Embora tivesse apenas 15 anos, D. Pedro II teve sua maioridade antecipada para poder assumir o trono como imperador do Brasil em 1840. Conhecido por ser um monarca ilustrado e um amigo das ciências, seu governo é marcado pela expansão da urbanização, pelo desenvolvimento das ciências, pela prosperidade econômica impulsionada pela exportação do café, pela abolição da escravatura, mas também pela Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, maior conflito bélico na história do país.

Segundo Reinado

A publicação dos Annales de l'Observatoire Impérial de Rio de Janeiro, em 1882, aconteceu em um momento marcante na história da instituição. Durante a década de 1870, sob a direção do astrônomo Emmanuel Liais, é possível perceber uma transformação na identidade do observatório. Em sua origem, o então Imperial Observatório do Rio de Janeiro estava associado às Academias Militar e da Marinha e tinha como objetivo principal a prestação de serviços como a determinação da hora e das posições geográficas, e a coleta e divulgação de dados sobre o clima. Liais, entretanto, defendia que o observatório deveria dedicar-se não apenas a tarefas utilitárias, mas também ao que entendia como ciência pura, isto é, à realização de pesquisas que visavam o desenvolvimento da ciência e não apenas a sua aplicação. Contando com o apoio do Imperador Pedro II, garantiu ao observatório maior autonomia, separando-o da Escola Militar e investindo em melhorias como a compra de instrumentos científicos mais modernos, a ampliação da biblioteca, a organização de um novo estatuto e o início de publicações científicas como os Annales de l'Observatoire Impérial de Rio de Janeiro.Publicado em francês pela Typographie et Lithographie Lombaerts &amp; Cie., o primeiro tomo dedicava-se à descrição do observatório, seu histórico, o espaço onde se encontrava e a apresentação de seus instrumentos científicos, dando especial atenção aos instrumentos meridianos. Além disso, contava com uma listagem de todos os funcionários da instituição, que totalizava 11 membros. O volume é ricamente ilustrado, contendo gravuras e uma planta do observatório, vistas da cidade do Rio de Janeiro e imagens de alguns instrumentos como o celóstato, o círculo meridiano, e algumas lunetas. No prefácio, Liais aponta que as melhorias realizadas durante sua gestão tornavam o observatório capaz de contribuir com as outras nações para o progresso das ciências, destacando que a localização da instituição no hemisfério sul era de “importância capital” para a ciência astronômica. Além disso, argumentava que um Brasil “livre e independente” deveria “se preocupar em entrar no concerto geral das nações para o progresso da humanidade”. Para isso, acreditava que era fundamental investir na ciência pois, assim como outros intelectuais de sua época, acreditava que o progresso das nações e da própria humanidade só seria possível por meio do desenvolvimento científico. Por esse motivo, dedicou agradecimentos ao “grande número de homens de progresso” que considerava importantes no desenvolvimento do observatório desde sua fundação, destacando aqueles envolvidos com as reformulações recentes na instituição.Sua direção foi marcada, ao mesmo tempo, por atritos. Além da oposição dos militares, insatisfeitos com a separação da instituição, um longo embate público tomou conta dos jornais da época quando Manoel Pereira Reis criticou o método de Liais para a determinação do meridiano absoluto do observatório. O desenrolar dessa disputa levou Liais à abandonar o cargo e retornar para a sua cidade natal, na França, em 1881, deixando seu sucessor, Luiz Cruls, para concluir a publicação dos Annales de l'Observatoire Impérial de Rio de Janeiro. Assim, a obra, que começa com o prefácio escrito por Liais, é finalizada pela apresentação do inventário de instrumentos científicos realizado por Cruls, datado de 1º de maio de 1882.

Na capa do primeiro número dos "Anais do Imperial Observatório do Rio de Janeiro", publicado em francês em 1882, vemos uma gravura que representa o observatório, com uma de suas cúpulas de observação, então localizado no Morro do Castelo. O primeiro tomo consiste na descrição das instalações, instrumentos e histórico da instituição. A capa apresenta, ainda, informações da cidade onde foi publicado, nome da editora e ano de publicação, além do nome do então diretor Emmanuel Liais.

Primeiro número dos Anais do Imperial Observatório do Rio de Janeiro

Publicação do primeiro número dos Annales de l'Observatoire Impérial de Rio de Janeiro

Em divulgação e controvérsias, salientamos os esforços para divulgar a ciência tanto entre os próprios cientistas - o que chamamos de divulgação entre pares - quanto entre a população em geral - o que chamamos de popularização da ciência. Periódicos especializados, jornais diários, matérias de televisão, sites e podcasts contribuem para tornar conhecidos os processos de construção do conhecimento científico, incluindo as divergências, disputas e controvérsias que fazem parte desses processos.

Divulgação e Controvérsias

A divulgação da ciência e de suas controvérsias.

O ano de 1886 marca a publicação do primeiro número da Revista do Observatório. Diferentemente dos Annales de l'Observatoire Imperial de Rio de Janeiro, que tinha como objetivo informar sobre as pesquisas científicas realizadas na instituição, e das Ephemerides do Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, que visavam divulgar informações sobre as principais efemérides astronômicas previstas para cada ano, a Revista do Observatório era uma publicação mensal de vulgarização científica.No século 19, o termo “vulgarização científica” designava a prática de comunicar sobre temas científicos para um público não especializado, algo que atualmente denominamos divulgação científica, popularização da ciência ou, ainda, comunicação pública da ciência. Incentivados por uma abordagem positivista e utilitarista que acreditava que a ciência era essencial para o progresso das nações e da própria humanidade, os cientistas do século XIX frequentemente se envolviam em iniciativas que tinham por objetivo levar o conhecimento de temas científicos para o público que não estava profissionalmente envolvido com as ciências e que não frequentava as sessões das academias científicas.Na Revista do Observatório, os conhecimentos científicos sobre astronomia e ciências afins, como a meteorologia e a física, eram apresentados de forma que fossem acessíveis aos leitores sem formação científica. O periódico divulgava, ainda, informações sobre o aspecto do céu a cada mês, sobre o clima da cidade do Rio de Janeiro e sobre os principais fenômenos que poderiam ser observados. Os leitores eram convidados a contribuir com a publicação enviando para a redação da revista dados sobre fenômenos e fatos observados.O primeiro número, publicado pela editora Lombaerts &amp; Comp., teve textos escritos por Luiz da Rocha Miranda, Henrique Morize, J. E. de Lima e Luiz Cruls, então diretor do observatório. Em seus textos, os astrônomos apresentam informações sobre estrelas, cometas, planetas, manchas solares, terremotos, entre outras. Além dos temas mais estritamente científicos, a Revista do Observatório também divulgava notícias sobre a instituição, o que a torna uma importante fonte para o conhecimento da história do Observatório Nacional. Cabe destacar o relato “A transferência do observatório”, publicado em três partes por Luiz Cruls para argumentar sobre a necessidade de transferência da sede do observatório, até então localizado no edifício de uma igreja jesuítica inacabada no Morro do Castelo, onde o espaço era inadequado para a montagem de alguns dos instrumentos necessários para as atividades da instituição.

Na capa do primeiro número da "Revista do Observatório, publicação mensal do Imperial Observatório do Rio de Janeiro" (1886) vemos uma gravura que representa o observatório, com uma de suas cúpulas de observação, então localizado no Morro do Castelo. A capa apresenta, ainda, informações da cidade onde foi publicado, nome da editora e ano de publicação, além do nome dos funcionários que fizeram parte da comissão de redação: Luiz Cruls, Luiz da Rocha Miranda, Henrique Morize e J. E. de Lima.

Primeiro número da Revista do Imperial Observatório do Rio de Janeiro

Publicação do primeiro número da Revista do Imperial Observatório do Rio de Janeiro

O ano de 1988, quando é promulgada a constituição "cidadã", marca o auge de um processo de abertura política iniciado em 1985. Com o fim da ditadura, o Brasil retoma a democracia presidencialista com um novo governante escolhido pelo povo em eleições diretas. Embora essa seja uma história recente, muito já aconteceu e continua a acontecer diariamente, pois a história não é apenas aquilo que ocorreu no passado; ela é a ciência do homem no tempo: passado, presente e futuro.

História Recente

Amplamente registrado durante suas passagens, o Halley tornou-se o cometa mais famoso já identificado pela ciência. Sua popularidade relaciona-se a quatro fatores: a) foi o primeiro cometa periódico a ser identificado; b) possui um ciclo de 75- 76 anos, permitindo que seja observado uma ou até duas vezes por uma pessoa; c) a agitação social que causou em 1910 e da relativa qualidade dos registros fotográficos; d) os investimentos para estudar o cometa em 1986, por meio de sondas espaciais, e a frustração motivada pela pouca visibilidade do astro naquele ano. A divulgação científica de temas de astronomia durante sua última passagem também contribuiu para elevar o Halley ao posto de “Rei dos Cometas”. Foi uma época próspera para o lançamento de livros sobre os astros, pois os admiradores do céu tinham muita curiosidade sobre o fenômeno e buscavam informações precisas de como observar melhor o cometa. No cenário internacional diversas obras foram lançadas e grupos de observação do cometa foram formados.O mercado editorial no Brasil também embarcou na “onda Halley” e vários livros foram lançados, como “Caça ao cometa Halley” (1985) de Roberto de Andrade, “O que é o cometa Halley” (1985) de Carlos Gebara, “Uma luz diferente no céu: o cometa Halley” (1985) de Marcomede Rangel, “A Volta do Cometa Halley” (1985) de Eugênio Scalise, entre tantos outros! Os jornais e revistas também explicavam o fenômeno e divulgavam conhecimentos de cientistas respeitados, como o astrônomo Ronaldo Mourão e o físico Marcomede Rangel, ambos do Observatório Nacional. O tema já era visto em camisas, quadrinhos, cadernos e constantemente na mídia televisiva. Não à toa, a revista Visão, em edição de 7 de agosto de 1985, chamou o fenômeno de “Halleymania” destacando os investimentos públicos e privados para a construção de atrativos culturais com o tema Halley em São Paulo, por exemplo, com foco no turismo e no lucro.Analisando o cenário da divulgação científica da época, certamente Ronaldo Mourão se destaca na divulgação de temas de astronomia. Físico de formação, um dos fundadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins, Mourão era procurado para informar nos jornais os melhores pontos de observação do cometa no Rio de Janeiro. Aproveitava oportunidades para divulgar as ações que o Observatório Nacional e o Museu de Astronomia e Ciências Afins preparavam para o público. No museu, estava em cartaz a exposição “Halley Rio 1910”, sempre noticiada no Jornal do Brasil. No ano de 1985, Mourão lançou livros importantes sobre o tema: “Introdução aos cometas”, estudo mais abrangente com dados técnicos e recomposição histórica sobre o tema, e destaque para os discursos sobre o Halley ao longo do tempo; “Como observar e fotografar o Halley”, um texto voltado para a parte prática da observação, e “O cometa Halley Vem aí” voltado ao público infanto juvenil. As informações reunidas em tantas obras sobre o Halley foram importantes para a popularização de temas de astronomia e até observamos uma preocupação dos autores em enriquecer os discursos de forma lúdica, com recursos como fotografias e ilustrações coloridas. No entanto, observamos que a comunicação de temas de ciência se dava de um modo tradicional, com a transmissão linear de informações, algo característico de uma época ainda com poucas possibilidades de produção de conteúdos interativos de maior alcance, como a internet, por exemplo.

Capa do livro "O rastro do cometa: o Halley na Imprensa carioca de 1910", cujo autor é o astrônomo do Observatório Nacional Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Lançado em 1985, a obra apresenta uma seleção de textos e imagens relacionadas à passagem do cometa em 1910. Na capa, consta um desenho do caricaturista Bambino, pseudônimo de Arthur Lucas, colaborador do Jornal do Brasil e da Revista da Semana à época.

Capa do livro "O rastro do cometa: o Halley na Imprensa carioca de 1910" de Ronaldo Mourão (1985)

Capa do livro "O cometa Halley vem aí" (1985) cujo autor é o astrônomo do Observatório Nacional Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Lançada em 1985,&nbsp;a obra é voltada ao público infanto juvenil e apresenta a história do “Vovô Ronaldo "recebendo a visita de seus netos no Observatório Nacional. O livro conta com ilustrações criativas sobre o cotidiano do seu trabalho como astrônomo, e os preparativos mundiais para lançamento da sonda Giotto que monitorou o Halley em sua passagem de 1986. A ilustração da capa e as demais foram feitas por Juarez Machado.

Capa do livro "O cometa Halley vem aí" de Ronaldo Mourão (1985)

Documento textual e iconográfico retirado da Revista Visão de 7 de agosto de 1985. A reportagem mostra detalhes de como a passagem do cometa Halley influenciava o comportamento das pessoas à época, e os preparativos para transformar a capital São Paulo em "Cidade Halley" com apoio da Paulistur. A iconografia refere-se aos quadrinhos intitulado "A família Halley", idealizado pela MFL (Marcas, Franquias e Licenciamentos Ltda). Mostra, ainda, os lucros previstos por marcas consagradas e empresas com o evento astronômico.

Reportagem "O ataque da Halleymania" (1985)

Fotografia realizada na exposição "Halley Rio 1910" do Museu de Astronomia em 1986. No primeiro semestre de 1986, o MAST lançou esta exposição com duas seções: uma com painéis, revistas e uma reconstituição histórica da passagem do cometa em 1910; e outra com três painéis fotográficos e um vídeo explicativo com dados científicos do cometa. Na imagem, é apresentada uma das salas da exposição, onde é possível ver dois bonecos com trajes de época simulando pessoas observando o cometa no céu de 1910. Um deles, com os trajes masculinos, manuseia uma luneta e observa além da janela, onde o cometa Halley pode ser visto brilhando no céu.

Fotografia da exposição "Halley Rio 1910" no Museu de Astronomia e Ciências Afins em 1986

A divulgação científica sobre o cometa Halley no Brasil em 1986

Diferentemente da monarquia, na qual o poder é concentrado nas mãos de um rei ou imperador, na república espera-se que o poder emane do povo, que elege os seus representantes. Com o declínio do prestígio do governo de Pedro II, a ideia de se instituir uma república no Brasil começou a ganhar força. Existiram diversos projetos e várias tentativas regionais foram realizadas até que, em 15 de novembro de 1889, um golpe liderado pelos militares enviou o monarca para o exílio, tomando seu lugar.

Primeira República

No final do século XIX, formou-se grande expectativa em torno da aparição do cometa Biela. Este astro era&nbsp; incomum,&nbsp; pois em 1845&nbsp; ele dividiu-se em dois corpos celestes que passaram a seguir em trajetória paralela.&nbsp; À época, surgiram boatos sobre a possibilidade do astro envolver a Terra, destruindo a humanidade, revivendo uma antiga associação entre cometas e catástrofes. Tais notícias ganharam força devido a uma previsão, feita pelo professor alemão Rudolf Falb, sobre a extinção do mundo na madrugada de 13 a 14 de novembro de 1899. Segundo o cientista,&nbsp; um misterioso cometa envolveria a Terra com sua cauda incandescente causando o fim da humanidade.A notícia ganhou o mundo e astrônomos foram consultados para explicar o fenômeno. Neste cenário de agitação de notícias, a população começou a se proteger: buscava-se a reconciliação com as entidades divinas, alguns se entregavam aos prazeres&nbsp; e, outros, tentaram&nbsp; abreviar a vida para não encarar a catástrofe.&nbsp;No Brasil, em particular no Rio de Janeiro, os jornais registraram algo parecido, e desmentiram os boatos sobre o fim do mundo apresentando dados científicos para acalmar a população. O jornal Gazeta de Notícias procurou o astrônomo Luiz Cruls, diretor do Observatório Nacional, e noticiou no dia 11 de novembro que o encontro entre a Terra e o cometa Biela era impossível. O astrônomo disse ao jornal que&nbsp; “o cometa Biela, se ainda existe, deve ter passado pelo modo descendente a 12 de junho, e a 13 de novembro achar-se-ia além da órbita de Marte, cerca de 400 milhões de quilômetros de distância. Assim, o público pode ficar tranquilo porque a profecia do Sr. Falb é senão uma mistificação de mal gosto”. Em outros jornais, Cruls afirmava que, no máximo, seria vista uma chuva de estrelas cadentes ou meteoros no céu do dia 13, devido aos resíduos da última aparição do Biela em 1852.As declarações de Cruls foram um “prato cheio” para as revistas ilustradas naquele contexto. A revista Don Quixote, no dia 11 de novembro de 1899, reafirmava as declarações de Cruls sobre a impossibilidade do encontro do cometa com a Terra, mas deu destaque à chuva de estrelas prevista pelo astrônomo. No dia 18, após o fatídico dia 13 (transcorrido normalmente, sem o fim do mundo e sem a chuva de meteoros) o jornal brincava com a pouca sorte do Observatório para registrar os eventos do céu. Afinal, na noite do dia 13 de novembro, ao invés de chuva de estrelas, o céu do Rio de Janeiro ficou encoberto de nuvens e a chuva caiu! É importante citar que nuvens também impediram a observação do trânsito de Vênus pelo disco solar, em 1882, fato muito frustrante para Cruls e D. Pedro II.Angelo Agostini, editor e ilustrador da revista Don Quixote, não hesitou e elaborou caricatura ironizando a reação de Cruls diante dos últimos acontecimentos. Na imagem, Cruls aparece em seu ambiente de trabalho, o Observatório, quando ainda estava sediado no Morro do Castelo. Ele é retratado como um tipo de “mago”, mas é respaldado pelo conhecimento e a técnica vindos de uma instituição científica importante, e de seus instrumentos científicos (lunetas e telescópios). Com o humor, o desenhista destaca que Cruls teria "alterado a programação do céu", substituindo a catástrofe do Biela por uma chuva de estrelas que nem foi vista. E, por isso, o astrônomo estaria desesperado, mas não pensava em tirar a própria vida, como alguns vinham fazendo, influenciados pelo medo do mundo acabar.

Caricatura em preto e branco mostrando o astrônomo e diretor do Observatório Nacional, Luiz Ferdinand Cruls, durante a observação da chuva de meteoros provocada pelo cometa Biela, em 1899. A autoria é do caricaturista Angelo Agostini que editava e ilustrava a revista Don Quixote, onde a ilustração foi veiculada. É dado destaque ao ato de observar o céu, por meio de instrumentos científicos no Observatório, e à reação de Cruls que vinha informando a população sobre o evento astronômico.

Caricatura de Luiz Cruls, durante a chuva de meteoros associada ao cometa Biela, em 1899

A reação de Luiz Cruls noticiada na imprensa durante a chuva de meteoros associada ao cometa Biela

Tal como ocorreu em ocasiões anteriores, como durante a
organização da expedição científica para observar a passagem do planeta Vênus
pelo disco solar em 1882, o Observatório Nacional se encontrou em meio a
controvérsias e críticas que foram amplamente divulgadas por revistas e jornais
durante o ano de 1919. Novamente, o principal tema colocado em questão era a
necessidade de disponibilizar orçamento para a organização de uma expedição, assunto
que movimentou as páginas das atas das reuniões do Congresso e dos periódicos
da época. O investimento na organização de uma expedição científica do Rio de
Janeiro até Sobral, no Ceará, onde poderia ser observado o eclipse total do Sol
esperado para o dia 29 de maio de 1919, não era considerado uma prioridade para
uma parcela do governo da ainda recente república brasileira.Uma notícia publicada na revista O Malho, com o
título O eclipse e a burocracia, revela um pouco da história. Henrique
Morize, então diretor do Observatório Nacional, havia tentado conseguir o
crédito necessário para organizar uma expedição até o Ceará, onde receberia as
comissões científicas estrangeiras que vinham dos Estados Unidos e da
Inglaterra e os ajudaria a se instalar. O Tesouro, no entanto, não havia
disponibilizado os valores garantidos pelo Congresso Nacional para esse fim e
nem teria condições de fazê-lo a tempo. “Impossível! Não há tempo! Transfira-se
o eclipse para quando se anunciar...”, teria dito o encarregado pela liberação
dos valores. Em matéria semelhante, publicada na revista Careta em 10 de
maio de 1919, o autor destacava a necessidade da comissão científica brasileira
partir do Rio de Janeiro para o Ceará, sob o risco de perder a oportunidade de
observar o fenômeno caso se demorasse. Na página 30 da edição 568 é possível
ler: “Os astrônomos brasileiros também deviam partir. Sua partida, porém,
dependia da aquiescência do Tribunal de Contas à abertura do crédito. Esse
nobre instituto entendeu, em sua alta sabedoria, distribuída por nove
iluminados cérebros, que não havia pressa, podendo o eclipse sem inconveniente
ficar adiado. Os astrônomos, com uma impertinência sideral, entenderam não
concordar com o adiamento do fenômeno celeste; mas o Tribunal é mais poderoso e
não concedeu o dinheiro, não por pirraça, mas porque nada tem a ver com essas
bobagens dos astrônomos.”Outros periódicos publicaram matérias semelhantes, mas a
pressão da imprensa foi insuficiente para alterar a situação. Henrique Morize
recorreu, então, à Barbosa Lima, político que presidia a Companhia de Navegação
Lloyd Brasileiro e que garantiu os recursos financeiros necessários, além do
navio que transportou os cientistas do Observatório Nacional para o Ceará, onde
a observação do eclipse de 1919 permitiria a confirmação da Teoria da
Relatividade Geral de Einstein.Esse evento nos permite pensar sobre os diferentes tempos:
aquele da ciência e o da administração pública. No caso da astronomia,
especialmente, a observação de efemérides celestes, como um eclipse do Sol, acontece
independentemente do tempo dos cientistas e daqueles responsáveis por financiar
suas pesquisas. Os fenômenos geralmente só podem ser observados em dias,
horários e locais específicos. Ao mesmo tempo, a falta de apoio governamental
para a liberação das verbas revela como, muitas vezes, falta aos responsáveis
pela administração pública o conhecimento específico das necessidades da
ciência e dos cientistas, inviabilizando uma maior colaboração entre ambas as
partes.

Notícia intitulada Navegação e Astronomia publicada na página 30 do número 568 da Revista Careta de 10 de maio de 1919. Sendo uma revista de cunho humorístico, a Careta publicava notícias bem-humoradas e satíricas sobre acontecimentos políticos, científicos e culturais no país. Editada no Rio de Janeiro entre 1908 e 1960, a revista era ilustrada e contava, também, com inúmeras charges.Na notícia destacada, a redação apontava como o Tribunal de Contas colocava em risco a expedição para a observação do eclipse total do Sol em Sobral organizada pelo Observatório Nacional e chefiada por seu diretor, Henrique Morize. Enquanto as comissões estrangeiras, vindas dos Estados Unidos e da Inglaterra, já se deslocavam para o Ceará, os astrônomos brasileiros esperavam a liberação das verbas. Na notícia, seu autor afirma:“Os astrônomos brasileiros também deviam partir. Sua partida, porém, dependia da aquiescência do Tribunal de Contas à abertura do crédito. Esse nobre instituto entendeu, em sua alta sabedoria, distribuída por nove iluminados cérebros, que não havia pressa, podendo o eclipse sem inconveniente ficar adiado. Os astrônomos, com uma impertinência sideral, entenderam não concordar com o adiamento do fenômeno celeste; mas o Tribunal é mais poderoso e não concedeu o dinheiro, não por pirraça, mas porque nada tem a ver com essas bobagens dos astrônomos.”Por fim, o periódico dá a conclusão da trama: Henrique Morize havia recorrido ao político Barbosa Lima, então presidente da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, que havia garantido "além da passagem, lhes dar também roupa lavada e engomada, e dinheiro para o bolso". A conclusão revela, também, a escolha do título da notícia. Por se tratar de um empréstimo oriundo de uma empresa de navegação, o autor faz alusão à histórica relação entre a navegação e a astronomia, ciência que foi fundamental para que os navegantes se orientassem pelo céu e alcançassem seus destinos durante muitos séculos.

Notícia da Revista Careta sobre "Navegação e Astronomia"

Notícia publicada na página 22 do número 867 de 26 de abril de 1919 da revista O Malho, editada no Rio de Janeiro. Conhecida pelo tom bem humorado das sátiras que publicava, O Malho foi um periódico semanal de grande circulação pelo país entre seu surgimento, em 1902, e sua última edição, em 1952. Suas charges e caricaturas são muito utilizadas por historiadores como fontes para a análise histórica de eventos políticos, científicos e culturais que ocorreram no Brasil.

Notícia de O Malho sobre "O eclipse e a burocracia"

O eclipse de Sobral de 1919 e a burocracia

Quando Emmanuel Liais chegou ao Brasil, em 1858, estava acompanhado apenas de sua esposa e de uma carta de recomendação assinada pelo ministro da instrução pública da França, seu país natal. O documento foi importante para que fosse convidado para integrar a expedição organizada pelo Observatório Nacional, então Imperial Observatório do Rio de Janeiro, para a observação do eclipse total do Sol em Paranaguá. No Brasil, foi bem recebido pela comunidade científica e, especialmente, pelo Imperador D. Pedro II. Na França, sua relação com Urbain Le Verrier, astrônomo com quem trabalhava no Observatório de Paris, estava desgastada por desavenças entre os dois. Por uma confluência desses fatores, Liais decidiu permanecer no Brasil e, nos anos seguintes, foi convidado para participar de diversas viagens científicas pelo território brasileiro. Durante esse período, também fortaleceu seus laços com a comunidade científica do país e com o imperador, responsável por convidá-lo para assumir a direção do observatório do Rio de Janeiro em 1870. Sua direção foi marcada por mudanças na orientação do observatório, algumas polêmicas e muitas publicações.Dentre elas, podemos destacar o livro L'espace céleste et la nature tropicale (O espaço celeste e a natureza tropical), lançado em francês em 1865. O livro traz o relato de viagens feitas pelo território brasileiro, com observações sobre a natureza tropical do país. Além disso, a obra é um tratado de astronomia, de física celeste e terrestre, ricamente ilustrado com 40 gravuras e escrito em uma linguagem acessível que pretendia divulgar informações científicas para um público que não ficasse restrito aos astrônomos e outros cientistas. Liais considerava que muitas pessoas se interessavam pelas “maravilhas do céu”, mas poucas tinham uma compreensão da astronomia, principalmente por dificuldade em entender a matemática necessária para os cálculos astronômicos. Por esse motivo, decidiu eliminar essa barreira e não incluir fórmulas matemáticas e figuras geométricas em sua obra, esperando que assim seu livro tivesse apelo a um público mais amplo, “especialmente às gentes do mundo e à juventude”. “Se, para poder ser compreendido por todo mundo sou obrigado a sacrificar a forma de exposição usual e demasiado científica, peço [aos astrônomos] que me perdoem e a entendam como prova do meu desejo de popularizar a bela ciência à qual se dedicam”, confessou logo nas primeiras páginas.Ao longo de seus 22 capítulos, escreveu sobre a constituição do Sol e da Lua, sobre o clima, sobre as observações dos eclipses de 7 de setembro de 1858 e 25 de abril de 1865, sobre cometas, meteoros, planetas, estrelas e outros corpos celestes, além da natureza tropical brasileira. Ao observar o céu e a terra, Liais foi considerado pelo físico Jacques Babinet, que assina o prefácio da obra, como um “bom observador tanto da terra quanto do céu”, destacando ainda que “a arte de observar é o fundamento da ciência”. Por fim, cabe também sublinhar que a obra teve a colaboração de cientistas brasileiros, como o botânico Ladislau de Souza Mello Netto, que acompanhou Liais em algumas de suas viagens e contribuiu com croquis e desenhos que foram utilizados pelo artista Yan' Dargent como base para as ilustrações.

Na capa de "O espaço celeste e a natureza tropical. Descrição física do universo a partir de observações pessoais feitas dos dois hemisférios" (1865), de Emmanuel Liais, observamos uma gravura de Yan' Dargent. A cena mostra um raio partindo de um céu escuro e nublado atingindo o chão próximo de um homem montado sobre um cavalo. Assustado, o cavalo inclina-se para trás. Abaixo temos informações sobre a cidade onde foi publicado, nome da editora e ano de publicação.

O Espaço Celeste e a Natureza Tropical

Publicação do livro "L'espace céleste et la nature tropicale" por Emmanuel Liais em 1865

A passagem do cometa Halley em 1910 agitou o cotidiano da população no Rio de Janeiro e foi muito noticiada na imprensa. Várias explicações para o fenômeno foram dadas, inclusive por cientistas da época, mas prevalecia no imaginário popular a possibilidade de o mundo acabar durante do evento astronômico. Para muitos, o cometa liberava um gás tóxico que se espalhava pela Terra, causando asfixia nas pessoas. Para outros, o gás causaria um ataque de histeria coletivo. Essas ideias ganharam as páginas de jornais pelo mundo, logo após a veiculação de notícias distorcidas no jornal The New York Times daquele ano, referentes a um estudo sobre a composição da cauda dos cometas.Além dessas, ainda era noticiado que o cometa entraria em rota de colisão com a Terra, causando o fim catastrófico da humanidade, mesmo que astrônomos explicassem que isso seria improvável.Tais ideias estão apoiadas em costumes antigos que associam a passagem dos cometas a maus presságios e eventos ruins. Afinal, durante séculos a aparição desses astros era imprevisível e assustava homens e mulheres que viviam segundo os ciclos da Terra.A revista “Careta”, sediada no Rio de Janeiro, capital federal em 1910, veiculou diferentes notícias sobre a passagem do Halley, prevalecendo o tom de humor, sarcasmo e ironia no conteúdo. Esse tipo de revista cumpria uma função importante na divulgação de valores e costumes da época, por meio de fotografias, caricaturas e charges, alcançando um público não letrado.Na edição de n.100, a revista deu destaque à passagem do cometa por meio de caricaturas sobre o fim do mundo. O autor do desenho era o caricaturista José Carlos de Brito e Cunha (J. Carlos), que nos apresenta o cometa com feição humana, agressividade e colidindo com a Terra. Na cena, o astro rompe o equilíbrio do universo, protegido por Deus e seres celestiais, para destruir o planeta.É possível que o autor não estivesse narrando, tão somente, a desintegração de um mundo físico ocasionado pelo choque de um cometa, já anunciado pela ciência como inofensivo. J. Carlos, e outros caricaturistas que também retrataram o “perigoso” Halley na imprensa da época, estavam trazendo à tona a agitação e o colapso de “outros mundos”, vividos no dia-dia pela população. Afinal, tratava-se de um período de grandes transformações sociais na capital federal, como a agitação política de uma corrida presidencial intensa, choques entre valores antigos e modernos, conflitos constantes em uma sociedade herdeira do regime escravista e, ainda, o pouco acesso a informações científicas.É importante considerar que as caricaturas são complexas estratégias de comunicação e linguagem que utilizam a metáfora, ironia, metonímia e o exagero de características para promoverem a reflexão e a facilidade na compreensão do argumento. São ricas para o estudo de um dado momento histórico, pois estão em profunda sintonia com sua época de sua produção, e denotam valores e ideias passíveis de interpretação e reflexão.

Caricatura colorida presente na revista ilustrada “Careta”, edição de número 100, veiculada no dia 30.04.1910. O desenho foi produzido pelo caricaturista José Carlos de Brito e Cunha (J. Carlos) e, nele, o cometa Halley é representado rindo após o choque com a Terra, já em fase de reconstrução. O desenho é acompanhado pela legenda intitulada "O Globo terrestre bastante danificado entra em consertos".

Caricatura sobre a passagem do cometa Halley em 1910 e a "recuperação da Terra"

Caricatura colorida presente na revista ilustrada “Careta”, edição de número 100, veiculada no dia 30.04.1910. O desenho foi produzido pelo caricaturista José Carlos de Brito e Cunha (J. Carlos) e, nele, o cometa Halley é representado com feição humana e agressividade. &nbsp;O desenho é acompanhado pela legenda intitulada "O padre eterno prende os encarregados do tráfego celeste aos quais cabe a responsabilidade do desastre".

Caricatura sobre a passagem do cometa Halley em 1910 e o "tráfego celeste"

Caricatura colorida presente na revista ilustrada “Careta”, edição de número 100, veiculada no dia 30.04.1910. O desenho foi produzido pelo caricaturista José Carlos de Brito e Cunha (J. Carlos) e, nele, é representado um inquérito celestial apurando os responsáveis pela o trágico choque entre o cometa Halley e a Terra.&nbsp;O desenho é acompanhado pela legenda intitulada "O andamento do inquérito".

Caricatura sobre a passagem do cometa Halley em 1910 e o "inquérito celestial"

Caricatura colorida presente na capa da revista ilustrada “Careta”, edição de número 100, veiculada no dia 30.04.1910. O desenho foi produzido pelo caricaturista José Carlos de Brito e Cunha (J. Carlos) e, nele, o cometa Halley é representado com feição humana e agressividade. Na cena que descreve o fim do mundo, personagens celestiais demonstram surpresa com a trajetória do cometa e o consequente choque do astro com a Terra. &nbsp;O desenho é acompanhado pela legenda intitulada “Profecias - O Fim do Mundo – O cometa Halley choca-se contra a Terra”.

Caricatura sobre a passagem do cometa Halley em 1910 e o “fim do mundo”

A passagem do cometa Halley em 1910 na revista ilustrada “Careta”

Farmacopeia é o nome que damos a uma espécie de livro de receitas para medicamentos, onde seus princípios ativos, fórmulas e especificações são cuidadosamente registrados para garantir o mesmo padrão no preparo de remédios, assegurando a sua eficácia e segurança. Não é incomum, portanto, que cada país possua a sua farmacopeia, de forma a garantir a padronização dos medicamentos produzidos e utilizados em todo o território nacional. No Brasil, a primeira edição da Farmacopeia Brasileira foi publicada em 1929. Com o avanço nas tecnologias de preparo de medicamentos, o desenvolvimento de novas fórmulas e a revisão das mais antigas, as farmacopeias são periodicamente revisadas. A Farmacopeia Brasileira de 1929 foi revisada em diversas ocasiões, com novas edições sendo publicadas em 1959, 1976, 1988 (esta, publicada em fascículos entre 1996 e 2005), 2010 e, mais recentemente, 2022. A terceira edição, de 1988, foi aprovada por decreto já em 1976, sendo posteriormente criada uma Comissão de Revisão da Farmacopeia Brasileira que, por meio de um convênio entre a Fundação Oswaldo Cruz e a Comissão Nacional de Energia Nuclear encarregaram a química Bartyra de Castro Arezzo da confecção da parte sobre radiofármacos. Formada em Química pela Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bartyra fez importantes contribuições para o desenvolvimento tecnológico nacional no campo nuclear. Dividindo seu tempo entre a sala de aula e o laboratório, ela trabalhou em importantes instituições como o Instituto de Engenharia Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e é considerada uma das mulheres mais importantes na história da físico-química brasileira. Foi sua experiência no campo nuclear que garantiu sua posição na redação da parte de radiofármacos, preparações farmacêuticas radioativas, compostas pela mistura de um radioisótopo com um elemento não radioativo. São muito utilizados em exames de imagem como tomografias, ressonâncias magnéticas nucleares e para o tratamento de alguns tipos de tumores. A partir da consulta e adaptação da terceira edição da Farmacopeia Internacional de 1980 e da 20ª edição da United States Pharmacopeia do mesmo ano, Bartyra produziu um manual de 25 páginas que define o que são radiofármacos, dá informações sobre a detecção e medição da radioatividade dessas preparações, expõe sobre procedimentos de análise e apresenta diversos gráficos. No gráfico destacado, Bartyra demonstra os picos de energia dos raios gama, um tipo de radiação de alta frequência, após explicar que essa radiação varia em função de sua interação com a matéria e com a radiação de fundo, um tipo de radiação eletromagnética presente em todo lugar. Atualmente, o órgão responsável pela produção dos radioisótopos usados na fabricação de radiofármacos no Brasil é o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), responsável por atender cerca de 2 milhões de pacientes por ano no Brasil, uma contribuição importante para a saúde pública no país, o que demonstra como o financiamento público por parte do Estado é fundamental para a área da saúde.

Gráfico de autoria de Bartyra de Castro Arezzo, incluído na seção de radiofármacos redigida por ela e incluída na terceira edição da Farmacopeia Brasileira. No gráfico ela demonstra os picos de energia dos raios gama, um tipo de radiação de alta frequência, após explicar que essa radiação varia em função de sua interação com a matéria e com a radiação de fundo, um tipo de radiação eletromagnética presente em todo lugar. No gráfico são apresentados os valores corrigidos após essas interações.

Gráfico do espectro típico de raios gama por Bartyra Arezzo

Publicação da parte de radiofármacos da Farmacopeia Brasileira de 1988

Por ocasião da passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 1882, o Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro organizou três expedições destinadas a observar o evento em lugares diferentes no Brasil, nas Antilhas e no Chile. No entanto, se tratando de um período em que a instituição sofria com falta de instrumentos e de pessoal, foi necessário recorrer ao governo imperial para pedir auxílio financeiro para arcar com os custos desta empreitada que poderia contribuir com o conhecimento da distância entre a Terra e o Sol. Duas solicitações de verba foram encaminhadas ao governo e discutidas na câmara dos deputados. A primeira tinha como autor o ministro do império Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas, do Partido Liberal. A segunda, foi encaminhada por Bento Francisco de Paula Souza, ministro da Marinha.Os pedidos geraram um grande debate, de aparência muito contemporânea. Uma ala conservadora contrária aos gastos, nas quais estava incluído o deputado Antônio Ferreira Viana, rejeitava a ciência por não ver sua aplicação prática e imediata. Consideravam a astronomia uma ciência distante da sociedade e o estudo dos astros um passatempo exótico. Eles defendiam que, ao invés da ciência, o governo deveria investir no agronegócio, uma vez que as secas ocorridas entre 1877 e 1879 haviam reduzido a produção de alguns dos principais gêneros de exportação do país, como o café. Em oposição, uma ala progressista, que incluía o ministro Rodolfo Dantas, compreendia que os gastos com a ciência eram um investimento no desenvolvimento da nação. Para eles, o trânsito de Vênus trazia uma oportunidade para que o país contribuísse com as nações europeias na marcha para o progresso da humanidade.As discussões ganharam as páginas de jornais e revistas. A astronomia, que já era um tema relativamente popular nos periódicos de divulgação científica da época, ganhou as páginas das principais publicações com as disputas na câmara dos deputados. No número 293 da Revista Illustrada, os editores resumiram os acontecimentos da semana na câmara dizendo:“Segunda-feira, é ainda Vênus que traz o Sr. Ferreira Viana à tribuna. Vênus deve estar satisfeita dessa homenagem, embora às avessas; mas sempre mais agradável do que a indiferença. [...] Terça-feira, ainda Vênus... Muito amor a Vênus devem ter os nossos deputados. Amor a Vênus ou à retórica. Porque olhem que se tem feito muitos discursos para não se dizer coisa nenhuma.”As charges, que também eram muito utilizadas como narrativas do cotidiano e instrumento de crítica social nos periódicos do século XIX, também satirizavam a questão do financiamento do governo aos cientistas. No número 317, a Revista Illustrada resumiu a questão em sua capa, com D. Pedro II montado sobre uma luneta, voando pelo espaço, com a legenda: “Viagem imperial e astronômica no mundo das estrelas”. Dias depois, na edição 323, a revista apresentava duas páginas repletas de charges que representam diversos acontecimentos políticos e sociais que abalavam o país no período, como uma epidemia de varíola e problemas com o abastecimento de gás no Rio de Janeiro. A atitude do imperador face as mazelas era resumida em uma imagem que mostrava o monarca sentado em frente à uma luneta, olhando para o céu, com a legenda: “Tudo isso pouco abala o nosso Imperial Senhor que cada vez está mais entretido a contemplar Vênus”.

Charge apresentada na capa do número 317 da Revista Illustrada em 1882 representando o imperador D. Pedro II montado sobre uma luneta, acompanhado do mascote da revista, voando pelos céus com a legenda: "Viagem imperial e astronômica no mundo das estrelas". A charge faz referência aos debates na câmara dos deputados sobre o financiamento do governo para a expedição astronômica para observar o trânsito de Vênus planejada pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro.

Gravura da Revista Illustrada com D. Pedro II montado em uma luneta

Repercussão do trânsito de Vênus de 1882 nos periódicos brasileiros

Fundada no Rio de Janeiro em 1907, a revista ilustrada Fon-Fon: Semanário Alegre, Político, Crítico e Espusiante costumava publicar em suas páginas matérias críticas e bem-humoradas que abordavam aspectos diversos da vida sociocultural do Brasil da primeira metade do século XX. Geralmente ilustrada e recheada de charges e caricaturas, a revista contou com a colaboração de muitos artistas e intelectuais de renome, como Di Cavalcanti e Lima Barreto. Além de informar sobre as modernidades que surgiam no país, como os automóveis (o nome da revista fazia alusão ao som das buzinas que começavam a ser ouvidas no centro da cidade), a revista também organizava periodicamente concursos nacionais abertos à votação popular. Em sua edição número 39, de 27 de setembro de 1924, um novo concurso era apresentado ao público, com a seguinte pergunta: Quais os maiores brasileiros vivos?"Trata-se, neste concurso, de saber quais os maiores brasileiros vivos, sem cogitações políticas, ou de outra qualquer espécie de sentimentos que não o de admiração sincera", informava ao leitor, que poderia votar preenchendo um cupom que acompanhava a revista e deveria ser enviado, por correio, para a redação da Fon-Fon. No total, o concurso incluía 17 categorias, que incluía os maiores estadistas, militares, poetas, escritores, artistas, músicos, atores, cantores, sábios, engenheiros, médicos, jurisconsultos (isto é, jurista ou pessoa formada em direito), industriais, financistas, inventores, educadores e sportsmen (atletas).Os resultados foram contabilizados e divulgados, primeiramente, em 28 de março de 1925 na página 29 da edição número 13 daquele ano. Para cada categoria, a revista informou quais foram os três nomes mais votados pelo público, totalizando 51 personalidades, "todos nomes vantajosamente conhecidos nos vários círculos das atividades materiais e mentais do país". Em sua edição seguinte, a revista novamente voltou a publicar os resultados, desta vez apresentando fotografias dos vencedores em um grande painel de página dupla.Em várias categorias podemos encontrar os nomes de conhecidos cientistas brasileiros, como o engenheiro Paulo de Frontin, que ficou em primeiro lugar na categoria engenheiros, Santos Dumont, vencedor da categoria inventores, ou Miguel Couto, que liderou na categoria médicos. Uma categoria, contudo, chama especial atenção porque seus candidatos não são definidos por sua formação, atuação ou profissão. Sem uma definição para cada categoria, cabia aos leitores identificarem quem eram aqueles que consideravam os sábios, elegendo-os para as três posições disponíveis. Nos resultados parciais apresentados em algumas edições, antes da contabilização final, é possível identificar que alguns nomes indicados para a categoria sábios também concorriam em outras, principalmente nas categorias engenheiros e médicos, o que nos revela que havia uma relação direta entre quem o público leitor da Fon-Fon considerava sábio com a figura do cientista, reconhecido por seu conhecimento profundo sobre alguma área.Foi justamente um médico o primeiro vencedor na categoria sábios. Vital Brasil foi médico, imunologista, sanitarista e ficou reconhecido, especialmente, por suas pesquisas com animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões, tendo desenvolvido soros e tratamentos que ajudaram a salvar as vidas das pessoas que eram picadas por esses animais. Na época do concurso, Vital Brasil já havia fundado e dirigido o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. Recebeu um total de 18.918 votos.Em segundo lugar, com 15.956 votos, o público elegeu Henrique Morize que, embora tenha nascido na França, naturalizou-se brasileiro. Engenheiro e astrônomo, Morize foi diretor do Observatório Nacional e teve um papel importante na organização da expedição brasileira que observou o eclipse total do Sol em Sobral em 1919. Poucos anos antes do concurso, Morize havia sido um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências.Por fim, com 14.593 votos o terceiro lugar foi ocupado por Raimundo Teixeira Mendes, filósofo, matemático e um dos criadores da bandeira do Brasil. Influenciado pelo positivismo de Augusto Comte, foi um dos responsáveis pelo lema "ordem e progresso" que aparece no centro da nossa bandeira. Já com 70 anos na época do concurso, Teixeira Mendes também era reconhecido pelo público por sua participação em importantes momentos da história republicana do país.

Nas páginas 46 e 47 da edição número 14, ano XIX, da Revista Fon-Fon, publicada em 4 de abril de 1925, o periódico divulgou o resultado do concurso nacional "Os maiores brasileiros vivos". Por meio de votação popular, realizada entre seu público leitor, a Fon-Fon elegeu 51 personalidades, "todos nomes vantajosamente conhecidos nos vários círculos das atividades materiais e mentais do país", divididas em 17 categorias. Dentre os escolhidos, destacamos, na categoria "Sábios", o nome de Henrique Morize, astrônomo que dirigiu o Observatório Nacional e alcançou, com 15.956 votos, o segundo lugar, perdendo apenas para o médico Vital Brazil (18.918 votos). Enquanto no número 13 da mesma revista o resultado foi divulgado apenas em forma de lista, o número 14 apresenta fotografias das mesmas personalidades em um painel de página dupla.

Resultado do concurso nacional "Os maiores brasileiros vivos" na Revista Fon Fon, número 14

Na página 29 da edição número 13, ano XIX, da Revista Fon-Fon, publicada em 28 de março de 1925, o periódico divulgou o resultado do concurso nacional "Os maiores brasileiros vivos". Por meio de votação popular, realizada entre seu público leitor, a Fon-Fon elegeu 51 personalidades, "todos nomes vantajosamente conhecidos nos vários círculos das atividades materiais e mentais do país", divididas em 17 categorias. Dentre os escolhidos, destacamos, na categoria "Sábios", o nome de Henrique Morize, astrônomo que dirigiu o Observatório Nacional e alcançou, com 15.956 votos, o segundo lugar, perdendo apenas para o médico Vital Brazil (18.918 votos).

Resultado do concurso nacional "Os maiores brasileiros vivos" na Revista Fon Fon, número 13

Resultado do concurso nacional "Os maiores brasileiros vivos" da Revista Fon Fon

Uma consulta ao acervo do astrônomo, engenheiro e matemático Manuel Amoroso Costa revela ao pesquisador muitos documentos interessantes sobre sua trajetória e sobre os temas que pesquisou ao longo de sua carreira que incluiu cargos como professor na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e na Universidade de Paris, além da direção do Observatório do Valongo. É possível encontrar correspondências trocadas com colegas cientistas, cadernos de anotações, fotografias, recortes de jornais e um mistério.No documento designado “rascunhos de mecânica celeste” pelo Arquivo de História da Ciência do MAST, as duas últimas páginas destoam das primeiras por conterem ilustrações. A primeira imagem, também disponível em formato de diapositivo, o que pode indicar que foi apresentada durante aulas ou palestras, foi identificada como “desenho mostrando a distribuição de braços espirais ao redor de uma galáxia (espiral)”. Nela, vemos um círculo ao centro rodeado por linhas sinuosas contínuas e tracejadas que dão a ilusão de movimento. Números de um a três aparecem em ambos os lados do círculo, indicando os pontos em que as linhas tracejadas intersecionam a única linha contínua em cada lado. Já na última página, vemos um desenho a lápis. No interior de uma elipse, a figura da imagem anterior parece se repetir, ladeada por um conjunto de círculos inseridos em um círculo irregular maior. Os espaços em branco são preenchidos por linhas que dão a ideia de movimento. O que estaria sendo representado?A identificação encontrada no Arquivo de História da Ciência, que afirma se tratar de uma galáxia espiral, é disputada. Alguns astrônomos consultados afirmaram que esta não era uma das áreas de pesquisa de Amoroso Costa e sugerem outras respostas: lóbulos de Roche, esquemas para descrever trajetórias de partículas, fluídos turbulentos. Sobre um aspecto, no entanto, todos estão de acordo: os desenhos não estão relacionados com os cálculos apresentados nas páginas anteriores. No topo da primeira página, as únicas palavras escritas em todo o documento revelam o tema das equações: o problema de n + 1 corpos.Na matemática e na mecânica celeste o problema dos n-corpos se refere à capacidade de prever a movimentação de corpos celestes. Por conta da interação gravitacional entre eles, o problema se torna difícil quanto mais se adiciona corpos celestes. A partir de três corpos já se torna impossível encontrar uma solução sem recorrer a condições especiais. Há mais de 300 anos, cientistas como Isaac Newton, Galileu, Leonhard Euler, entre outros, tentam chegar a uma solução e, em 1887, o rei Óscar II da Suécia ofereceu um prêmio a quem encontrasse a resposta. O vencedor foi Henri Poincaré que, apesar de não ter encontrado uma solução perfeita, apresentou uma proposta que contribuiu para o desenvolvimento do que conhecemos hoje como teoria do caos.E qual a relação entre o problema de n-corpos e as ilustrações? Esse é o mistério. Ainda que não seja possível desvendar o que as imagens representam, elas nos fazem refletir sobre diversas questões: as ilustrações foram feitas por Amoroso Costa? Em que contexto as teria utilizado? Teria sido ele que juntou os desenhos com as páginas anteriores, cheias de equações, ou teria sido essa organização um acontecimento posterior na trajetória desses papéis? Por que foram identificadas como galáxias espirais? Essas são apenas algumas das questões que os historiadores se colocam durante a pesquisa em História das Ciências e da Tecnologia.

Conjunto de seis folhas com rascunhos de mecânica celeste manuscritos por Manoel Amoroso Costa em data indeterminada. Nas duas primeiras páginas, diversas equações fazem referência ao problema de N+1 corpos, mas as páginas seguintes possuem conteúdos distintos. Nas duas últimas páginas, ilustrações - uma delas, feita à mão - apresentam círculos e linhas que indicam movimento.

Rascunhos de mecânica celeste de Amoroso Costa

Amoroso Costa e um problema matemático com mais de 300 anos

O anuário do Observatório Nacional é uma das mais antigas e longevas publicações científicas do Brasil. Seu primeiro número data de 1852 quando foi editado pela Typographia Nacional e lançado com o título Ephemerides do Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, nome oficial da instituição na época. Na astronomia, o termo “efemérides” se refere ao registro da posição dos astros em tabelas que permitem acompanhar eventos astronômicos como a passagem de planetas, os eclipses e as mudanças de fase da Lua. Por esse motivo, é costume publicá-las em antecedência, de forma a divulgar onde e quando os eventos serão observáveis. Neste primeiro volume, foram utilizadas informações obtidas a partir do The Nautical Almanac, publicado na Inglaterra pelo Observatório Real de Greenwich, e o Connaissance des Temps, publicado pelo Observatório de Paris desde 1679. Os dados foram ajustados para observadores do Rio de Janeiro por meio de cálculos realizados pelo então diretor do Imperial Observatório Astronômico, o engenheiro militar Antônio Manoel de Mello e seus ajudantes, os bacharéis Francisco Duarte Nunes e José Francisco de Castro Leal e os oficiais da Armada Jerônimo Pereira de Lima Campos e Francisco da Cunha Galvão. Em suas quase 300 páginas é possível encontrar informações sobre as posições de corpos conhecidos do sistema solar, incluindo planetas, satélites e 114 estrelas, as distâncias entre a Lua e outros corpos celestes, previsões para eclipses do Sol e da Lua, além de efemérides para planetas como Mercúrio, Vênus, Marte, Saturno e Urano, e uma listagem dos instrumentos científicos que a instituição possuía.A publicação de um anuário contendo as principais efemérides astronômicas era uma das atividades planejadas para o observatório desde o seu primeiro regulamento, estabelecido pelo decreto nº 457 de 22 de julho de 1846. Contudo, as dificuldades sofridas com a falta de recursos, de instrumentos e de pessoal, ocasionaram que o primeiro volume fosse editado apenas em 1852. Apesar do atraso, o anuário seguiu sendo publicado continuamente e sua história acompanha a do próprio Observatório Nacional, como é possível perceber pelas mudanças no nome da publicação. Inicialmente intitulado Ephemerides do Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, seu nome foi alterado para Annuario do Imperial Observatório do Rio de Janeiro em 1872 quando a instituição começou a transformar a sua identidade, até então profundamente marcada pelo caráter utilitarista da prestação de serviços em astronomia, geodésia e metrologia. Nova mudança ocorreu em 1890, logo após a Proclamação da República, quando o anuário passou a intitular-se Annuario do Observatório do Rio de Janeiro. Em 1911, após a autorização da transferência do Morro do Castelo para um novo local, a publicação recebeu o nome de Annuario do Observatório Nacional. Já em 1977, por ocasião da celebração de 150 anos de criação do observatório, seu nome foi alterado para homenagear aquele utilizado originalmente, sendo chamado de Efemérides Astronômicas do Observatório Nacional. Por fim, desde 2000, o anuário entrou no novo século com novo título, mantido até hoje: Anuário do Observatório Nacional. Desde o seu primeiro número, o anuário do Observatório Nacional é uma publicação científica importante para astrônomos, geodesistas, topógrafos, cartógrafos e profissionais de áreas correlatas por divulgar informações necessárias para cálculos e atividades teóricas e de campo nessas áreas.

Na capa das "Ephemerides do Imperial Observatório Astronômico para o anno de 1853" observamos o título da publicação, o brasão da Casa Imperial do Brasil, a cidade onde foi publicado, nome da editora e ano de publicação. Ao longo das páginas são apresentados dados astronômicos úteis à navegação, à geodésia e à agricultura, bem como informações sobre efemérides astronômicas previstas para o ano de 1853 e as posições de 114 estrelas e outros corpos conhecidos do sistema solar.

Efemérides do Imperial Observatório Astronômico para o ano de 1853

Publicação do primeiro número das Efemérides do Imperial Observatório Astronômico

<h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">O PROJETO</h3> O Portal de História da Ciência e da Tecnologia no Brasil é um projeto desenvolvido pela Coordenação de História da Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), situado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Nosso objetivo é divulgar a história da ciência e da tecnologia brasileira a partir de documentos históricos preservados em instituições de pesquisa, como o próprio MAST. Os documentos digitalizados são cadastrados em uma base de dados onde são inseridas informações sobre sua procedência, autoria, datação, entre outros dados importantes para o conhecimento dos seus contextos de produção e circulação. Além disso, cada documento é associado a um evento na história da ciência e da tecnologia brasileira, que é descrito por especialistas em textos autorais voltados para o público não especializado. Por meio de ferramentas interativas que permitem a construção de linhas do tempo e mapas personalizados, esperamos ser uma fonte de estudos capaz de contribuir para tornar as ciências e os cientistas brasileiros mais conhecidos entre nós. Desde 2019, o projeto foi desenvolvido com recursos do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) por meio do edital n° 36/2021 - “Apoio à Editoração e ao Audiovisual Comemorativo do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna”, e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) por meio do projeto “A Cultura Científica no Brasil: Espaços Multiusuários de Ciência e Tecnologia no MAST”. <h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">A EQUIPE</h3> Coordenação: Heloisa Meireles Gesteira Desenvolvimento e pesquisa: Anderson Pereira Antunes Mariza Pinheiro Bezerra Modelagem do sistema de informação: Sergio Emanuel Dias Campos Base de dados e desenvolvimento do site: Victor Yañez Colaboração: Coordenação de História da Ciência e da Tecnologia (MAST)

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Em indivíduos e instituições, destacamos não só cientistas com instrução formal, mas todos os indivíduos que contribuíram com a construção do conhecimento científico. Em alguns contextos, como determinadas expedições científicas, indígenas e escravizados, entre outros, foram importantes colaboradores e, por isso, merecem lugar na história da ciência e da tecnologia brasileira. Ao mesmo tempo, evidenciamos também os espaços de ciência - formais ou não - onde esses indivíduos circularam e atuaram.

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A história da ciência por meio de seus atores e espaços.

Em artefatos e natureza, pretendemos evidenciar as relações entre o natural e o artificial. Entre os artefatos, destacam-se os instrumentos científicos que permitem, por exemplo, observar tanto aquilo que é invisível ao olho nu, como os átomos, quanto aquilo que se encontra muito distante de nós, como as estrelas. Ao mesmo tempo, também podemos considerar como artefatos as representações da natureza, como desenhos e gráficos.

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Em política científica e cooperação internacional, ressaltamos as relações entre a política - interna e externa - e a ciência. Por um lado, a ciência pode orientar algumas tomadas de decisões políticas que impactam diretamente em nossas vidas. Da mesma forma, negar a ciência pode ter efeitos catastróficos. Por outro lado, sem políticas de incentivo e financiamento, não há ciência. Essa relação funciona, portanto, em via de mão dupla e muitas vezes envolve atores nacionais e internacionais.

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Em conexões e logística, priorizamos um dos efeitos do avanço científico e tecnológico no mundo moderno: tornar o mundo mais conectado. Entre o estabelecimento dos primeiros sistemas de correios e telégrafos até a conexão instantânea por meio da internet, a ciência e a tecnologia foram elementos fundamentais na construção do mundo globalizado no qual vivemos atualmente.

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O papel da ciência na construção de um mundo conectado.

Em observações e experimentos, ressaltamos dois processos importantes na construção do conhecimento científico. As observações dos fenômenos naturais, orientadas por conhecimentos prévios, assim como os experimentos que reproduzem fenômenos naturais, fornecem suporte para a comunidade científica construir modelos, testar hipóteses e formular teorias para explicar o funcionamento da natureza.

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