Embora tivesse apenas 15 anos, D. Pedro II teve sua maioridade antecipada para poder assumir o trono como imperador do Brasil em 1840. Conhecido por ser um monarca ilustrado e um amigo das ciências, seu governo é marcado pela expansão da urbanização, pelo desenvolvimento das ciências, pela prosperidade econômica impulsionada pela exportação do café, pela abolição da escravatura, mas também pela Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, maior conflito bélico na história do país.

Segundo Reinado

Por ocasião da passagem do planeta Vênus pelo disco solar em 1882, o Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro organizou três expedições destinadas a observar o evento em lugares diferentes no Brasil, nas Antilhas e no Chile. No entanto, se tratando de um período em que a instituição sofria com falta de instrumentos e de pessoal, foi necessário recorrer ao governo imperial para pedir auxílio financeiro para arcar com os custos desta empreitada que poderia contribuir com o conhecimento da distância entre a Terra e o Sol. Duas solicitações de verba foram encaminhadas ao governo e discutidas na câmara dos deputados. A primeira tinha como autor o ministro do império Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas, do Partido Liberal. A segunda, foi encaminhada por Bento Francisco de Paula Souza, ministro da Marinha.Os pedidos geraram um grande debate, de aparência muito contemporânea. Uma ala conservadora contrária aos gastos, nas quais estava incluído o deputado Antônio Ferreira Viana, rejeitava a ciência por não ver sua aplicação prática e imediata. Consideravam a astronomia uma ciência distante da sociedade e o estudo dos astros um passatempo exótico. Eles defendiam que, ao invés da ciência, o governo deveria investir no agronegócio, uma vez que as secas ocorridas entre 1877 e 1879 haviam reduzido a produção de alguns dos principais gêneros de exportação do país, como o café. Em oposição, uma ala progressista, que incluía o ministro Rodolfo Dantas, compreendia que os gastos com a ciência eram um investimento no desenvolvimento da nação. Para eles, o trânsito de Vênus trazia uma oportunidade para que o país contribuísse com as nações europeias na marcha para o progresso da humanidade.As discussões ganharam as páginas de jornais e revistas. A astronomia, que já era um tema relativamente popular nos periódicos de divulgação científica da época, ganhou as páginas das principais publicações com as disputas na câmara dos deputados. No número 293 da Revista Illustrada, os editores resumiram os acontecimentos da semana na câmara dizendo:“Segunda-feira, é ainda Vênus que traz o Sr. Ferreira Viana à tribuna. Vênus deve estar satisfeita dessa homenagem, embora às avessas; mas sempre mais agradável do que a indiferença. [...] Terça-feira, ainda Vênus... Muito amor a Vênus devem ter os nossos deputados. Amor a Vênus ou à retórica. Porque olhem que se tem feito muitos discursos para não se dizer coisa nenhuma.”As charges, que também eram muito utilizadas como narrativas do cotidiano e instrumento de crítica social nos periódicos do século XIX, também satirizavam a questão do financiamento do governo aos cientistas. No número 317, a Revista Illustrada resumiu a questão em sua capa, com D. Pedro II montado sobre uma luneta, voando pelo espaço, com a legenda: “Viagem imperial e astronômica no mundo das estrelas”. Dias depois, na edição 323, a revista apresentava duas páginas repletas de charges que representam diversos acontecimentos políticos e sociais que abalavam o país no período, como uma epidemia de varíola e problemas com o abastecimento de gás no Rio de Janeiro. A atitude do imperador face as mazelas era resumida em uma imagem que mostrava o monarca sentado em frente à uma luneta, olhando para o céu, com a legenda: “Tudo isso pouco abala o nosso Imperial Senhor que cada vez está mais entretido a contemplar Vênus”.

Charge apresentada na capa do número 317 da Revista Illustrada em 1882 representando o imperador D. Pedro II montado sobre uma luneta, acompanhado do mascote da revista, voando pelos céus com a legenda: "Viagem imperial e astronômica no mundo das estrelas". A charge faz referência aos debates na câmara dos deputados sobre o financiamento do governo para a expedição astronômica para observar o trânsito de Vênus planejada pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro.

Gravura da Revista Illustrada com D. Pedro II montado em uma luneta

Pedro II do Brasil

Antônio Ferreira Viana

Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas

Bento Francisco de Paula Souza

Comunicação

Repercussão do trânsito de Vênus de 1882 nos periódicos brasileiros

Criado em 1827, o atual Observatório Nacional é uma das instituições científicas mais antigas do país. Nos dias de hoje é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que realiza pesquisas e forma profissionais nas áreas de astronomia, astrofísica, geofísica e metrologia. Além disso, é responsável pela geração e distribuição da Hora Legal Brasileira e pela preservação de um acervo de que inclui milhares de obras raras e fotografias históricas.

Observatório Nacional

<h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">O PROJETO</h3> O Portal de História da Ciência e da Tecnologia no Brasil é um projeto desenvolvido pela Coordenação de História da Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), situado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Nosso objetivo é divulgar a história da ciência e da tecnologia brasileira a partir de documentos históricos preservados em instituições de pesquisa, como o próprio MAST. Os documentos digitalizados são cadastrados em uma base de dados onde são inseridas informações sobre sua procedência, autoria, datação, entre outros dados importantes para o conhecimento dos seus contextos de produção e circulação. Além disso, cada documento é associado a um evento na história da ciência e da tecnologia brasileira, que é descrito por especialistas em textos autorais voltados para o público não especializado. Por meio de ferramentas interativas que permitem a construção de linhas do tempo e mapas personalizados, esperamos ser uma fonte de estudos capaz de contribuir para tornar as ciências e os cientistas brasileiros mais conhecidos entre nós. Desde 2019, o projeto foi desenvolvido com recursos do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) por meio do edital n° 36/2021 - “Apoio à Editoração e ao Audiovisual Comemorativo do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna”, e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) por meio do projeto “A Cultura Científica no Brasil: Espaços Multiusuários de Ciência e Tecnologia no MAST”. <h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">A EQUIPE</h3> Coordenação: Heloisa Meireles Gesteira Desenvolvimento e pesquisa: Anderson Pereira Antunes Mariza Pinheiro Bezerra Modelagem do sistema de informação: Sergio Emanuel Dias Campos Base de dados e desenvolvimento do site: Victor Yañez Colaboração: Coordenação de História da Ciência e da Tecnologia (MAST)

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Em indivíduos e instituições, destacamos não só cientistas com instrução formal, mas todos os indivíduos que contribuíram com a construção do conhecimento científico. Em alguns contextos, como determinadas expedições científicas, indígenas e escravizados, entre outros, foram importantes colaboradores e, por isso, merecem lugar na história da ciência e da tecnologia brasileira. Ao mesmo tempo, evidenciamos também os espaços de ciência - formais ou não - onde esses indivíduos circularam e atuaram.

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Em artefatos e natureza, pretendemos evidenciar as relações entre o natural e o artificial. Entre os artefatos, destacam-se os instrumentos científicos que permitem, por exemplo, observar tanto aquilo que é invisível ao olho nu, como os átomos, quanto aquilo que se encontra muito distante de nós, como as estrelas. Ao mesmo tempo, também podemos considerar como artefatos as representações da natureza, como desenhos e gráficos.

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Em política científica e cooperação internacional, ressaltamos as relações entre a política - interna e externa - e a ciência. Por um lado, a ciência pode orientar algumas tomadas de decisões políticas que impactam diretamente em nossas vidas. Da mesma forma, negar a ciência pode ter efeitos catastróficos. Por outro lado, sem políticas de incentivo e financiamento, não há ciência. Essa relação funciona, portanto, em via de mão dupla e muitas vezes envolve atores nacionais e internacionais.

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