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A passagem do cometa Halley em 1986 e seu registro no Observatório Nacional

Fotografia da passagem do cometa Halley produzida no Observatório Nacional em 1986
Fotografia da passagem do cometa Halley produzida no Observatório Nacional em 1986
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O cometa Halley é um dos astros mais conhecidos já registrados pela ciência, e foi o primeiro cometa com periodicidade calculada: a cada 75-76 anos ele pode ser visto no céu da Terra. Sua última passagem, em 1986, destacou-se porque foram enviadas sondas espaciais para a observação do cometa no espaço, e modernos telescópios e antenas de recepção de dados também foram instalados em várias instituições de ciências. 

O Observatório Nacional (ON) desde o século XIX realizava observações astronômicas para elaborar cartas celestes, e determinar o posicionamento, trajetória, magnitude, entre outros aspectos, de cometas. Uma das funções do ON, até os dias de hoje, também é a divulgação de dados astronômicos gerados, informando à sociedade sobre suas atividades por meio de ações de divulgação científica.

Quando o cometa Halley começou a se aproximar da Terra, em 1986, a instituição preparou-se para registrar, estudar e divulgar o famoso viajante cósmico. Por exemplo, um de seus astrônomos, Marcomede Rangel, reeditou uma Carta do Sistema Solar com dados sobre a trajetória do Halley, trabalho minucioso que vinha desenvolvendo há quatro anos. Foi firmado, também, um contrato com empresa para a instalação de antena usada no recebimento de sinais de satélites e de sondas espaciais que acompanhavam o cometa. Para o público, o ON disponibilizou uma linha telefônica para obtenção de informações do evento e para quem quisesse se inscrever nas atividades de observação.

Naquela ocasião, uma das lunetas utilizadas para a observação do cometa Halley  foi a Equatorial 46cm presente no campus do Observatório Nacional. Instrumento científico centenário, encomendado em 1911 pelo então diretor do ON, Henrique Morize, foi instalado somente em 1921 quando desembarcou no Rio de Janeiro. Em 1922, a instalação da luneta foi concretizada por ocasião da transferência do ON para o Morro de São Januário.

Trata-se de um telescópio refrator com lente medindo 46 cm de diâmetro e disposta na frente de um tubo com 6m de comprimento. Com a adaptação de uma câmera fotográfica ao instrumento é possível captar imagens astronômicas e disponibilizá-las em placas de vidro.

Na imagem captada pela Luneta Equatorial 46, registrada por meio de uma câmera Taylor, o cometa aparece acompanhado de seu rastro. Esta “cauda” luminosa, parte mais visível, é resultado da interação do astro com o vento solar, fenômeno que produz poeira e gases no seu percurso. Já os traços aparentes, no céu escuro, são as estrelas que integram o campo de observação, e resultam da captação da imagem em movimento. A disposição dos corpos celestes na placa, por meio de cálculos astronômicos, fornecem a posição do cometa e a direção que seguirá.

Na imagem de 1986, a passagem do astro é nítida, contrapondo-se aos relatos sobre a observação do cometa a "olho nu". Muitas pessoas não conseguiram ver o Halley, motivando notícias na imprensa sobre a frustração do público causada pelo viajante cósmico. Segundo o astrônomo Ronaldo Mourão, no livro “Introdução aos cometas”, o Halley passaria mais distante da Terra, se comparado à última visita em 1910. Assim, o cometa teria uma redução de magnitude. Outros fatores também contribuíram para a pouca visibilidade: o desgaste natural que o cometa sofreu ao longo dos anos, a interferência da atividade solar no astro, além da poluição luminosa e atmosférica durante a observação.

Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Período Brasileiro: História Recente

Documento relacionado:

Fotografia da passagem do cometa Halley produzida no Observatório Nacional em 1986

Indivíduos relacionados: Marcomede Rangel, Henrique Charles Morize, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Espaço de ciência: Observatório Nacional

Referências:

HALLEY, HALLEY, Aleluia! Manchete. n. 1759. Rio de Janeiro, 4.01.1986.

MATSUURA, Oscar T. Cometas: do mito à ciência. São Paulo: Cone Editora, 1985.

MOURÃO, Ronaldo R. de Freitas. Halley, o cometa, um espetáculo no céu. O Globo. Rio de Janeiro, 1985.

MOURÃO, Ronaldo R. de Freitas. Introdução aos cometas. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora. 1985. MOURÃO, Ronaldo R. de Freitas. Como observar e fotografar o Halley. Rio de Janeiro: Editora Vozes. 1985.

MOURÃO, Ronaldo R. de Freitas. Praia é o melhor lugar para ver o Halley amanhã. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15.02.1986.

OBSERVATÓRIO terá antena para observar o Halley. O Globo. Rio de Janeiro, 1986.

SILVA JÚNIOR, Renaldo Nicácio da; BARBOZA, Christina Helena da Motta. História e memória de vidro: as fotografias brasileiras do eclipse de 1919 em Sobral. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 27, p. 983-1000, 2020.

Autoria: Mariza Bezerra