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Observação do eclipse total do Sol de 7 de setembro de 1858 em Paranaguá

Ilustração do eclipse total do Sol de 1858
Ilustração do eclipse total do Sol de 1858
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Por ocasião do eclipse total do Sol previsto para 7 de setembro de 1858, o Observatório Nacional, então Imperial Observatório do Rio de Janeiro, preparou uma expedição astronômica com o objetivo de observar e registrar o fenômeno. A comitiva era liderada pelo engenheiro militar Antônio Manoel de Mello, na época diretor, que viajaria acompanhado de Cândido Batista de Oliveira, do Corpo de Engenheiros da Academia Militar, de quatro oficiais do Exército que atuavam como ajudantes no Observatório, então ligado à Escola Militar, e de um astrônomo francês recém-chegado ao Brasil.

Emmanuel Liais trabalhava no Observatório de Paris e chegou ao Brasil em julho de 1858 com sua esposa e uma carta de recomendação assinada pelo ministro da instrução pública da França, documento importante para que fosse convidado para integrar a expedição organizada pelo observatório do Rio de Janeiro. O governo imperial brasileiro apoiou a expedição e colocou à disposição do grupo dois navios de guerra para que pudessem deslocar pessoal e equipamentos até Paranaguá, no litoral do Paraná, tido como o local mais adequado para a observação do eclipse. Partindo do Rio de Janeiro em 18 de agosto, o grupo aportou em Paranaguá no dia 20 e três dias depois já estavam fazendo as primeiras investigações para determinar os locais mais adequados para montar as estações de observação. Os cálculos apontavam que a chácara do médico Carlos Tobias Reichsteiner estava localizada próxima da linha central do eclipse e, para o seu jardim, foram transportadas uma luneta equatorial, um cometoscópio, um sextante, um teodolito e um cronômetro. Além dessa estação principal, outras três foram montadas: a primeira em Campina, no alto da serra, uma segunda na Ilha dos Pinheiros e a terceira a bordo do navio Pedro II, uma das duas embarcações utilizadas no transporte do grupo.

Os dias que antecederam o eclipse foram marcados por pesquisas científicas, algumas delas prejudicadas pelo mau tempo, e pela participação dos cientistas em eventos sociais. Não era comum que a pequena cidade de Paranaguá recebesse visitantes tão ilustres e, por esse motivo, o grupo equilibrava as pesquisas com a participação em bailes e jantares, como os organizados pelas sociedades Terpsychore e Recreio Familiar. Apesar das comemorações do aniversário da independência, que contou com uma homenagem especial aos cientistas, todos estavam à postos para a observação do fenômeno, previsto para as 11 horas da manhã. Apesar da curta duração, de apenas um minuto e doze segundos, um relatório foi produzido por Cândido Batista de Oliveira e publicado em periódicos científicos como os Archivos da Palestra Scientifica do Rio de Janeiro e a Revista Brazileira. Anos depois, foi publicado em francês no Astronomische Nachrichten e reimpresso na Revista do Observatório em 1891.

Liais, por sua vez, não apenas observou o fenômeno como o registrou, utilizando um telescópio composto por quatro oculares, uma delas fotográfica. Esse foi o primeiro uso da fotografia para registro astronômico feito no Brasil. A partir das fotos, ele propôs um novo método para a determinação de longitudes utilizando a fotografia, o que causaria o embate com outros astrônomos posteriormente. Em seu livro O Espaço Celeste e a Natureza Tropical, Liais dedicou um capítulo inteiro ao eclipse de 1858 e às observações que fez da natureza em Paranaguá, sobretudo da vegetação e do solo. Atualmente, a localização das 15 fotografias tiradas por Liais é desconhecida.

Local: Paranaguá, Paraná, Brasil

Período Brasileiro: Segundo Reinado

Documento relacionado:

Ilustração do eclipse total do Sol de 1858

Indivíduos relacionados: Antônio Manoel de Mello, Cândido Batista de Oliveira, Carlos Tobias Reichsteiner

Espaços de ciência: Escola Militar, Sociedade Terpsychore, Sociedade Recreio Familiar, Arquivos da Palestra Científica do Rio de Janeiro, Revista Brasileira, Notícias Astronômicas, Observatório de Paris, Observatório Nacional

Referências:

BARBOZA, Christina Helena da Motta. Ciência e natureza nas expedições astronômicas para o Brasil (1850-1920). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas. Belém, v. 5, n. 2, p. 273-294, maio-ago. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/JrQTGYmTjbGW3xnGHZszNmS/?format=pdf>

LIAIS, Emmanuel. L'espace céleste et la nature tropicale. Description physique de l'Univers d'aprés des observations personnelles faites dans les deux hèmisphéres. Paris: Garnier Frères, 1865. Disponível em: <https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5568538h>

Autoria: Anderson Antunes