu e continua a acontecer diariamente, pois a história não é apenas aquilo que ocorreu no passado; ela é a ciência do homem no tempo: passado, presente e futuro.

História Recente

O cometa Halley é um dos astros mais conhecidos já registrados pela ciência, e foi o primeiro cometa com periodicidade calculada: a cada 75-76 anos ele pode ser visto no céu da Terra. Sua última passagem, em 1986, destacou-se porque foram enviadas sondas espaciais para a observação do cometa no espaço, e modernos telescópios e antenas de recepção de dados também foram instalados em várias instituições de ciências.&nbsp;O Observatório Nacional (ON) desde o século XIX realizava observações astronômicas para elaborar cartas celestes, e determinar o posicionamento, trajetória, magnitude, entre outros aspectos, de cometas. Uma das funções do ON, até os dias de hoje, também é a divulgação de dados astronômicos gerados, informando à sociedade sobre suas atividades por meio de ações de divulgação científica.Quando o cometa Halley começou a se aproximar da Terra, em 1986, a instituição preparou-se para registrar, estudar e divulgar o famoso viajante cósmico. Por exemplo, um de seus astrônomos, Marcomede Rangel, reeditou uma Carta do Sistema Solar com dados sobre a trajetória do Halley, trabalho minucioso que vinha desenvolvendo há quatro anos. Foi firmado, também, um contrato com empresa para a instalação de antena usada no recebimento de sinais de satélites e de sondas espaciais que acompanhavam o cometa. Para o público, o ON disponibilizou uma linha telefônica para obtenção de informações do evento e para quem quisesse se inscrever nas atividades de observação.Naquela ocasião, uma das lunetas utilizadas para a observação do cometa Halley&nbsp; foi a Equatorial 46cm presente no campus do Observatório Nacional. Instrumento científico centenário, encomendado em 1911 pelo então diretor do ON, Henrique Morize, foi instalado somente em 1921 quando desembarcou no Rio de Janeiro. Em 1922, a instalação da luneta foi concretizada por ocasião da transferência do ON para o Morro de São Januário.Trata-se de um telescópio refrator com lente medindo 46 cm de diâmetro e disposta na frente de um tubo com 6m de comprimento. Com a adaptação de uma câmera fotográfica ao instrumento é possível captar imagens astronômicas e disponibilizá-las em placas de vidro.Na imagem captada pela Luneta Equatorial 46, registrada por meio de uma câmera Taylor, o cometa aparece acompanhado de seu rastro. Esta “cauda” luminosa, parte mais visível, é resultado da interação do astro com o vento solar, fenômeno que produz poeira e gases no seu percurso. Já os traços aparentes, no céu escuro, são as estrelas que integram o campo de observação, e resultam da captação da imagem em movimento. A disposição dos corpos celestes na placa, por meio de cálculos astronômicos, fornecem a posição do cometa e a direção que seguirá.Na imagem de 1986, a passagem do astro é nítida, contrapondo-se aos relatos sobre a observação do cometa a "olho nu". Muitas pessoas não conseguiram ver o Halley, motivando notícias na imprensa sobre a frustração do público causada pelo viajante cósmico. Segundo o astrônomo Ronaldo Mourão, no livro “Introdução aos cometas”, o Halley passaria mais distante da Terra, se comparado à última visita em 1910. Assim, o cometa teria uma redução de magnitude. Outros fatores também contribuíram para a pouca visibilidade: o desgaste natural que o cometa sofreu ao longo dos anos, a interferência da atividade solar no astro, além da poluição luminosa e atmosférica durante a observação.

Fotografia em placa de vidro. Imagem produzida em 1986 a partir de uma das câmeras astrofotográficas (câmera Taylor) acopladas à luneta Equatorial 46cm, no Observatório Nacional. Não há autoria da imagem, nem data (dia e mês) e hora que foi feita a observação. O registro foi realizado acompanhando o movimento do astro. As estrelas aparecem no céu escuro como um traço e, essas linhas, são produzidas quando as imagens das estrelas se deslocam sobre a placa. Desse modo, a escala da placa e a direção Leste-Oeste do movimento diurno do corpo celeste podem ser determinadas.

Fotografia da passagem do cometa Halley produzida no Observatório Nacional em 1986 

A passagem do cometa Halley em 1986 e seu registro no Observatório Nacional

Embora tivesse apenas 15 anos, D. Pedro II teve sua maioridade antecipada para poder assumir o trono como imperador do Brasil em 1840. Conhecido por ser um monarca ilustrado e um amigo das ciências, seu governo é marcado pela expansão da urbanização, pelo desenvolvimento das ciências, pela prosperidade econômica impulsionada pela exportação do café, pela abolição da escravatura, mas também pela Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, maior conflito bélico na história do país.

Segundo Reinado

Nascido em Londres, Henry Alexander Wickham fez sua primeira viagem ao continente americano aos 20 anos de idade. Durante o tempo que passou na Nicarágua, costumava enviar para a Europa espécimes de pássaros que caçava, a fim de garantir algum retorno financeiro. Posteriormente, viajou também pela Venezuela, percorrendo os rios Orinoco e Atabapo e pelo Brasil, onde atravessou o Rio Negro. O relato desta última viagem foi publicado em 1872 sob o título completo de Rough Notes of a Journey Through The Wilderness from Trinidad to Pará, Brazil, by way of the Great Cateracts of the Orinoco, Atabapo, and Rio Negro.
No mesmo ano, Wickham decidiu morar no Pará com a sua esposa, a sua mãe, um irmão e uma irmã. A família se estabeleceu em Santarém, onde Wickham permaneceu até 1876. Sua mãe e irmãos faleceram no Brasil e o retorno para a Inglaterra foi acompanhado apenas pela esposa e por 70 mil sementes da seringueira brasileira.Em 1873, Wickham começou a corresponder-se com Joseph Dalton Hooker, então diretor do Real Jardim Botânico em Kew, informando que poderia enviar para a instituição espécimes da flora amazônica. Depois do sucesso da introdução da cinchona nos territórios britânicos na Ásia, havia grande interesse do Reino Unido na exploração da borracha, especialmente no último quarto do século XIX. Muitos viajantes que visitaram a região amazônica no período incluíram em seus relatos
informações sobre a espécie de onde era extraída, seus usos e as formas de extração de sua seiva pela população local. Aproveitando da oportunidade que tinha em mãos, Wickham estabeleceu um acordo no qual receberia o pagamento de £100 libras por cada mil sementes enviadas para a Inglaterra. Ao todo, contando com o apoio dos indígenas locais, Wickham conseguiu reunir um total de 70 mil sementes da Hevea
brasiliensis.As sementes foram classificadas como "espécimes para estudo acadêmico" para que pudessem passar pela alfândega brasileira e foram enviadas para a Inglaterra a bordo do navio a vapor Amazonas. No dia 15 de junho de 1876 chegaram no jardim botânico em Kew, onde foram imediatamente plantadas. As cerca de 2.700 sementes que germinaram foram enviadas para territórios britânicos no sul e sudeste asiático, como a Índia, o Sri Lanka, a Indonésia, Sumatra, Java, entre outros, dando início a competição internacional que acabaria com o monopólio brasileiro na comercialização da borracha. Até hoje, a história é considerada por muitos como o primeiro caso de biopirataria de que se tem conhecimento. O próprio Wickham cultivou a fama de desbravador heroico e, segundo historiadores, teria o hábito de exagerar os perigos e obstáculos encontrados, chegando a afirmar que teria carregado as sementes a bordo do Amazonas sem que as autoridades brasileiras soubessem. Além do total de £700 libras, Wickham também foi agraciado com a honraria de cavaleiro do império britânico por sua contribuição para a exploração da borracha. A sua narrativa sobre a coleta e envio das sementes para a Inglaterra foi publicada em 1908, sob o título On the plantation, cultivation, and curing of Pará Indian rubber.

Ilustração publicada na página 295 do livro Rough notes of a journey through the wilderness from Trinidad to Pará, Brazil de autoria do viajante britânico Henry Alexander Wickham.A gravura representa a folha e o fruto da seringueira (Hevea brasiliensis), espécie muito cobiçada para a extração de sua seiva, utilizada no preparo da borracha. Durante sua passagem pelo Brasil, Wickham coletou cerca de 70 mil sementes da espécie, que enviou para o Jardim Botânico Real em Kew, na Inglaterra, onde as sementes foram estudadas, germinadas e enviadas para colônias britânicas na Ásia, dando início a competição internacional que acabaria com o monopólio brasileiro na comercialização da borracha.

Ilustração da folha e fruto da seringueira por Henry Alexander Wickham

Ilustração publicada na página 138 do livro Rough notes of a journey through the wilderness from Trinidad to Pará, Brazil de autoria do viajante britânico Henry Alexander Wickham.Na gravura, observamos uma representação da casa onde o viajante e sua família habitaram em Santarém, no Pará. Foram cerca de quatro anos morando no Brasil, antes de Wickham retornar para a Inglaterra com cerca de 70 mil sementes da seringueira brasileira.

Ilustração da casa de Henry Alexander Wickham no Pará

Expedição de Henry Alexander Wickham pela Amazônia

Astrônomos do mundo inteiro se reuniram no Brasil para a observação do eclipse solar total de 10 de outubro de 1912. Diversas expedições científicas estrangeiras aportaram no país em setembro, em preparação para o eclipse. O primeiro a chegar foi o inglês James Worthington que, sendo conhecido por viajar por conta própria para observar eclipses no mundo inteiro, ficou conhecido pelo apelido de “caçador de eclipses”. Em seguida, chegou a comissão francesa organizada pelo Bureau de Longitudes e liderada pelo astrônomo Milan Stefanik. Pouco depois, foi a vez dos ingleses do Observatório Real de Greenwich, que enviou uma delegação composta por Arthur Eddington, Charles Davidson e John Atkinson. A Argentina enviou duas comissões lideradas pelos diretores dos observatórios de Córdoba, Charles Perrine, e de La Plata, William Hussey. Por fim, o Chile também organizou a sua própria missão, chefiada por Friedrich Ristenpart, diretor do Observatório Nacional do Chile.Além das expedições estrangeiras, foram organizadas três comissões brasileiras, sendo duas do Observatório Nacional. A principal delas, comanda pelo diretor Henrique Morize, contava com Domingos Costa, Mário de Souza, Alix Lemos e Gualter Soares, sendo posteriormente acompanhados pelo fotógrafo Augusto Soucasaux e os voluntários Antônio da Silva e Camilo Fonseca. A segunda comissão tinha como membros o astrônomo Julião de Oliveira Lacaille, que a chefiou, e os auxiliares Valentim de Magalhães e Arthur de Almeida. A terceira comissão brasileira foi organizada pelo Observatório de São Paulo, fundado em 1910, e era liderada pelo seu diretor, José de Mattos. Cada grupo tinha objetivos próprios. Enquanto os ingleses pretendiam confirmar a existência de um elemento químico chamado coronium, os franceses desejavam estudar o espectro solar. Os brasileiros do Observatório Nacional, por sua vez, se voltaram para estudos sobre o magnetismo e a física do globo. Havia até mesmo a expectativa de que se pudesse confirmar a teoria da relatividade de Albert Einstein, algo que só se concretizaria após o eclipse de 1919.Uma vez no Brasil, as expedições se dividiram por cinco cidades: Cristina, Cruzeiro, Alfenas, Silveiras e Passa Quatro, para onde se encaminharam os grupos de Morize, Stefanik e os ingleses. A pequena cidade mineira viveu dias agitados com a chegada dos cientistas que tiveram até uma locomotiva colocada à sua disposição para irem diariamente às suas estações de observação. Até o então presidente, Marechal Hermes da Fonseca, se dirigiu para Passa Quatro, acompanhado de sua esposa, um grupo de ministros e deputados, e do vice-presidente Wenceslau Brás, que havia sido governador de Minas Gerais. Com a aproximação das eleições presidenciais e a expectativa de que Brás concorresse, a visita também tinha caráter político. Tamanha comoção atraiu jornalistas de diversos jornais e revistas que reportavam diariamente sobre o andamento dos trabalhos realizados pelos cientistas. Contudo, o dia do eclipse foi marcado pelo tempo nublado e por uma forte chuva que impediu qualquer observação. A frustração dos experimentos gerou charges e comentários bem-humorados nos jornais brasileiros. No entanto, isto não significa que o evento foi um completo fracasso do ponto de vista científico, pois a reunião de astrônomos estrangeiros e brasileiros em Passa Quatro fomentou a colaboração internacional, contribuiu para o aumento do interesse pelo estudo dos eclipses e para a divulgação da astronomia no país.

Na fotografia em preto e branco vemos, na fileira inferior: Gualter Soares, Carlos Morize, James Worthington, Henrique Morize, Jaromir Kralicek, Mário de Souza e Augusto Lancasame. Acima: Domingos Costa, Theophilo Lee, Alix Lemos, Charles Davidson, Marc Ferrez, Milan Stefanik, Arthur Eddington, John Atkinson e Antônio Ferreira da Silva. Em pé: Pierre Seux, Rodolpho Hess, Olyntho de Aguirre e Leslie Andrews. Foto tirada em Passa Quatro, Minas Gerais, por ocasião do eclipse total do Sol de 1912.

Fotografia da expedição para observação do eclipse solar em Passa Quatro em 1912

Observação do eclipse total do Sol de 10 de outubro de 1912 em Passa Quatro

No final do século XIX diferentes instituições científicas desenvolviam pesquisas sobre fenômenos atmosféricos e sua relação com a saúde pública. À época os estudos sobre climatologia ganhavam corpo, intensificando-se na virada do século XX com as grandes reformas urbanas do Rio de Janeiro. A gestão pública estava preocupada com o inchaço populacional crescente e com a ausência de habitações salubres, fatores que comprometem a circulação do ar e incentivaram doenças.À época, o Imperial Observatório Nacional&nbsp; também se ocupou da relação entre o ar e a saúde pública, publicando na sua Revista do Observatório, artigos e ilustrações sobre experimentos que identificaram partículas nocivas à saúde, em algumas regiões do Rio de Janeiro. Esses estudos foram conduzidos pelo médico sanitarista Antônio Martins de Azevedo Pimentel (1844-1928), profissional que participou da Comissão Exploradora do Planalto Central, missão liderada pelo Observatório Nacional em 1892.Com a imagem apresentada, o médico Pimentel identificou 14 elementos microscópicos, coletados na casa de número 128, da rua Ana Nery, na região de São Cristóvão. A residência estava distante cerca de 20m da Estrada de Ferro Dom Pedro II. Trata-se de um estudo inicial sobre as poeiras do Rio de Janeiro visando verificar a qualidade do ar nas regiões mais afastadas do perímetro urbano. O médico identificou que a poeira coletada era formada por materiais heterogêneos e devia-se a uma diversidade de fatores: regime dos ventos, vegetação e desmatamento do solo, localização do experimento e a presença de meios de transportes na região.A coleta foi feita nos dias 3, 4 e 5 de dezembro de 1888, e a amostra não chamou atenção do médico, pois os elementos identificados, com frequência, eram poeiras em geral. No entanto, o médico ficou surpreso com a abundância de substâncias minerais na amostra, como o quartzo e a mica, sendo esta informação importante para a higiene pública da época.Afinal, era costume à época remover os doentes dos núcleos urbanos para áreas menos povoadas, conhecidas como “arrabaldes”, e com menor poluição do ar. Fazia-se isso, sobretudo, com doentes pulmonares que precisam de ares puros para recuperação. Geralmente ficavam hospedados em casas próximas das estradas de ferro para facilitar a locomoção do centro urbano até o subúrbio.No entanto, o médico Pimentel não via com “bons olhos” essa prática e, após evidência científica, alertava que essas localidades não são apropriadas para pessoas com doenças respiratórias. Partículas minerais microscópicas, lançadas pelos trens, são nocivas à saúde, e podem viajar nas correntes de ar por longas distâncias até fazerem vítimas. Uma vez aspiradas, as partículas irritam as mucosas do aparelho respiratório agravando o estado do enfermo. O médico sugere que os doentes se fiquem pelo menos 100m distante da estrada de ferro para evitar exposição às “imundícies atmosféricas”, termo que o médico pegou emprestado do químico francês Jean-Baptiste Joseph Dieudonné Boussingault (1802-1887).O estudo do doutor Pimentel sobre a qualidade do ar e a relação com a saúde pública, nos mostra como o campo da microbiologia, “a ciência dos micróbios”, ganhava cada vez mais espaço naquele contexto. Demonstra, também, que o Imperial Observatório além de cumprir diferentes demandas no campo da astronomia e ciências afins também buscava oferecer suporte científico para as decisões no campo da higiene pública.

A imagem faz parte da Revista do Observatório Nacional de 1889, ano IV, n. 1, e encontra-se no artigo intitulado Micrographia Atmosférica, entre as páginas 8 e 9 da publicação. Trata-se de uma ilustração científica, impressa em papel, retratando um experimento realizado pelo médico Antonio Pimentel. Descreve uma placa de vidro octogonal com achados microscópicos. A imagem é acompanhada de legenda identificando o local da coleta dos dados, a casa n. 128 da rua Ana Nery, na região do São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A legenda identifica cada corpo, com pequenas dimensões, descritos na seguinte ordem: 1. Criptogramas desenvolvidos. 2. Criptogramas unicelulares. 3. Pólens. 4. Grãos de amido. 5. Cristais atmosféricos. 6. Pelo de borboleta. 7. Substância resinosa. 8. Pelos vegetais diversos. 9. Corpúsculos minerais amorfos e cristalinos (quartzo, mica etc.). 10. Fragmento de inseto. 11. Esporos celulares e elípticos de várias cores. 12. Fibra de lã. 13 Fibra de linho. 14. Cadáver infusório [?] células epiteliais. A imagem é assinada pelo autor do experimento e artigo.

Ilustração de análise micrográfica do ar feita no São Cristóvão, Rio de Janeiro

Detecção de minerais nocivos no ar feita pelo médico Antonio Pimentel no Rio de Janeiro

O cometa Bennett foi descoberto em 28 de dezembro de 1969 pelo astrônomo amador John Caister Bennett, em Pretória, África do Sul. Daí em diante, vários observatórios pelo mundo passaram a monitorar cada movimento do astro, repassando à imprensa informações do viajante cósmico.No Brasil, o primeiro registro do Bennett foi feito pelo Observatório Nacional, no dia 10 de janeiro de 1970, por meio da Luneta Equatorial 46 cm, antes do pôr-do-sol. Segundo o astrônomo Ronaldo Mourão (1990, p.15), à época pesquisador da instituição, o astro era um dos “mais brilhantes e belos” cometas já registrados e, no dia 20 de março daquele ano, já em periélio, o cometa alcançava brilho máximo formando uma longa cauda gasosa. Na ocasião, o posicionamento do astro também foi determinado, a distância em relação à Terra estabelecida (140 milhões de km) e, no núcleo, identificou-se jatos em espiral que contribuíam para a sua luminosidade. O cometa ainda viria a ser observado no país por vários astrônomos, profissionais e amadores, como Nelson Travinik, do Observatório Flammarion, em Matias Barbosa – MG, e o Pe. Jorge Polman, em Recife – PE.No entanto, este cometa possui algumas particularidades que o tornam especial na coleção de astros viajantes já identificados. E nem estamos falando de sua órbita longa, onde é estimado seu retorno no ano de 3.600! Ao lado do cometa Tago-Sato-Kosaka, descoberto no mesmo ano de 1969, o Bennett foi um dos primeiros cometas a ser observado diretamente do espaço, por meio de satélites. Primeiro, tentou-se recolher dados e fotografar o cometa diretamente da espaçonave Apollo 13 que seguia em viagem até a lua, missão interrompida por falhas técnicas que culminaram na dramática, porém exitosa, volta da tripulação para a Terra antes do tempo previsto. A missão de estudar o Bennett nos confins do espaço ficou à cargo das sondas Orbiting Geophysical Observatoris 5 (OGO5) e Vela 5 que atuavam na transmissão e registro de dados sobre a estrutura do sol e os seus efeitos para a Terra.Estas sondas, de forma pioneira, captaram várias fotografias em infravermelho e recolheram dados do cometa ao aproximar-se do periélio, ajudando a ciência cometária avançar algumas casas. Desses estudos, destacam-se: a descoberta de uma grande nuvem de hidrogênio ao redor do núcleo, com cerca de 13 milhões de km2, algo que conferia ao astro uma imponente "cabeleira" seis vezes maior que a Terra! Outra descoberta importante relaciona-se à real interação do "vento solar" nos cometas, ajudando, à época, consolidar a ideia atualmente bem aceita de que o fenômeno era responsável pela formação e propagação das caudas dos cometas, e determinante no modo como visualmente aparecem no céu.

Fotografia do cometa Bennett observado por meio de uma Câmera Taylor acoplada à luneta Equatorial de 46cm.Algumas estrelas foram identificadas no espaço de observação e a configuração escolhida forma uma figura geométrica chamada polígono. Este recurso é utilizado para determinar a posição do cometa.

Fotografia da passagem do cometa Bennett produzida em 1970 no Observatório Nacional

A passagem do cometa Bennett registrada por lunetas e satélites em 1970

Em fevereiro de 1889 o médico Antonio Pimentel publicou um artigo na Revista do Observatório apresentando os resultados de um experimento realizado dois meses antes. Ele buscava avaliar a qualidade do ar de algumas regiões do Rio de Janeiro e sua possível relação com o surgimento de doenças na cidade. Para isso, coletou amostras de ar nas regiões do Andaraí e São Cristóvão, e identificou partículas microscópicas por meio de duas ilustrações científicas.Estudos como esses ganhavam cada vez mais espaço nas instituições científicas na segunda metade do século XIX e início do XX, uma vez que a população do Rio de Janeiro convivia com diferentes doenças e, muitas vezes, com causas desconhecidas.Na primeira placa de vidro estão retratadas as partículas microscópicas coletadas em uma casa do Andaraí, além do rio Maracanã. A temperatura média nos dias que a amostra foi formada ficou em 26º. Não houve surpresas no resultado, já que foram detectadas partículas heterogêneas e já conhecidas. Chamou atenção, apenas, um “corpúsculo ovoide”, com 16 filamentos, identificado como “cadáver de animal”, segundo o médico.Já na segunda placa de vidro, encontra-se o resultado da coleta de partículas em uma casa da rua São Cristóvão, na região de mesmo nome. A temperatura média no período da coleta foi de 27º, 8. Chamou atenção a diversidade de microrganismos encontrados, alguns deles nocivos à saúde, sugerindo uma forte relação entre as doenças e o meio ambiente.A hipótese para esta&nbsp; ocorrência relacionava-se à abundância de microrganismos na região resultantes de dois fatores: ao pântano ali existente em épocas passadas, aterrado&nbsp; sucessivas vezes com lixo, e ao tráfego de carruagens pela rua. Segundo explica o médico, a lama seca naquele período do ano produz poeira que, levada pelo vento, poderia contaminar os alimentos e a água de uso doméstico. Um dos principais responsáveis pela poeira era o fluxo de cortejos fúnebres na rua, seguindo em direção à Praia de São Cristóvão, onde, em frente, erguia-se o Cemitério São Francisco Xavier (Cemitério do Caju).&nbsp;&nbsp;O estudo do médico Pimentel nos remete a um contexto mais amplo: as transformações urbanas na cidade e as mudanças nos modos de compreender as causas das doenças. A região pantanosa mencionada era, desde o século XVII, conhecida como Lagoa do Curtume. Na verdade, era um braço de mar que avançava da Baía da Guanabara até a região que hoje atravessa as avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas.&nbsp;Ao longo do século XIX as causas de muitas doenças, como malária, febre amarela, febres em geral, eram atribuídas a vapores vindos de regiões pantanosas, de lixo acumulado, cemitérios etc. A aceitação da microbiologia, ao longo do tempo, permitiu dizer que várias doenças eram causadas por microrganismos, e não agentes obscuros como esses “vapores”.O médico Pimentel encontra-se em um momento importante na história das ciências e da saúde, na qual teorias sobre as causas das doenças se mesclam, convivem e não se excluem. Apesar de estar antenado às ideias da microbiologia, referindo-se a Pasteur e Pettenkofer como referências teóricas importantes para sua atuação como médico, o seu olhar ainda se volta para partículas suspensas no ar que podem se disseminar e causar novas doenças.&nbsp;

A imagem impressa em papel é formada por duas ilustrações, retratando dois experimentos, realizados pelo médico Antonio Pimentel. Referem-se a duas placas de vidro, em formato octogonal, reunindo partículas microscópicas encontradas nas regiões do Andaraí e São Cristóvão, no Rio de Janeiro. As imagens fazem parte do artigo Micrografia Atmospherica publicado pelo médico na Revista do Observatório. A segunda placa de vidro desenhada é acompanhada de legenda identificando as partículas encontradas na região de São Cristóvão. São elas: 1. Criptogramas desenvolvidos. 2. Criptogramas unicelulares e esporos diversos. 3. Pólens. 4. Grãos de amido. 5. Corpúsculos atmosféricos cristalizados. 6 e 7. Pelos e fragmentos de pelos de borboleta. 8. Pelo de inseto. 9. Fragmento de antena ou pata de inseto. 10. Massas de matéria resinosa em que se veem corpúsculos resinosos inteiramente negros, cristais, carvão, destroços minerais, algas etc. 11. Corpúsculos minerais amorfos e cristalinos (quartzo e mica). Traqueia de vegetal. 13. Fragmentos de algas de água doce (conferváceas). 14 e 15. Formas diversas de mucedíneos comuns. 16. Cadáver de um anima [?]. Helmintos nematoides. 18. Amiba seco.

Ilustração de análise micrográfica do ar realizada no Andaraí Grande e em São Cristóvão -RJ

Detecção de microrganismos no ar nas regiões do Andaraí e São Cristóvão, no Rio de Janeiro

Os cometas são astros viajantes que percorrem os confins do sistema solar despertando a atenção dos expectadores de fenômenos cósmicos. Por diferentes motivos, o mais famoso deles é o cometa Halley, visível no céu da Terra a cada 75-76 anos e que já foi alvo de muito estudos e superstições. No entanto, existe uma infinidade de cometas pouco conhecidos no espaço e que são objeto de estudo de astrônomos amadores e profissionais. Um deles é o cometa West, cujo nome científico é C/1975 V1, e foi descoberto em novembro de 1975 pelo astrônomo dinamarquês Richard Martin West (1941). Richard West analisava várias placas fotográficas realizadas no European Southern Observatory (ESO), em La Silla, Chile, no projeto Southern Sky Atlas. Utilizando um lote de placas em particular, identificou o rastro de um objeto celeste que poderia ser um cometa, na constelação Microscopium. Cálculos posteriores, feitos com a colaboração dos astrônomos Guido Pizarro e Brian G. Marsden, confirmaram que se tratava de um cometa de grandes dimensões e que alcançaria elevada magnitude em março de 1976. Naquele mês, o astro ficaria mais próximo do sol (periélio), algo que dá aos cometas maior iluminação e uma espécie de rastro geralmente visível para nós na Terra. São os efeitos do “vento solar”, onde partículas eletricamente carregadas do corpo celeste ficam em agitação com o calor e a luz do Sol. O fenômeno causa, também, desprendimento das partículas geladas do cometa para longe do seu núcleo contribuindo na formação de sua “cauda”.&nbsp;Apesar de ser classificado como um “grande cometa” e um dos mais promissores em visibilidade, devido ao seu brilho, o cometa West não ganhou tanta repercussão na mídia à época. Um dos motivos para essa baixa popularidade foi o receio dos cientistas e da imprensa frustrarem a população, pois nos anos anteriores o cometa Kohoutek foi anunciado como um grande evento nos céus da Terra, mas sua visibilidade foi baixa.No Brasil, o cometa West recebeu pouca atenção da imprensa, mas astrônomos do Observatório Nacional acompanhavam sua trajetória atentamente. Também estava atento à fase de maior visibilidade do West o astrônomo amador Nelson Alberto Soares Travnik em um pequeno observatório na Zona da Mata de Minas Gerais, no município de Matias Barbosa. Pouco conhecido, o Observatório Astronômico Flamarion, aguardava a passagem do cometa com seu Telescópio Meniscas Maksutov, 150 mm,&nbsp;Óptica Carl Zeiss, e câmera acoplada.Em 12 de março de 1976, Travnik obteve os primeiros registros fotográficos do cometa West no céu do Brasil. Esta contribuição científica foi adicionada ao repertório do pequeno observatório, mantido desde 1954 com poucos recursos, e que no mesmo ano veio a encerrar suas atividades mesmo com uma parceria da UFJF estabelecida em 1974. O registro do cometa no país foi oportuno, alicerçando estudos nacionais sobre a trajetória de um astro raro e seu comportamento no hemisfério sul. Enquanto outros astrônomos, como os da ESO, trabalhavam na determinação de outras características do West, como o seu período orbital estabelecido em cerca de 254 mil anos! Com esta previsão, já ficamos informados que o viajante West vai demorar alguns milênios para voltar a brilhar no céu da Terra!

Fotografia em placa de vidro. Imagem produzida em 12 de março de 1976 por uma câmera astrofotográfica Zeiss Tessar 56/250mm. A autoria do registro é do astrônomo amador Nelson Alberto Soares Travnik, um dos fundadores do Observatório Flammarion de Matias Barbosa, onde a imagem foi registrada. Durante a passagem do cometa West, o observatório contava com apoio institucional da UFJF. A imagem é acompanhada de dados técnicos elaborados durante a observação do cometa: ascensão reta 21h 21m 30s; declinação +9g 22' 00''. Quanto às coordenadas, 07'' 45' TU, provavelmente relacionam-se ao Equador e Equinócio da data do registro.

Fotografia da passagem do cometa West em Matias Barbosa, Minas Gerais

A passagem do cometa West pelo céu de Minas Gerais em 1976

Nascido no País de Gales, Alfred Russel Wallace teve uma
infância tradicional em uma família de classe média britânica até que
investimentos mal-sucedidos de seu pai trouxeram o risco de falência aos
Wallace. A partir de então, deixou os estudos para começar a trabalhar com seu
irmão, William, no ramo de agrimensura e topografia, aprendendo sobre
cartografia e geologia. Aos 21, mudou-se para a cidade de Leicester, na Inglaterra,
onde conseguiu um emprego como professor. Lá, conheceu Henry Walter Bates e,
juntos, dedicaram-se ao estudo da História Natural e ao planejamento de uma
expedição científica com destino ao Brasil, inspirados parcialmente no relato
da viagem do entomólogo William Edwards. A dupla partiu da Inglaterra em 1848,
chegando ao Pará em 26 de abril. Depois de alguns meses residindo em Belém, Bates e Wallace
se separaram. Enquanto Bates iria seguir viagem até o curso do Rio Solimões, Wallace
viajaria até o Rio Negro, cujo mapa traçou e apresentou para a Real Sociedade
de Geografia de Londres. A sua experiência com topografia e cartografia
certamente o ajudaram e seu mapa ganhou notoriedade nos círculos científicos
ingleses permanecendo, por muito tempo, como a única referência que os europeus
possuíam sobre o Rio Negro.Ao longo dos quatro anos que permaneceu no Brasil, Wallace
coletou espécimes de animais e plantas, enviou coleções para seu agente Samuel
Stevens em Londres, registrou sua experiência com a população local e suas
observações sobre a natureza. Grande parte desse material, no entanto, foi
perdida no naufrágio do navio em que retornava para a Inglaterra. A partir das
anotações que conseguiu preservar e do que guardava na memória, escreveu sobre os
macacos da região amazônica, sobre o Rio Negro e publicou dois importantes
livros.Em A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro,
publicado em 1853, detalhou sua experiência no Brasil em formato de relato de
viagem. No livro, incluiu um mapa do Rio Amazonas e informações sobre sua
passagem por locais como Cametá, Baião, Marajó, Monte Alegre, Santarém, Óbidos,
Vila Nova, Manaus, entre outros. Em seus trajetos, percorreu rios como o Mojú,
o Uaupés, o Guamá, o Capim e o Negro.Também em 1853, publicou Palm trees of the Amazon and
their uses, especialmente dedicado a descrever, ilustrar e relatar os usos
tradicionais das palmeiras que encontrou na região amazônica. De acordo com
Wallace, o apoio da população indígena foi essencial para que aprendesse a
diferenciar as palmeiras brasileiras e conhecesse os usos que se fazia de cada
espécie. Ao todo, o livro contém os nomes botânicos, nativos, usos e descrições
de 48 espécies diferentes divididas por gênero.Com os indígenas, Wallace não aprendeu apenas sobre as
palmeiras, mas também conheceu seus métodos de caça, pesca e navegação,
recolheu informações sobre os habitats, hábitos e usos das espécies locais,
registrou informações sobre seus costumes e compilou um vocabulário com a
tradução de palavras do inglês para a língua geral e dez idiomas indígenas.
Também registrou em seu livro de viagem uma série de pinturas rupestres que
encontrou desenhadas nas rochas graníticas próximas do Rio Uaupés.Após o seu retorno para a Inglaterra, planejou uma nova
expedição, dessa vez ao Arquipélago Malaio, onde faria observações que o
possibilitariam contribuir para o estudo da distribuição geográfica dos animais
e para a teoria da evolução pela seleção natural.

Ilustração intitulada "Capela em Nazaré, próxima ao Pará" publicada na página 14 do livro de viagem A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, de autoria do naturalista britânico Alfred Russel Wallace, publicado em 1853. A imagem apresenta três homens em primeiro plano, do lado esquerdo da composição. Enquanto dois estão de pé, um terceiro está sentado ao chão. O trio aparenta conversar, frente a algumas moradias que ladeiam todo o campo esquerdo da imagem. Ao fundo, observa-se a Capela de Nossa Senhora, em Nazaré, no Pará. Levando em consideração o relato de viagem de Wallace e de outros viajantes que estiveram no Pará no mesmo período, é possível imaginar que os três homens ilustrados possam representar o próprio Wallace, seu colega de viagem durante os meses iniciais da expedição, Henry Walter Bates, e o naturalista Richard Spruce, que também esteve na região na mesma época e encontrou-se com os dois naturalistas.

Naturalistas em frente a uma capela em Nazaré, no Pará

Mapa identificado como Prancha II, encontrado no frontispício da segunda edição do livro A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro de autoria do naturalista britânico Alfred Russel Wallace, publicado em 1889. O mapa, intitulado Mapa do Rio Amazonas e da parte norte da América do Sul apresenta o curso do Rio Amazonas, bem como alguns de seus afluentes. O mapa inclui a localização dos territórios da Venezuela, do Equador, do Peru, da Bolívia e das regiões onde encontram-se atualmente a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. O mapa detalha a malha fluvial da região, incluindo o nome de algumas cidades, e foi desenhado por Alfred Wallace após sua expedição científica pelo Brasil entre 1848 e 1852, a partir de suas observações e de informações obtidas por meio de outros livros e mapas, além das populações locais com as quais teve contato no país.

Mapa do Rio Amazonas e do norte da América do Sul por Alfred Wallace

Ilustração identificada como Prancha XV, encontrada entre as páginas 360 e 361 da segunda edição do livro A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro de autoria do naturalista britânico Alfred Russel Wallace publicado em 1889.A ilustração representa um conjunto de pinturas rupestres encontradas pelo viajante-naturalista nas rochas graníticas nas margens do Rio Uaupés durante sua expedição pelo Brasil entre 1848 e 1852. De acordo com o naturalista, as figuras estavam pintadas em coloração vermelha nas rochas das serras de Monte Alegre, sendo também encontradas próximo de Serpa e na desembocadura do Rio Branco. De acordo com Wallace, as pinturas, que representam figuras humanas e animais, eram atribuídas pelos nativos aos espíritos, enquanto alguns comerciantes brasileiros acreditavam ser obra divina. Estudos de datação por radiocarbono, realizados pela arqueóloga Anna Roosevelt em 1995, apontaram que as pinturas imortalizadas por Wallace em seu livro de viagem datavam de cerca de 11 mil anos atrás, sendo provavelmente vestígios de uma das primeiras ocupações humanas no continente americano. Posteriormente, em 2014, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, coordenados pela arqueóloga Edithe Pereira, encontravam novas evidências que apontam que as pinturas encontradas nos sítios arqueológicos em Monte Alegre podem ter começado por volta de 12 mil anos atrás.

Conjunto de pinturas rupestres encontradas por Alfred Wallace no Rio Uaupés

Ilustração identificada como Prancha XVI, encontrada entre as páginas 362 e 363 da segunda edição do livro A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro de autoria do naturalista britânico Alfred Russel Wallace publicado em 1889.A ilustração representa um conjunto de pinturas rupestres encontradas pelo viajante-naturalista nas rochas graníticas nas margens do Rio Uaupés durante sua expedição pelo Brasil entre 1848 e 1852. De acordo com o naturalista, as figuras estavam pintadas em coloração vermelha nas rochas das serras de Monte Alegre, sendo também encontradas próximo de Serpa e na desembocadura do Rio Branco. De acordo com Wallace, as pinturas, que representam figuras humanas e animais, eram atribuídas pelos nativos aos espíritos, enquanto alguns comerciantes brasileiros acreditavam ser obra divina. Estudos de datação por radiocarbono, realizados pela arqueóloga Anna Roosevelt em 1995, apontaram que as pinturas imortalizadas por Wallace em seu livro de viagem datavam de cerca de 11 mil anos atrás, sendo provavelmente vestígios de uma das primeiras ocupações humanas no continente americano. Posteriormente, em 2014, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, coordenados pela arqueóloga Edithe Pereira, encontravam novas evidências que apontam que as pinturas encontradas nos sítios arqueológicos em Monte Alegre podem ter começado por volta de 12 mil anos atrás.

Segundo conjunto de pinturas rupestres encontradas por Alfred Wallace no Rio Uaupés

Expedição de Alfred Russel Wallace pela Amazônia

Em artefatos e natureza, pretendemos evidenciar as relações entre o natural e o artificial. Entre os artefatos, destacam-se os instrumentos científicos que permitem, por exemplo, observar tanto aquilo que é invisível ao olho nu, como os átomos, quanto aquilo que se encontra muito distante de nós, como as estrelas. Ao mesmo tempo, também podemos considerar como artefatos as representações da natureza, como desenhos e gráficos.

Artefatos e Natureza

Artefatos que permitem estudar, representar e organizar a natureza.

A segunda metade da década de 1860 foi marcada pelo maior conflito bélico acontecido na América Latina: a Guerra da Tríplice Aliança, também conhecida como Guerra do Paraguai. Entre 1864 e 1870 a atenção do governo brasileiro estava voltada para os esforços de guerra e, por isso, instituições como o Observatório Nacional, na época Imperial Observatório do Rio de Janeiro e associado à Escola Militar, sofriam com falta de recursos e de pessoal. Apesar disso, seu diretor, o engenheiro e tenente-coronel Antônio Manoel de Mello, organizou e liderou uma expedição científica para a observação do eclipse do Sol previsto para 25 de abril de 1865. Acompanhado por Cândido Batista de Oliveira, do Corpo de Engenheiros da Academia Militar e pelo militar Antônio Joaquim Curvelo d'Ávila, o grupo se dirigiu para Camboriú, no litoral de Santa Catarina, onde a observação do fenômeno foi prejudicada pela chuva, o que inviabilizou os estudos. Por esse motivo, nenhum relatório oficial foi publicado. Na sede do Observatório, no Rio de Janeiro, Camilo Maria Ferreira Armond, que futuramente seria diretor da instituição, teve melhor sorte. Embora a capital do Império estivesse situada no limite da área onde era possível observar a totalidade do eclipse e o tempo nublado tenha prejudicado a observação, o barão de Prados conseguiu coletar informações que publicou posteriormente no periódico da Academia de Ciências de Paris descrevendo os aspectos do Sol e da Lua no dia, bem como os efeitos do eclipse sobre a luminosidade e a temperatura.O eclipse também despertou o interesse de membros do Instituto Politécnico Brasileiro, que viajaram para locais diferentes com o objetivo de observar a ocultação. Enquanto o engenheiro e naturalista Guilherme Schüch, barão de Capanema, se preparou para o evento no farol localizado em Cabo Frio, José da Costa Azevedo, barão de Ladário, permaneceu em sua residência no Rio de Janeiro, João Soares Pinto fez suas observações da atual Ilha Fiscal, também na capital, e Baptista Caetano de Almeida Nogueira viajou para Barra do Piraí. Esse vasto grupo de cientistas acreditava que a observação do eclipse poderia contribuir com dados que permitissem melhor calcular a posição do meridiano do Observatório do Rio de Janeiro, tema que causava controvérsia na época, uma vez que não havia consenso sobre os cálculos realizados pelo astrônomo Emmanuel Liais durante sua observação do eclipse de 1858. A questão do meridiano não era significativa apenas cientificamente, mas também tinha importância política, pois influenciava na demarcação das fronteiras do território nacional.O eclipse foi observado, ainda, em dois outros pontos do Rio de Janeiro. Recém-chegado ao país por conta da Expedição Thayer, organizada com o objetivo de realizar observações e reunir espécimes que permitissem refutar a teoria da seleção natural proposta por Darwin e Wallace, o naturalista de origem suíça Jean Louis Rodolphe Agassiz visitava o palácio do Imperador Pedro II em São Cristóvão onde, juntos, tentaram observar o fenômeno. Embora as nuvens tenham prejudicado a visibilidade do eclipse, Agassiz fez observações sobre o comportamento das aves durante o fenômeno, publicadas em seu livro de viagem. A bordo do navio, que ainda se encontrava atracado no porto da cidade, a esposa do naturalista, a estadunidense Elizabeth Cabot Agassiz teve uma visão privilegiada do evento e escreveu que a natureza parecia lhe dar boas-vindas com um fenômeno tão bonito e fora do comum.

Ilustração representando o eclipse solar total de 25 de abril de 1865 observado no Rio de Janeiro. Na gravura de Yan' Dargent, publicada na página 163 do livro "O espaço celeste e a natureza tropical" (1865), de Emmanuel Liais, observamos o momento em que a Lua encontra-se completamente à frente do Sol, sendo visível apenas a coroa solar em um fundo completamente escuro. A imagem ilustra o capítulo 6 da obra, em que o eclipse é descrito.

Ilustração do eclipse total do Sol de 1865

Observação do eclipse total do Sol de 25 de abril de 1865 no Rio de Janeiro

A terra é revestida por um grande campo magnético que nos protege de partículas elétricas vindas do Sol, mantém a atmosfera como conhecemos e interfere na vida dos seres vivos em geral. A abordagem científica sobre esta interferência começou há cerca de 60 anos com estudos realizados em microrganismos. Atualmente já se sabe que o fenômeno influencia aspectos como a migração e o comportamento de animais, interferindo até no deslocamento de bactérias que seguem as linhas do norte ou sul geomagnético do planeta.Esses organismos foram identificados em 1958 pelo microbiologista Salvatore Bellini, e apresentados à comunidade científica em 1975 pelo cientista Richard P. Blakemore. São bactérias que vivem em regiões aquáticas e são sintetizadoras de partículas magnéticas de ferro por meio de uma membrana chamada magnetossoma. Esse composto ferroso funciona como uma “bússola” interna, e dá a esses microrganismos a capacidade de viajar orientados pelo campo geomagnético, propriedade denominada magnetotaxia. O movimento é realizado por meio de flagelos ou cílios que impulsionam o organismo no meio aquoso.O químico Jacques Danon, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), foi responsável por trazer o tema das bactérias magnetotáticas para o Brasil. Em 1980, Danon e os cientistas Richard Barry Frankel (California Polytechnic State University), Flavio Torres de Araújo (Universidade Federal do Ceará), Darci Motta de Souza Esquivel e Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros, ambos do CBPF, identificaram a primeira bactéria magnetotática no país. O microrganismo foi encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro e, posteriormente, iniciaram-se estudos em localidades mais próximas à linha do Equador, no Ceará, que também comprovaram a existência desses seres magnetotáticos. O biofísico Marcos Farina de Souza, autor da imagem apresentada, integrou o grupo de cientistas em seguida, somando esforços no trabalho de pesquisa e registro dos achados.Nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas foram realizadas várias observações microscópicas, que resultaram na imagem em destaque, para entender a morfologia e dinâmica dos movimentos das bactérias. Naquele início de década, tais estudos reforçaram a tese de que as bactérias encontradas no hemisfério norte se deslocam paralelamente às linhas do campo geomagnético em direção ao norte. Já aquelas encontradas no hemisfério sul, como as provenientes da Lagoa Rodrigo de Freitas, moviam-se em direção ao sul geomagnético. Quanto às bactérias próximas à linha do Equador, as pesquisas concluíram que a migração ocorre para ambas as direções, e que esses organismos possuem grande adaptabilidade e resistência a possíveis inversões de campos geomagnéticos.Os estudos desenvolvidos à época e, aqueles que viriam depois, formaram um campo de pesquisa consolidado sobre o fenômeno da magnetotaxia no Brasil, sendo fundamental para o entendimento da dinâmica de migração desses microrganismos, sua complexidade, variabilidade e interação com o meio. Além disso, tais pesquisas subsidiaram várias áreas da ciência, pois magnetossomas podem facilitar diagnósticos que utilizam ressonância magnética, transportar fármacos no corpo humano, combater a tumores, e até serem usados na geologia, paleontologia e astrobiologia. Magnetossomas fossilizados, por exemplo, já ajudaram no entendimento das propriedades geomagnéticas do campo da Terra e até nas inversões de seu campo magnético.

Fotografia em preto e branco obtida por meio de microscopia eletrônica de varredura. Mostra uma colônia de bactérias magnetotáticas coletadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Imagem resultante de pesquisas feitas pelo biofísico Marcos Farina de Souza (UFRJ), em colaboração com Darci Motta de Souza Esquivel e Jacques Abulafia Danon, ambos do CBPF. Refere-se a pesquisas sobre o movimento de bactérias orientadas pelo campo geomagnético da Terra.

Fotografia de colônia magnetotática coletada na Lagoa Rodrigo de Freitas para estudo de Morfologia

Os primeiros estudos no Brasil sobre bactérias orientadas pelo campo magnético da Terra

O primeiro eclipse do Sol observável do Rio de Janeiro noticiado pelo Observatório Nacional ocorreu na tarde de 30 de novembro de 1853. A instituição, que na época era conhecida como Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, havia publicado o primeiro número de seu anuário um ano antes. A partir de informações extraídas de duas publicações europeias, o The Nautical Almanac do Observatório Real de Greenwich e o Connaissance des Temps do Observatório de Paris, o diretor do Observatório do Rio de Janeiro, o engenheiro militar Antônio Manoel de Mello e seus ajudantes, os bacharéis Francisco Duarte Nunes e José Francisco de Castro Leal e os oficiais da Armada Jerônimo Pereira de Lima Campos e Francisco da Cunha Galvão, calcularam o momento exato em que alguns eventos celestes poderiam ser observados na capital do Império. Contudo, embora previsto, o eclipse era esperado para iniciar por volta das 17 horas, quando o Sol já estava próximo da linha do horizonte, e o astro teria sua ocultação máxima uma hora depois, já próximo do horário em que deixaria de ser visível. Por esse motivo, as condições de visibilidade estavam longe de ser ideais. Além disso, nessa época a observação de eclipses ainda não atraía muito a atenção dos astrônomos, mais interessados pela área da mecânica celeste. Pela confluência desses fatores, o Observatório Nacional não planejou a observação do eclipse de 1853, diferentemente do que aconteceu com os demais eclipses do Sol ocorridos posteriormente no mesmo século, quando a astrofísica e o desenvolvimento da fotografia tornaram a observação de eclipses mais atraente. Na Europa, a situação não foi muito diferente e os observatórios na Inglaterra e na França, duas das principais potências na astronomia naquele período, também não planejaram a observação do eclipse. É preciso lembrar, no entanto, que ambos os países estavam em guerra naquele momento, contra os impérios Russo e Otomano, respectivamente. Assim, a melhor observação do eclipse de 1853 coube a um astrônomo prussiano que trabalhava no Chile. Karl Moesta era diretor do observatório fundado em 1852 em Santiago e o planejamento de uma expedição para a observação da ocultação do Sol foi uma das primeiras atividades da recém-criada instituição. Também com base nas informações encontradas no The Nautical Almanac, Moesta determinou que o melhor local para observar o eclipse era a cidade de Ica, no Peru. Acompanhado de um assistente do observatório e levando diversos instrumentos científicos, Moesta observou o eclipse, registrou o seu efeito sobre animais e plantas, fez medições das condições climáticas na cidade peruana e publicou um relatório, enviado para o Ministro da Instrução Pública do Chile em março de 1854, no qual anexou um desenho que fez logo após o término do fenômeno.

Na página 271 das "Ephemerides do Imperial Observatório Astronômico para o anno de 1853" observamos um quadro com informações referentes ao eclipse total do Sol previsto para o dia 30 de novembro de 1853, que foi parcialmente visível na cidade do Rio de Janeiro. São apresentados dados posicionais e os horários de princípio, máximo e fim do eclipse. O quadro faz parte do capítulo sobre eclipses do Sol e da Lua previsto para aquele ano.

O eclipse solar de 1853 nas Efemérides do Imperial Observatório Astronômico

Observação do eclipse total do Sol de 30 de novembro de 1853 no Rio de Janeiro

teste O babaçu é uma palmeira encontrada na área de transição entre a Amazônia, o Cerrado e o Nordeste do Brasil, muito comum nos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Seu nome científico é Attalea speciosa e no interior de seu fruto encontram-se amêndoas da qual se extrai um óleo que pode ser usado na alimentação, em remédios e cosméticos. Do mesocarpo do babaçu é possível obter farinha amilácea que, por meio de processamento adequado, torna-se a base para a produção de álcool etílico.No Brasil, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) foi pioneiro na realização de trabalhos para utilização de vegetais como combustíveis, e foram considerados potenciais o trigo, a cana-de-açúcar, a mandioca, a mamona, entre outros. Esses estudos têm sua gênese ligada ao Acordo do Trigo Brasil - EUA, entre os anos de 1962-1967, onde o Laboratório de Amido do INT recebeu recursos do Departamento de Agricultura dos EUA para pesquisar o amido de diferentes matérias-primas brasileiras. Além disso, este interesse foi motivado pela crise do petróleo dos anos 70 do século passado, onde o governo brasileiro buscou alternativas para os custos elevados dos derivados de combustíveis fósseis. Nessa lógica, o etanol tornou-se uma possibilidade devido sua diversidade e disponibilidade de matéria-prima vegetal no Brasil .Desde 1967 estava na direção do Laboratório de Amido do INT a cientista Feiga Rosenthal, química formada pela Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Atenta ao contexto de busca por formas alternativas de produzir combustíveis, e ligada ao Programa Nacional do Álcool, a cientista a partir de 1970 viu no pouco conhecido babaçu a possibilidade de aproveitamento de seu mesocarpo para produzir álcool.Feiga e outros pesquisadores do INT trabalharam no desenvolvimento de tecnologias para o melhor aproveitamento do babaçu em escala piloto, simulando as condições reais de operação em escala reduzida, visando a produção industrial em um futuro próximo. Por meio de acordos firmados com companhias locais para fornecimento de matéria-prima, entre elas a TOBASA Bioindustrial, em Tocantins, mas também programas governamentais no Maranhão e Piauí, os resultados dos estudos desenvolvidos demonstraram que o álcool produzido era de excelente qualidade. Especificamente à Feiga atribui-se o estudo do processo de hidrólise da farinha amilácea, e consequente transformação em açúcares, glicose e maltodextrinas. Com isso, a pesquisadora deixava grande contribuição para o processo de industrialização deste abundante fruto da palmeira, e algumas patentes registradas.O babaçu ainda é pouco conhecido em várias localidades do Brasil, mas são inúmeros os produtos e serviços derivados dos babaçuais espalhados pelos seus estados de origem. O extrativismo da palmeira, por exemplo, contribui para os meios de vida de povos e de comunidades tradicionais, mas também de agricultores familiares.

Fotografia em preto e branco mostrando a química Feiga Rebeca Tiomno Rosenthal operando máquina de purificação e clarificação de amido de babaçu, no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em 1975. A imagem também foi reproduzida em publicação de sua autoria intitulada "O amido de coco babaçu: nova agroindústria" (1975).

Fotografia de Feiga Rosenthal operando máquina de purificação e clarificação de amido de babaçu

Fotografia em preto e branco mostrando testes para a produção de álcool babaçu, em usina na cidade de Lorena, São Paulo. Em destaque, a química do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Feiga Rebeca Tiomno Rosenthal, responsável pela condução dos experimentos. Na ocasião, a cientista realiza testes para produção de Álcool de babaçu em usina da Fundação Tecnológica Industrial (FTI), atual Escola de Engenharia de Lorena - SP (EEL-USP).

Fotografia de testes para produção de álcool de babaçu em usina piloto em Lorena - São Paulo

Os primeiros estudos sobre o uso do babaçu para a produção de álcool no Brasil

Nascido em Leicester, um dos polos industriais da Inglaterra Oitocentista, Henry Walter Bates abandonou o prospecto de uma carreira no ramo têxtil para dedicar-se à História Natural. Desde cedo, o jovem Bates coletava insetos nas florestas dos arredores de sua cidade, dedicando-se especialmente ao estudo dos besouros. Enquanto estudava no Instituto de Mecânica, conheceu Alfred Russel Wallace e, juntos, começaram a planejar uma expedição científica com destino ao Brasil. A leitura de A Voyage up the Amazon including a residency at Pará, do estadunidense William Henry Edwards (1822-1909), foi uma das inspirações para a viagem.Diferentemente de Wallace, que retornou para a Inglaterra após 4 anos, Bates permaneceu no Brasil por um total de 11 anos. Depois de alguns meses de residência em Belém, fazendo excursões para localidades próximas, o naturalista decidiu que seu objetivo seria seguir o curso do Rio Solimões. No entanto, durante sua residência no Brasil, Bates também percorreu o Rio Tapajós, o Rio Cupaí, o Rio Tocantins, o Rio Mojú, o Rio Pará, e visitou locais como Cametá, Baião, Óbidos, Santarém, Vila Nova, Aveiro, Altar do Chão, Manaus, Tefé, São Paulo de Olivença, entre outros. O relato da sua experiência no país foi publicado em 1863, em um livro em dois volumes, intitulado The naturalist on the River Amazons.Seu principal tema de estudo foi a ordem Lepidoptera, que inclui borboletas e mariposas. A partir de suas observações, percebeu que espécies que eram frequentemente caçadas por pássaros podiam adquirir, ao longo de gerações, uma aparência semelhante a de espécies que eram evitadas pelos predadores. Esse tipo de
mecanismo de defesa, hoje conhecido como mimetismo batesiano, foi relatado e ilustrado por Bates em seu livro de viagem. Esta foi uma de suas principais contribuições para a entomologia. Além disso, suas observações apoiaram a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural proposta por Charles Darwin e Alfred Wallace.Durante sua viagem, Bates percebeu a importância de manter uma boa relação com a
população local. Segundo o naturalista, cartas de apresentação cedidas por outros viajantes e autoridades poderiam funcionar bem nos centros urbanos. Porém, no interior, era preciso se “acostumar com os modos de vida das classes mais humildes de habitantes”. Sua convivência com a população local é descrita em seu livro de viagem, onde menciona 221 indivíduos que o auxiliaram tanto com a logística necessária para deslocar-se pela região, quanto com a coleta de espécimes. Além disso, seu livro também contém informações sobre 22 grupos indígenas diferentes. Em uma carta enviada para um amigo na Inglaterra, revelou que considerava os
indígenas mais amigáveis e que mantinha melhores relações com eles do que com os
demais habitantes da região, inclusive os europeus. Além de considerá-los excelentes
navegadores, também destacou a importância dos indígenas para a coleta de espécimes e revelou ter aprendido a caçar usando a zarabatana com Júlio, indígena que identificou como Jurí.Seus cadernos de campo são ricamente ilustrados com desenhos de espécies de insetos da Amazônia e encontram-se hoje na Inglaterra. A maior parte dos espécimes reunidos por Bates hoje faz parte da coleção do Museu de História Natural, em Londres.

Ilustração publicada na página 181 do primeiro volume do livro de viagem The naturalist on the river Amazons de autoria do viajante britânico Henry Walter Bates.A ilustração mostra duas espécies diferentes observadas pelo viajante durante seus onze anos de residência na Amazônia brasileira. Do lado esquerdo, observamos uma mariposa identificada pelo viajante como sendo a Macroglossa titan (atual Aellopos titan) e do lado direito um beija-flor. A mariposa, segundo Bates, imitava a aparência do beija-flor, copiando inclusive seus movimentos ao voar e pousar nas plantas, fazendo com que fossem frequentemente confundidas pelas aves.

Semelhança entre uma mariposa e um beija-flor por Henry Walter Bates

Ilustração publicada no frontispício do segundo volume do livro de viagem The naturalist on the River Amazons de autoria do viajante britânico Henry Walter Bates.A gravura representa um casamento entre os indígenas identificados pelo viajante como Ticuna (Magüta). Durante seu encontro com este grupo, Bates observou uma festa de casamento próxima de São Paulo de Olivença. Durante a festa, que aconteceu próxima do Natal, Bates observou os costumes dos indígenas, descrevendo o cerimonial de matrimônio dos nativos, que incluía uma série de danças realizadas com ornamentados trajes que incluíam máscaras representativas de animais locais.Na ilustração, podemos observar Bates no lado esquerdo da imagem, recebendo uma bebida de uma jovem indígena, enquanto o grupo se concentra no lado direito da ilustração, observando os dançarinos mascarados.

Ilustração de um uma festa de casamento Magüta/Ticuna por Henry Walter Bates

Ilustração publicada na página 279 do segundo volume do livro The naturalist on the River Amazons de autoria de Henry Walter Bates.Na imagem, o viajante representa uma cena ocorrida durante os quatorze dias em que esteve na companhia do delegado de polícia Antônio Cardoso em uma excursão para capturar ovos de tartaruga. Segundo seu relato, o grupo dormia em pequenos "ranchos" durante a noite, acampamentos improvisados próximos das margens dos rios. Ao longo dos dias, os jacarés que frequentavam as águas ficaram gradualmente mais à vontade com a presença dos humanos, passando a aproximar-se cada vez mais. Certa noite, o grupo foi acordado abruptamente pelos latidos de Carlito, um poodle que Antônio Cardoso teria recebido de presente de um amigo do Rio de Janeiro. O cachorro latia para chamar a atenção do grupo para um jacaré que aproximava-se, acordando a todos e causando Cardoso a defender-se atirando madeira em brasa, retirada da fogueira, contra o animal.

Ilustração de uma "aventura noturna com jacaré" por Henry Walter Bates

Mapa representando o Rio Amazonas de sua desembocadura até a fronteira com o Peru publicado no primeiro volume do livro de viagem The naturalist on the river Amazons de autoria do viajante britânico Henry Walter Bates.O mapa contém a identificação de alguns dos afluentes do Amazonas e de localidades próximas do rio, além de um mapa em menor escala da América do Sul mostrando a interiorização do sistema fluvial do Amazonas pelo continente.

Mapa do Rio Amazonas de sua desembocadura até a fronteira com o Peru por Henry Walter Bates

Ilustração publicada na página 259 do primeiro volume do livro The naturalist on the river Amazons de Henry Walter Bates.Na ilustração, o viajante representa espécimes de borboletas de duas espécies: Heliconius melpomene e Heliconius thelxiope. As duas espécies foram objeto de amplos estudos realizados pelo viajante durante os onze anos em que residiu no Brasil. Em Óbidos, Bates coletou vários exemplares da H. melpomene, observando que ela não habitava outras regiões do vale amazônico. O motivo de sua ausência foi inicialmente um enigma para Bates, pois havia observado que as condições da natureza em locais onde a espécie existia não eram muito diferentes daquelas regiões onde não estava presente. No entanto, notou também que, onde não se encontravam exemplares de H. melpomene, uma espécie bastante parecida e aliada estava presente, a H. thelxiope. Ambas possuíam tamanho e formato semelhante, alternando apenas na sua coloração e seus hábitos também eram os mesmos. Bates então concluiu que uma era uma modificação da outra. Em Serpa e Aveiro, próximo de Óbidos, Bates encontrou indivíduos que apresentavam ser formas de transição entre as duas espécies. Na sua interpretação, essa variação era um exemplo observável na natureza da evolução das espécies, sendo um raro exemplo encontrável do processo de derivação que, em geral, é muito lento para ser observado. Além do mais, era ainda mais raro observar as duas espécies diferentes coexistindo em um espaço tão próximo.

Formas de transição entre borboletas das espécies H. melpomene e H. thelxiope por Henry Walter Bates

Ilustração publicada na página 265 do segundo volume do livro The naturalist on the River Amazons de autoria de Henry Walter Bates representando uma cena de pesca por ovos de tartaruga na Amazônia.Na ocasião descrita, o viajante acompanhou um grupo de indígenas reunidos pelo delegado de polícia Antônio Cardoso com o objetivo de capturar ovos de tartaruga em uma região denominada Catuá. Bates escreveu que o sucesso da captura dos ovos de tartaruga dependia dos indígenas que, além de especialistas no comportamento desses animais, eram exímios nadadores e conheciam os melhores lugares para encontrar as tartarugas e sua prole. Foi durante os quatorze dias que permaneceu com o grupo que o viajante observou também a habilidade dos nativos no uso do arco e flecha, além da coragem que possuíam para enfrentar os jacarés que ocasionalmente apareciam nos rios.Na gravura, que em algumas edições do livro de viagem é intitulada "Aventura com jacaré", observamos o naturalista na margem do rio, seguro enquanto segura um pedaço de madeira, pronto para atacar o jacaré, caso necessário. No entanto, aqueles que lidam diretamente com o réptil são os indígenas que, segundo Bates, se divertiam enquanto lutavam com animal. Mais ao fundo, outros indígenas seguram tartarugas enquanto um homem encontra-se em pé em uma embarcação, sendo provavelmente uma representação de Antônio Cardoso.

Ilustração de uma pesca por ovos de tartaruga na Amazônia por Henry Walter Bates

Expedição de Henry Walter Bates pela Amazônia

Durante sua expedição científica pela Amazônia brasileira,
Alfred Russel Wallace dedicou-se ao levantamento hidrográfico do Rio Negro,
afluente do Rio Amazonas, estudando seu trajeto e demarcando-o em um mapa de
sua autoria. Nessa tarefa, a experiência anterior trabalhando no ramo de
agrimensura e topografia junto com seu irmão William certamente garantiam a
Wallace uma compreensão sobre cartografia, geologia e hidrografia que seriam
importantes para garantir um mapeamento preciso do curso do rio.O mapa resultante de suas observações foi publicado
conjuntamente com um mapa do Rio Uaupés no volume 23 do periódico da Real
Sociedade de Geografia de Londres, datado de 1853. Junto com o mapa, Wallace
redigiu uma descrição do Rio Negro, destacando suas águas escuras que “quando
examinas em um recipiente de vidro, aparentam ser ligeiramente tingidas com um
claro marrom café”. Além de informações sobre a profundeza e temperatura das
águas, Wallace informa sobre os períodos de cheia, a qualidade das
rochas, a localização das cidades e comenta, inclusive, sobre seus habitantes
dizendo que “os habitantes das margens do curso principal do rio são
semi-civilizados e se denominam cristãos, mas a maioria dos rios tributários, especialmente
o Uaupés, são habitados por várias tribos de índios não civilizados e não
cristianizados”. Seu mapa inclui, ainda, uma delimitação da região onde se
encontrava salsaparrilha, planta utilizada com fins medicinais, e onde habitavam
diferentes grupos indígenas.É importante destacar que a presença da população indígena
foi fundamental não apenas durante a expedição de Alfred Wallace, mas de
praticamente todos os naturalistas que visitaram a região amazônica. Os
conhecimentos dos povos originários sobre a natureza local, sobre as diferentes
espécies de animais e plantas e seus usos, e a habilidade que possuíam para
navegar pela complexa malha fluvial da região foram fundamentais para o sucesso
das expedições científicas que investigaram a natureza amazônica nesse período.O mapa publicado por Wallace foi recebido com elogios pelos
sócios da Real Sociedade de Geografia da Inglaterra, passando a ser o principal
mapa utilizado como referência pelos europeus que visitaram a região em anos
posteriores, ajudando a estabelecer Alfred Wallace como um importante
naturalista e especialista na natureza amazônica brasileira. Uma vez que ele
havia perdido os espécimes que havia coletado no Brasil no naufrágio do navio
que o levava de volta à Europa, a publicação do mapa do Rio Negro ganhou destaque
entre os resultados de sua expedição.

Mapa do Rio Negro feito a partir das observações realizadas entre os anos de 1851 e 1852 pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace durante sua expedição científica pela Amazônia brasileira. O mapa foi publicado em 1853 no Journal of the Royal Geographical Society, mesmo ano em que foi publicado o seu relato de viagem A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro. O mapa apresenta a indicação de rios como o Solimões, Branco, Uaupés e outros, a localização de alguns povos indígenas, vilarejos e marcos geográficos. Indica, ainda, locais de interesse econômico, como o distrito da Salsaparrilha.

Mapa do Rio Negro feito a partir de observações de Alfred R. Wallace

Ilustração identificada como Prancha VIII publicada na página 232 da segunda edição do livro A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro publicado pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace em 1889. A imagem representa a distribuição de habitações de um grupo indígena não identificado pelo autor, nas margens do Rio Negro. Observamos, em primeiro plano, três embarcações, sendo uma delas parcialmente coberta, com remadores e pescadores. Em seu mapa do Rio Negro, Alfred Wallace incluiu a localização de diversos grupos nativos que habitavam nas margens do rio.

Ilustração de uma vila indígena nas margens do Rio Negro

Levantamento cartográfico do Rio Negro por Alfred Wallace

Por ocasião do eclipse total do Sol previsto para 7 de setembro de 1858, o Observatório Nacional, então Imperial Observatório do Rio de Janeiro, preparou uma expedição astronômica com o objetivo de observar e registrar o fenômeno. A comitiva era liderada pelo engenheiro militar Antônio Manoel de Mello, na época diretor, que viajaria acompanhado de Cândido Batista de Oliveira, do Corpo de Engenheiros da Academia Militar, de quatro oficiais do Exército que atuavam como ajudantes no Observatório, então ligado à Escola Militar, e de um astrônomo francês recém-chegado ao Brasil.Emmanuel Liais trabalhava no Observatório de Paris e chegou ao Brasil em julho de 1858 com sua esposa e uma carta de recomendação assinada pelo ministro da instrução pública da França, documento importante para que fosse convidado para integrar a expedição organizada pelo observatório do Rio de Janeiro. O governo imperial brasileiro apoiou a expedição e colocou à disposição do grupo dois navios de guerra para que pudessem deslocar pessoal e equipamentos até Paranaguá, no litoral do Paraná, tido como o local mais adequado para a observação do eclipse. Partindo do Rio de Janeiro em 18 de agosto, o grupo aportou em Paranaguá no dia 20 e três dias depois já estavam fazendo as primeiras investigações para determinar os locais mais adequados para montar as estações de observação. Os cálculos apontavam que a chácara do médico Carlos Tobias Reichsteiner estava localizada próxima da linha central do eclipse e, para o seu jardim, foram transportadas uma luneta equatorial, um cometoscópio, um sextante, um teodolito e um cronômetro. Além dessa estação principal, outras três foram montadas: a primeira em Campina, no alto da serra, uma segunda na Ilha dos Pinheiros e a terceira a bordo do navio Pedro II, uma das duas embarcações utilizadas no transporte do grupo.Os dias que antecederam o eclipse foram marcados por pesquisas científicas, algumas delas prejudicadas pelo mau tempo, e pela participação dos cientistas em eventos sociais. Não era comum que a pequena cidade de Paranaguá recebesse visitantes tão ilustres e, por esse motivo, o grupo equilibrava as pesquisas com a participação em bailes e jantares, como os organizados pelas sociedades Terpsychore e Recreio Familiar. Apesar das comemorações do aniversário da independência, que contou com uma homenagem especial aos cientistas, todos estavam à postos para a observação do fenômeno, previsto para as 11 horas da manhã. Apesar da curta duração, de apenas um minuto e doze segundos, um relatório foi produzido por Cândido Batista de Oliveira e publicado em periódicos científicos como os Archivos da Palestra Scientifica do Rio de Janeiro e a Revista Brazileira. Anos depois, foi publicado em francês no Astronomische Nachrichten e reimpresso na Revista do Observatório em 1891.Liais, por sua vez, não apenas observou o fenômeno como o registrou, utilizando um telescópio composto por quatro oculares, uma delas fotográfica. Esse foi o primeiro uso da fotografia para registro astronômico feito no Brasil. A partir das fotos, ele propôs um novo método para a determinação de longitudes utilizando a fotografia, o que causaria o embate com outros astrônomos posteriormente. Em seu livro O Espaço Celeste e a Natureza Tropical, Liais dedicou um capítulo inteiro ao eclipse de 1858 e às observações que fez da natureza em Paranaguá, sobretudo da vegetação e do solo. Atualmente, a localização das 15 fotografias tiradas por Liais é desconhecida.

Ilustração representando o eclipse solar total de 7 de setembro de 1858 observado em Paranaguá, Paraná. Na gravura de Yan' Dargent, publicada na página 149 do livro "O espaço celeste e a natureza tropical" (1865), de Emmanuel Liais, observamos o momento em que a Lua encontra-se completamente à frente do Sol, sendo visível apenas os raios solares por detrás do satélite terrestre. Enquanto o eclipse é observado no céu, duas embarcações são vistas à distância no mar e algumas montanhas ao fundo.

Ilustração do eclipse total do Sol de 1858

Observação do eclipse total do Sol de 7 de setembro de 1858 em Paranaguá

Era uma noite de quarta-feira, 21 de novembro de 1973. No campus do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, o engenheiro eletrônico Ivan Mourilhe observava o céu noturno. Embora trabalhasse no Serviço da Hora, Mourilhe, assim como outros engenheiros e técnicos, colaboravam com as observações astronômicas realizadas na instituição, uma vez que nas décadas de 1960 e 1970 não havia muitos astrônomos no observatório e era comum que outros profissionais capacitados colaborassem no registro de observações de corpos celestes como cometas, planetas, asteroides, etc.Nesta noite, Mourilhe utilizava a Luneta 46. Foram dez anos de espera entre a encomenda do instrumento ao fabricante inglês Cooke &amp; Sons e sua montagem no Morro de São Januário em 16 de fevereiro de 1922. Também conhecida como Grande Luneta Equatorial, devido à sua montagem paralela ao eixo terrestre, ou Luneta 46, devido ao tamanho de sua lente objetiva que tem 54,8 centímetros de diâmetro, o instrumento foi encomendado por Henrique Morize e montado em um dos pavilhões principais do campus do Observatório Nacional. Entre as décadas de 1920 e 1990, ela foi um dos principais instrumentos científicos da instituição e permitiu a observação de diversos fenômenos astronômicos. Era utilizada principalmente nas áreas de astronomia fundamental e astrometria, isto é, na determinação precisa das coordenadas dos objetos celestes.Naquela noite de 1973, Ivan Mourilhe detectou a presença de um asteroide não identificado no céu e registrou a sua posição em uma fotografia. Com a imagem revelada sobre uma placa de vidro, Mourilhe passou a buscar ao redor do corpo celeste que queria identificar aquelas estrelas que conhecia para aplicar a “Regra do Pentágono”, assim chamada porque depende da identificação de pelo menos cinco estrelas de referência em uma imagem. Com base em um modelo matemático e sabendo o posicionamento preciso de algumas das estrelas visíveis na fotografia, informação obtida por meio de catálogos celestes, Mourilhe poderia realizar os cálculos trigonométricos necessários para determinar a posição do asteroide que havia capturado sua atenção e, assim, contribuir para um conhecimento mais preciso das coordenadas dos corpos celestes.A repetição de observações como essa realizada por Mourilhe em 1973 na Luneta 46 do Observatório Nacional, bem como o avanço no desenvolvimento de instrumentos de observação cada vez mais precisos e potentes, fez com que hoje em dia os astrônomos tenham catalogado mais de um bilhão de estrelas, contribuindo para um conhecimento mais profundo dos corpos celestes que habitam o universo.

Fotografia em placa de vidro. Imagem obtida por meio de uma luneta fotoequatorial de 46 cm no Observatório Nacional pelo engenheiro Ivan Mourilhe em 1973. Na imagem do céu escuro alguns pontos luminosos representam corpos celestes. Ao centro, uma estrela com seis pontas com inscrições destaca um objeto maior ao meio, que se trata de um asteroide não identificado. O desenho geométrico faz referência à Regra do Pentágono utilizada na astrometria para determinar a posição de corpos celestes.

Placa de vidro com cálculos realizados por Ivan Mourilhe em 1973

Determinação da posição de um corpo celeste por Ivan Mourilhe em 1973

Em 1873, a Amazon Steam Navigation Company, nome adotado
pela Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, criada em 1853, após ter
sido transferida aos ingleses, organizou uma expedição para explorar a região
amazônica. Além do direito de navegação, a companhia, primeiro investimento
estrangeiro apoiado e subsidiado pelo governo brasileiro, havia herdado quase
um milhão de acres em terras. O objetivo da viagem era mapear e conhecer as
riquezas naturais da região visando a sua exploração econômica, cuja possibilidade
era enfatizada pelo comércio da borracha e a viabilidade da sua povoação com
imigrantes britânicos.A expedição foi liderada pelo geólogo canadense Charles
Barrington Brown, que já havia explorado o território britânico na Guiana.
Contava, ainda, com os britânicos William Lidstone, engenheiro e desenhista, e
James William Helenus Trail, botânico. O relato da viagem, publicado em 1878
sob o título Fifteen thousand miles on the Amazon and its tributaries, foi
assinado apenas pelos dois primeiros, uma vez que as observações de Trail possuíam um caráter mais especializado. Também acompanhou a expedição o brasileiro Pedro de Vasconcelos, atuando como intérprete, e um indígena da Guiana chamado William, que trabalhava para Brown.
Os viajantes chegaram ao Brasil em setembro de 1873 e
permaneceram até março de 1875. Ao longo deste período, visitaram locais como
Prainha, Santarém, Alter do Chão, Aveiro, Monte Alegre, Óbidos, Manaus, Tefé,
Tabatinga, entre outros. Aproveitando os navios a vapor da Amazon Steam
Navigation Company, tiveram a oportunidade de explorar diversos rios, dentre
eles: Tapajós, Trombetas, Juruti, Maués, Abacaxis, Negro, Branco, Purus, Juruá,
Javari e Jutaí. O relatório sobre o Rio Jutaí foi um dos primeiros registros da
topografia da área e foi publicado na Revista da Sociedade de Geographia do Rio
de Janeiro em 1886.Os resultados da expedição podem ser considerados modestos. A esperança de encontrar riquezas minerais, por exemplo, não se concretizou. Da
mesma forma, nenhum plano de imigração de britânicos para a Amazônia foi
implementado. Dentre as coleções reunidas, merece destaque o estudo feito por
Trail sobre a botânica e a zoologia local.Ao longo dos dois anos em que percorreram a região
amazônica, os viajantes foram auxiliados por diversos habitantes locais nas
cidades por onde passaram. Chama a atenção, particularmente, como alguns de
seus colaboradores já haviam participado anteriormente de outras expedições
científicas, nomeadamente aquelas lideradas por Henry Bates, Alfred Wallace e
Louis Agassiz. Isto aponta, portanto, para a existência de uma rede de
colaboradores locais na Amazônia do século XIX, habituados a participar de
expedições científicas, ainda que não fossem, eles mesmos, cientistas. Suas
contribuições são descritas por esses naturalistas em seus livros de viagem,
onde os viajantes frequentemente revelam, além dos nomes de seus colaboradores,
as formas como foram auxiliados pela população local.

Ilustração da cidade de Manaus pelo engenheiro e desenhista William Lidstone, que acompanhou Charles Barrington Brown em uma expedição científica pelo Brasil entre 1873 e 1875. Na imagem, encontramos a vista de um expectador afastado, em um plano mais alto que o centro da cidade, olhando na direção do porto, que encontra-se ao fundo. Em primeiro plano, vemos uma cerca. Observamos a foz do igarapé do Mindu conectando-se ao Rio Negro, ao fundo. Uma ponte conecta os dois lados da cidade. No lado mais distante, uma igreja chama a atenção. Provavelmente se trata da Catedral Metropolitana de Manaus, também conhecida como Igreja Matriz ou Catedral de Nossa Senhora da Conceição, cuja construção teve início em 1858.

Ilustração de Manaus por William Lidstone

Reprodução de um conjunto de pinturas rupestres encontradas pelos viajantes Charles Barrington Brown e William Lidstone durante a expedição científica que fizeram pela Amazônia brasileira entre 1873 e 1875. As pinturas foram reproduzidas na página 218 do livro Fifteen thousand miles on the Amazon and its tributaries publicado em Londres em 1878. Na ocasião, a dupla visitava Óbidos na companhia do botânico brasileiro João Barbosa Rodrigues e, juntos, foram até a Serra da Escama para observar as pinturas rupestres. Em seu relato, os viajantes contam sobre o desejo de remover uma parte das pinturas para depositá-las na coleção do Museu Britânico. Para isso, chegaram a firmar um acordo com um morador local que ficara encarregado de transportar a pedra até as margens do rio. No entanto, como o acordo nunca foi cumprido, "a rocha repousa no mesmo lugar onde a natureza a colocou" (p. 218), conta os viajantes.

Conjunto de pinturas rupestres encontradas por Charles Barrington Brown e William Lidstone no Pará

Mapa do Rio Amazonas e seus tributários publicado no livro Fifteen thousand miles on the Amazon and its tributaries publicado por Charles Barrington Brown e William Lidstone em 1878. O mapa mostra o traçado do Rio Amazonas e de seus principais tributários, como o Purus, o Japurá, o Tapajós, entre outros. O mapa contém, ainda, a localização de algumas das principais cidades na Amazônia brasileira e parte dos territórios da Venezuela, Equador, Peru e Bolívia. O mapa, publicado em duas páginas, foi traçado de acordo com as observações realizadas pelos viajantes Charles Barrington Brown e William Lidstone durante sua viagem pela região entre 1873 e 1875. O mapa é assinado pelo editor do livro, o cartógrafo Edward Stanford, membro da Real Sociedade de Geografia de Londres e dono de uma loja de mapas na rua Charing Cross, em Londres.

Mapa do Rio Amazonas e seus tributários por Edward Stanford

Expedição de Charles Barrington Brown e William Lidstone pela Amazônia

Nascido em Ganthorpe, uma pequena vila de Yorkshire, Spruce não tardou a descobrir que gostava mais de botânica do que de matemática, área na qual se formou. Chegou a dizer que gostava de considerar as plantas como seres cientes, que desfrutavam de suas vidas enquanto embelezavam a terra e que, após a morte, passavam a adornar seu herbário pessoal. Desde, pelo menos, os 16 anos, costumava fazer excursões ao redor de sua cidade natal coletando e listando as espécies encontradas. Logo, suas expedições começaram a se expandir pelos demais países do Reino Unido, fazendo coletas botânicas na Irlanda e na Escócia, e depois pelo continente europeu, explorando os Pirineus ao longo de um ano, entre 1845 e 1846. Como resultado destas viagens publicou seus primeiros artigos no periódico da Sociedade Botânica de Edimburgo.
Desejando visitar o Brasil, Spruce começou a estudar a flora brasileira a partir das coleções existentes no Museu Britânico e no Real Jardim Botânico, em Kew. Informou sobre sua vontade de partir em direção ao continente americano a vários botânicos com quem se correspondia e, havendo organizado meios para enviar espécimes de volta à Inglaterra para serem vendidos, partiu em direção ao Pará em 7 de junho de 1849, estabelecendo-se em Belém. Permaneceu por 7 meses na capital paraense, coletando espécimes e observando não apenas a natureza local, mas os habitantes e seus costumes. Na tradição dos naturalistas de seu tempo, Spruce atentava para toda a natureza ao seu redor e para as formas como os habitantes se relacionavam com a fauna e a flora locais, estando particularmente interessado no potencial econômico das espécies botânicas que coletava e enviava para instituições e colecionadores na Europa. Em Belém, encontrou-se com Henry Bates e com os irmãos Wallace, com quem compartilhou informações sobre as palmeiras. Em seguida, decidiu mudar-se para Santarém, onde passou um ano utilizando a cidade como base para suas explorações ao longo dos cursos dos rios Tapajós e Trombetas. De Santarém, seguiu viagem para Manaus, onde decidiu subir pelo Rio Negro até São Gabriel da Cachoeira, onde residiu por 7 meses. Depois, explorou os arredores do rio Uaupés, chegando até São Jerônimo. Cruzou a fronteira para a Venezuela, onde explorou os rios Casiquiare e Orinoco. Depois de cerca de um ano e meio, voltou para
Manaus, onde se preparou para uma viagem até o Peru. Viveu por quase 2 anos em Tarapoto, navegou pelo Rio Huallaga e subiu os Andes.Em 1857 mudou-se para o Equador, onde viveu por cerca de 3 anos entre Pastaza, Canelos, Azuay, Pichincha e Baños, além de navegar pelos rios Bobonaza e Topo e
subir as montanhas vulcânicas do Tungurahua, El Altar e Chimborazo. Enquanto estava no país, encontrou-se com Robert Cross, jardineiro do Real Jardim Botânico, em Kew. Cross havia sido enviado por Clements Markham, geógrafo do Departamento Indiano, órgão da administração colonial britânica, para reunir sementes viáveis de Cinchona succirubra que serviriam para o estudo do potencial da quinina no tratamento da malária. Com o apoio de Spruce, cerca de mil sementes e 600 mudas foram enviadas do porto de Guayaquil para Kew e, de lá, para a Índia, onde chegaram em perfeito estado de conservação. Os espécimes enviados foram essenciais para o estabelecimento da indústria da quinina no Sudeste da Ásia e o episódio pode ser lido
como um exemplo da exploração colonial da natureza americana por potências europeias no século XIX. Por sua contribuição, Spruce recebeu pensões dos governos britânico e indiano.Além da cinchona, Spruce também coletou vários espécimes da Hevea brasiliensis e registrou informações sobre a extração da borracha e sua importância econômica na região amazônica. Sempre preocupado com os usos das diferentes espécies botânicas, aprendeu muito com as populações locais, principalmente com os indígenas. Foi observando os rituais tradicionais de alguns povos com os quais teve contato que descobriu as propriedades alucinógenas do cipó que denominou Banistera caapi (hoje, Banisteriopsis caapi). Sobre o uso de plantas alucinógenas pelos indígenas, publicou um relato intitulado Indigenous narcotics and stimulants used
by Indians of the Amazon.A boa relação que manteve com os povos indígenas permitiu que Spruce registrasse informações sobre a cultura e as tradições dos diferentes grupos com que teve contato, compilando vocabulários em 21 idiomas diferentes, além de coletar cerca de 350 artefatos que enviou para a Inglaterra junto com suas coleções botânicas. Ao todo, Spruce enviou mais de 7 mil espécimes para o Real Jardim Botânico, em Kew, além daqueles que vendeu para outras instituições e colecionadores como forma de garantir o dinheiro necessário para arcar com as despesas de viagem. Seu herbário é, até hoje, objeto de importantes pesquisas, podendo ser encontrado digitalizado como parte do projeto REFLORA, no qual contribuíram instituições brasileiras e britânicas.
Além das contribuições para a botânica, Spruce também mapeou rios como o Trombetas, o Casiquiare, o Orinoco e o Cunucunuma. Seus mapas foram elogiados por
geógrafos como Roderick Murchinson e o garantiram a honraria de membro da Real Sociedade de Geografia. Quando retornou para a Inglaterra, em 1864, estava com
a saúde abalada. No entanto, isto não o impediu de publicar relatos sobre sua experiência, como uma monografia sobre as palmeiras intitulada Palmae Amazonicae (1869), o livro Hepaticae Amazonicae et Andinae (1885) com descrições de mais de 700 espécies e um breve relatório de viagem em francês, Voyage de R. Spruce dans Amérique Equatoriale pendant 1849-1864 (1886). Suas publicações são utilizadas como referências por botânicos até hoje.

Fotografia reproduzida na página 36 do primeiro volume do livro Notes of a botanist on the Amazon &amp; Andes do viajante Richard Spruce.Essa é provavelmente uma das primeiras fotografias reproduzidas em um livro de viagem, uma vez que até então era mais comum que os livros apresentassem gravuras de ilustrações feitas pelos próprios viajantes ou por artistas contratados. Nessa fotografia, Spruce enfoca um espécime da seringueira (Hevea brasiliensis), informando ser uma árvore ainda jovem. Além de registrar a espécie em foto, Spruce também coletou diversos espécimes e registrou informações sobre a extração da borracha e sua importância econômica na região amazônica, incluindo informações obtidas com os indígenas que habitavam a região.

Fotografia de uma seringueira (Hevea brasiliensis) publicada por Richard Spruce

Ilustração intitulada "Santarém vista de um morro próximo do forte", de autoria do viajante britânico Richard Spruce, publicada na página 64 do primeiro volume do livro de viagem Notes of a botanist on the Amazon &amp; Andes. A gravura foi realizada a partir do desenho original de Spruce. O forte mencionado provavelmente trata-se do Forte dos Tapajós de Santarém, originalmente fundado em 1697, também conhecido como Fortaleza de Santarém. De acordo com Spruce, este teria sido o forte onde o viajante e militar britânico Mawe (não confundir com o mineralogista John Mawe) teria sido feito prisioneiro durante sua passagem pela região na década de 1830. Spruce visitou a região a convite do escocês John Hislop, que habitava em Santarém há muitos anos e alojou viajantes como Spruce, Bates, Wallace e Edwards.Na ilustração, observamos a cidade de Santarém com algumas casas de taipa, cercada pela vegetação. Ao fundo, observamos as águas do Rio Tapajós e a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição, cuja construção iniciou em 1761 e é a igreja mais antiga de Santarém.

Vista da cidade de Santarém por Richard Spruce

Ilustração publicada na página 484 do segundo volume do livro da segunda edição do livro Notes of a botanist on the Amazon &amp; Andes do naturalista viajante Richard Spruce.A ilustração representa um conjunto de pinturas rupestres encontradas pelo viajante-naturalista nas rochas próximas do Rio Uaupés durante sua expedição pelo Brasil. As mesmas pinturas foram registradas por Alfred Wallace em seu livro de viagem, que afirmou que elas eram atribuídas pelos indígenas aos espíritos, enquanto alguns comerciantes brasileiros acreditavam ser obra divina. Estudos de datação por radiocarbono, realizados pela arqueóloga Anna Roosevelt em 1995, apontaram que as pinturas imortalizadas por Spruce e Wallace datavam de cerca de 11 mil anos atrás, sendo provavelmente vestígios de uma das primeiras ocupações humanas no continente americano. Posteriormente, em 2014, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, coordenados pela arqueóloga Edithe Pereira, encontravam novas evidências que apontam que as pinturas encontradas nos sítios arqueológicos na região podem ter começado por volta de 12 mil anos atrás.

Conjunto de pinturas rupestres encontradas por Richard Spruce no Rio Uaupés

Expedição de Richard Spruce pela Amazônia

O El Niño é um fenômeno oceânico e atmosférico caracterizado pelo aquecimento anormal e contínuo das águas do Oceano Pacífico, próximas à linha do Equador, correndo da costa da América do Sul até o Pacífico Oriental. Seu nome foi instituído em 1891 pelo Boletim da Sociedade Geográfica de Lima, mas há tempos marinheiros e comunidades locais já identificavam uma corrente marítima do norte para o sul, margeando a costa do Peru, nas proximidades do período natalino.As imagens 1 e 2 fazem parte de estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, utilizando satélites de sensoriamento remoto Landsat da NASA para monitorar o fenômeno e seus impactos no Brasil. Entre os anos de 1982 e 1983 o El Niño ficou conhecido pela sua intensidade e gravidade, com impactos registrados em esfera global, causando chuvas intensas em algumas regiões, e secas desastrosas em outras, acompanhados de prejuízos sociais, ambientais e econômicos.Na imagem 1, ventos polares são destacados pelas linhas que se bifurcam e estacionam na região sul do Brasil. Normalmente esses ventos passam rapidamente sem gerar precipitação intensa, mas naqueles anos as correntes de ar estavam mais instáveis fruto do aquecimento atípico das águas do Pacífico. Já a imagem 2 mostra massas de ar distribuídas pelo globo terrestre, onde é perceptível intensa atividade atmosférica acima da América do Sul, em direção ao norte e nordeste do Brasil. Trata-se da Zona de Convergência Intertropical, geralmente causadora de chuvas no norte e no semiárido nordestino do Brasil, sob influência das massas de ar provocadas pelo El Ninõ. Os cientistas do INPE estavam em busca de respostas para a permanência da frente fria decorrente do El Niño no sul e sudeste do país, daí a necessidade de acompanhar via satélite o deslocamento das massas de ar. Desde meados de 1982 se registrava no sudeste uma queda de temperatura anormal, uma das mais intensas já registradas para aquele período. Para os cientistas do INPE, conhecer melhor esse tipo de fenômeno, buscando a previsibilidade e suas particularidades na região, significava minimizar os prejuízos sociais e econômicos advindos da frente fria.No cenário internacional, após esses dois anos de El Niño intenso, a previsão do fenômeno tornou-se a motivação de diferentes programas internacionais de pesquisa e monitoramento do Pacífico Tropical, em busca de dados meteorológicos na superfície, e abaixo do oceano, com transmissão via satélite. De fato, o monitoramento do fenômeno é de grande importância para um futuro mais imediato, uma vez que ações que diminuem o impacto do aquecimento das águas do pacífico poderão ser tomadas mais rapidamente. No entanto, do ponto de vista histórico, esses dados podem servir para uma compreensão mais ampla do fenômeno, identificando padrões de atuação ao longo dos anos e, especialmente, identificar suas relações com as sociedades de épocas passadas, permitindo-nos identificar maior agência às forças da natureza nos acontecimentos históricos já registrados.

Fotografia do globo terrestre obtida por meio de satélite de sensoriamento remoto (SMS/GOES). A imagem destaca as massas de ar, sob influência do fenômeno "El Niño", em direção ao sul do Brasil. Faz parte do dossiê “Fotografias da Missão Espacial Completa Brasileira”, do Fundo Jacques Danon (AHC-MAST). Fotos doadas pelo INPE e associadas a um texto de divulgação para a imprensa.

Fotografia do globo terrestre utilizada para monitoramento das massas de ar decorrentes do "El Niño"

Fotografia da região Equatorial do Oceano Pacífico obtida por meio de satélite de sensoriamento remoto (SMS/GOES). A imagem destaca uma linha tracejada, e outra pontilhada e tracejada indicando as massas de ar, sob influência do fenômeno "El Niño", em direção ao sul do Brasil. Faz parte do dossiê “Fotografias da Missão Espacial Completa Brasileira”, do Fundo Jacques Danon (AHC-MAST). Fotos doadas pelo INPE e associadas a um texto de divulgação para a imprensa.

Fotografia indicando as massas de ar em direção ao sul do Brasil decorrentes do fenômeno "El Niño"

O monitoramento via satélite dos efeitos do El Niño no sul do Brasil em 1983

Na astronomia, trânsito é o nome dado para a passagem de um astro na frente de outro sem ocultá-lo. Quando as órbitas da Terra e de Vênus coincidem e se alinham em relação ao Sol, podemos observar a passagem do planeta vizinho como um ponto escuro que se desloca em frente ao Sol. Contudo, as diferenças de grau e velocidade nas órbitas dos dois planetas fazem com que esse seja um fenômeno raro, observável apenas cerca de duas vezes a cada século. Ao mesmo tempo, é um evento importante, pois permitiria aos astrônomos calcular a distância entre o nosso planeta e o Sol e, sabendo essa distância, as leis de Kepler permitiriam calcular as posições dos demais planetas no sistema solar. Devido sua importância, um congresso internacional foi organizado em Paris, em 1881, para promover a cooperação internacional no estudo do trânsito de 1882.Para o atual Observatório Nacional, aquele era um momento delicado. A instituição sofria com falta de instrumentos e de pessoal, com uma localização considerada inadequada no Morro do Castelo, e com constantes ataques perpetrados por Manuel Pereira Reis contra o diretor Emmanuel Liais. A desavença contribuiu para que Liais deixasse a instituição em 1881. Já na França, ele representou o Brasil no congresso e garantiu a participação do observatório brasileiro. Para Luiz Cruls, seu sucessor, caberia a missão de organizar os esforços para a observação do trânsito de Vênus pelo disco solar. Para isso, foi necessário solicitar orçamento do governo, o que causou grande debate na câmara dos deputados.Para a ala conservadora, o investimento era injustificável quando as secas de 1877-79 agravavam a situação financeira do país, que dependia da agricultura. Muitos também criticavam a valorização de cientistas estrangeiros nas instituições brasileiras e Cruls, belga de nascimento, foi acusado de publicar em francês “para que não tenha ele o incômodo, sendo por nós pago o honrado, de aprender a língua do país em que vive”. Ademais, a astronomia era tida como uma ciência sem aplicação na vida prática e, portanto, distante da sociedade. Para a ala progressista, os gastos com a ciência eram vistos como investimentos no desenvolvimento tecnológico e industrial do país. Além disso, a influência do positivismo e sua valorização da ciência, fazia da ocasião uma oportunidade para que o Brasil contribuísse com as nações europeias para o progresso da humanidade. O debate ganhou as páginas de jornais e revistas que, em tom de sátira, destacavam que “muito amor à Vênus devem ter os nossos deputados”.Apesar da controvérsia, o crédito foi concedido e três comissões brasileiras fossem organizadas. Cada uma tinha um destino, indo a equipe liderada por Julião de Oliveira Lacaille para Olinda, Pernambuco, o grupo de Antônio Luís von Hoonholtz, barão de Tefé, para a ilha de São Tomás, nas Antilhas, e a equipe liderada pelo próprio Cruls para Punta Arenas, no Chile. Os grupos partiram do Rio de Janeiro em setembro de 1882, meses antes do trânsito previsto para o dia 6 de dezembro. Se nas Antilhas e em Pernambuco as condições climáticas não foram as mais favoráveis, no Chile o grupo de Cruls conseguiu observar a passagem de Vênus em boas condições. Retornando ao Rio de Janeiro em 1883, todos foram condecorados por D. Pedro II, os resultados das expedições foram publicados nos anais do Observatório e as atuações de Luiz Cruls e do observatório brasileiro no conhecimento da distância Terra-Sol reconhecidas internacionalmente.

Álbum fotográfico encadernado contendo 15 fotografias que representam momentos da expedição científica organizada para observar a passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 6 de dezembro de 1882. Nas fotos, é possível observar paisagens do trajeto entre o Rio de Janeiro e Punta Arenas, no Chile, onde a expedição organizou seu acampamento, registros do acampamento e dos instrumentos utilizados na observação astronômica. O álbum faz parte da Coleção Thereza Christina Maria sob a guarda da Fundação Biblioteca Nacional. O álbum, organizado pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro, foi publicado pela Typographie et Lithographie Lombaerts &amp; Cie. em 1887.

Álbum de fotografias relativas à observação da Passagem de Vênus em 1882

Apesar do mau estado de conservação da fotografia em preto e branco, vemos um grupo de cinco homens com três deles sentados à frente de outros dois, em pé, mais ao fundo. Da esquerda para a direita, eles são: Luiz Cruls, astrônomo, Gustavo Rumbelsperger, naturalista, o almirante Luiz Felipe de Saldanha da Gama, o 2º tenente Carlos Castillos Midosi e o 2º tenente Eduardo Ernesto Midosi, que faziam parte da comissão científica para a observação da passagem de Vênus pelo disco solar em 1882.

Fotografia da expedição para a observação do trânsito de Vênus em 1882

Observação do trânsito de Vênus pelo disco solar em 1882

Aos 13 anos, o francês Charles Messier vivenciou um evento que transformaria a sua vida. Em sua pequena cidade natal, em Badonvillier, ele observou a passagem do Grande Cometa de Cheseaux que, por muitos anos, deixou astrônomos perplexos por desenhar no céu seis enormes caudas durante sua passagem. A partir de então, estudar cometas e observá-los cruzando os céus se tornaria sua grande vocação e, como astrônomo oficial da Real Marinha francesa, Messier fez importantes contribuições para o conhecimento do universo.Dentre suas contribuições, podemos destacar a identificação da Galáxia do Redemoinho, também conhecida como Messier 51a. Na noite do dia 13 de outubro de 1773, enquanto utilizava um telescópio para observar a passagem de um cometa pelos céus e registrava a sua trajetória em uma carta celeste, Messier reparou em um objeto até então não identificado. Em seu Catálogo de Nebulosas e Aglomerados Estelares, publicado em 1781, ele descrevia o objeto observado como uma “nebulosa muito tênue, sem estrelas [...] abaixo da estrela da cauda da Ursa Maior”. As observações de Messier sobre o cometa foram utilizadas, posteriormente, pelo artista Yves-Marie Le Gouaz, que publicou uma carta celeste apresentando a trajetória do cometa observado por Messier que incluía, próximo da cauda da Ursa Maior, o objeto recém-descrito.As observações de Messier foram confirmadas por outros astrônomos ao longo dos anos e o objeto Messier 51a é, hoje, reconhecido como a Galáxia do Redemoinho. Como galáxia espiral, seus longos braços circulam o seu centro, sendo formados por uma combinação de estrelas e gás hidrogênio. Sua distância da Terra é de 23 milhões de anos luz e sua interação com a galáxia vizinha NGC 5195 é objeto de estudo de muitos astrônomos, que acreditam que a força gravitacional entre as duas é responsável pela criação de novas estrelas.Em janeiro de 2005, a Galáxia do Redemoinho foi fotografada pelo telescópio espacial Hubble, lançado pela agência espacial estadunidense NASA em 1990. Com suas lentes para luz visível e infravermelha, o telescópio capturou uma foto em alta resolução da galáxia, na qual os pontos vermelhos apresentam a concentração de gás hidrogênio em seus braços espirais. Em 2023, a Galáxia do Redemoinho completa 250 anos desde sua primeira observação por Charles Messier e continua, até hoje, sendo um dos objetos celestes mais estudados na Astronomia.No Arquivo de História da Ciência, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, é possível encontrar um diapositivo feito a partir de uma fotografia da Galáxia do Redemoinho no fundo do astrônomo e divulgador da ciência Amoroso Costa, que apresentava aos seus alunos essa galáxia em suas aulas.

Fotografia tirada pelo telescópio espacial Hubble da agência espacial NASA, dos Estados Unidos. Na fotografia, é possível ver a Galáxia do Redemoinho, também conhecida como Messier 51a, do lado esquerdo, com sua aparência característica, isto é, longos braços espirais formados por aglomerados de estrelas e gás hidrogênio, aparente na cor vermelha na fotografia. Do lado direito e aparentando tocar em um dos braços da Galáxia do Redemoinho, é possível ver a galáxia NGC 5195, de cor amarelada. De acordo com astrônomos, a interação entre as duas galáxias é um motor para formação de novas estrelas.

Fotografia da Galáxia do Redemoinho tirada pelo telescópio espacial Hubble da NASA

Diapositivo mostrando uma imagem da Galáxia Redemoinho, também conhecida como Messier 51a, utilizado por Amoroso Costa em suas aulas sobre astronomia.

Diapositivo da Galáxia Redemoinho Messier 51a

Carta celeste de autoria do gravador Yves-Marie Le Gouaz mostrando a rota aparente do cometa observado pelo astrônomo Charles Messier em 13 de outubro de 1773 no Observatório da Marinha, em Paris. A carta apresenta, ainda, o posicionamento da Galáxia Redemoinho, também conhecida como Messier 51a ou NGC 5194.

Carta celeste mostrando a rota aparente do cometa observado por Messier em 13 de outubro de 1773

Identificação da Galáxia Redemoinho por Charles Messier em 13 de outubro de 1873

<h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">O PROJETO</h3> O Portal de História da Ciência e da Tecnologia no Brasil é um projeto desenvolvido pela Coordenação de História da Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), situado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Nosso objetivo é divulgar a história da ciência e da tecnologia brasileira a partir de documentos históricos preservados em instituições de pesquisa, como o próprio MAST. Os documentos digitalizados são cadastrados em uma base de dados onde são inseridas informações sobre sua procedência, autoria, datação, entre outros dados importantes para o conhecimento dos seus contextos de produção e circulação. Além disso, cada documento é associado a um evento na história da ciência e da tecnologia brasileira, que é descrito por especialistas em textos autorais voltados para o público não especializado. Por meio de ferramentas interativas que permitem a construção de linhas do tempo e mapas personalizados, esperamos ser uma fonte de estudos capaz de contribuir para tornar as ciências e os cientistas brasileiros mais conhecidos entre nós. Desde 2019, o projeto foi desenvolvido com recursos do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) por meio do edital n° 36/2021 - “Apoio à Editoração e ao Audiovisual Comemorativo do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna”, e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) por meio do projeto “A Cultura Científica no Brasil: Espaços Multiusuários de Ciência e Tecnologia no MAST”. <h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">A EQUIPE</h3> Coordenação: Heloisa Meireles Gesteira Desenvolvimento e pesquisa: Anderson Pereira Antunes Mariza Pinheiro Bezerra Modelagem do sistema de informação: Sergio Emanuel Dias Campos Base de dados e desenvolvimento do site: Victor Yañez Colaboração: Coordenação de História da Ciência e da Tecnologia (MAST)

Sobre o PHCT

Facebook

Instagram

Twitter

Em indivíduos e instituições, destacamos não só cientistas com instrução formal, mas todos os indivíduos que contribuíram com a construção do conhecimento científico. Em alguns contextos, como determinadas expedições científicas, indígenas e escravizados, entre outros, foram importantes colaboradores e, por isso, merecem lugar na história da ciência e da tecnologia brasileira. Ao mesmo tempo, evidenciamos também os espaços de ciência - formais ou não - onde esses indivíduos circularam e atuaram.

Indivíduos e Instituições

A história da ciência por meio de seus atores e espaços.

Em política científica e cooperação internacional, ressaltamos as relações entre a política - interna e externa - e a ciência. Por um lado, a ciência pode orientar algumas tomadas de decisões políticas que impactam diretamente em nossas vidas. Da mesma forma, negar a ciência pode ter efeitos catastróficos. Por outro lado, sem políticas de incentivo e financiamento, não há ciência. Essa relação funciona, portanto, em via de mão dupla e muitas vezes envolve atores nacionais e internacionais.

Política Científica e Cooperação Internacional

As relações políticas e diplomáticas no desenvolvimento da ciência.

Em divulgação e controvérsias, salientamos os esforços para divulgar a ciência tanto entre os próprios cientistas - o que chamamos de divulgação entre pares - quanto entre a população em geral - o que chamamos de popularização da ciência. Periódicos especializados, jornais diários, matérias de televisão, sites e podcasts contribuem para tornar conhecidos os processos de construção do conhecimento científico, incluindo as divergências, disputas e controvérsias que fazem parte desses processos.

Divulgação e Controvérsias

A divulgação da ciência e de suas controvérsias.

Em conexões e logística, priorizamos um dos efeitos do avanço científico e tecnológico no mundo moderno: tornar o mundo mais conectado. Entre o estabelecimento dos primeiros sistemas de correios e telégrafos até a conexão instantânea por meio da internet, a ciência e a tecnologia foram elementos fundamentais na construção do mundo globalizado no qual vivemos atualmente.

Conexões e Logística

O papel da ciência na construção de um mundo conectado.

Portal de História da Ciência e da Tecnologia no BrasilMAST

Eixo Temático

Observações e Experimentos