Foi por meio de um golpe liderado pelos militares que, em 1º de abril de 1964, teve início um dos períodos mais truculentos, repressivos e antidemocráticos da história brasileira. Diferentemente de uma democracia, onde o povo é soberano, uma ditadura concentra o poder nas mãos de um indivíduo ou grupo. Por meio de atos institucionais que suplantavam até mesmo a constituição, diversas liberdades civis foram cassadas e a oposição foi censurada, torturada e assassinada.

Ditadura Civil-Militar

Inicialmente inserido nas dependências da Escola Militar do Rio de Janeiro e, posteriormente, no Morro do Castelo, o Observatório Nacional foi transferido para o morro de São Januário, em São Cristóvão, na década de 1920, quase cem anos depois de sua fundação e após a insistência de diretores como Luiz Cruls e Henrique Morize. Muitos anos mais tarde, na década de 1980, o campus passaria por um processo conhecido como tombamento, no qual é inserido em uma lista de patrimônios públicos que devem ser preservados por seu reconhecido valor histórico e cultural.Esse processo teve início com o Grupo Memória da Astronomia, formado nas dependências do Observatório Nacional por astrônomos como Ronaldo Mourão. Em 1982, o grupo organizou a mesa redonda "Preservação da cultura científica nacional", da qual participaram destacados cientistas nacionais, como Carlos Chagas Filho, Crodowaldo Pavan, José Leite Lopes, Mário Schenberg, Maurício Peixoto, Shozo Motoyama, Simão Mathias, Lício da Silva, Luiz Muniz Barreto, George Zarur e a museóloga Fernanda de Camargo-Moro. As discussões sobre a preservação da memória da ciência e da tecnologia brasileiras, que incluíam sugestões como a organização de grupos de pesquisa e a criação de um museu, culminou com a redação de uma carta ao presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Lynaldo Cavalcanti, na qual destaca-se a sugestão do tombamento do campus, da biblioteca e dos instrumentos científicos.Em 1983, o processo de tombamento na esfera estadual foi iniciado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), que tombou provisoriamente o edifício sede que abrigou a administração do Observatório Nacional. O prédio de três andares, de arquitetura eclética, foi projetado por Mário de Souza com inspiração na arquitetura de observatórios francesa, e inclui ornamentos em estuque e gesso, escadarias em mármore, colunas gregas e vitrais decorativos, um deles com a imagem da musa da Astronomia na mitologia grega, Urânia. No ano seguinte, o tombamento foi anunciado no Boletim da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN)/Fundação Nacional Pró-Memória, que destacava como o processo de tombamento não afetaria as atividades científicas realizadas pela instituição.Enquanto o processo de tombamento estadual estava em trâmite, pois seria transformado em definitivo apenas em 1987 com a conclusão do processo E-03/31.273, teve início o tombamento na esfera federal pelo atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O processo, finalizado em 1986, foi registrado no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico número 95 com o número 1009-T-1979 e garante a proteção de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico do campus, incluindo dezesseis edificações de valor histórico e científico, como as cúpulas utilizadas para observação e a antiga residência do diretor, as lunetas, bem como a densa área arborizada inserida nos quase 44 mil metros quadrados de espaço localizado na Rua General Bruce, 586.Hoje, além da proteção do tombamento nas esferas estadual e federal, o patrimônio arquitetônico do campus de São Cristóvão fica sob a guarda do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), sendo considerados parte do acervo do museu, fundado em 1985. Como parte de suas atividades, o MAST abre suas portas para que o público possa visitar o espaço, entrar nos prédios históricos e conhecer o patrimônio histórico,
cultural e científico sob sua guarda.

Páginas 13 e 14 do número 33 do Boletim da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN)/Fundação Nacional Pró-Memória, publicado entre novembro e dezembro de 1984. O periódico, editado entre 1979 e 1989, tinha como objetivo divulgar as ações do sistema federal de preservação do patrimônio cultural em todo o Brasil. Distribuído de forma gratuita para diversas instituições ao redor do país, suas notícias eram redigidas de forma sucinta e sem os jargões técnicos da área de preservação, de forma que pudessem ser lidas e compreendidas pelo público que não fosse da área.Tratando do tombamento do campus do Observatório Nacional em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, o boletim apresenta duas páginas ilustradas com fotografias do campus e de dois instrumentos científicos históricos: uma luneta doada por D. Pedro II ao observatório e um quarto de círculo do século 19. O tombamento, que foi concluído de forma provisória em 1983, tornou-se definitivo em 1987. Além de apresentar informações sobre o processo de tombamento, do qual participaram astrônomos e profissionais do SPHAN, a notícia destaca que o processo de preservação não prejudicaria as atividades científicas realizadas na instituição.É interessante notar, ainda, a apresentação de um breve histórico da prática astronômica no Brasil, no qual o cosmógrafo português Bento Sanches da Orta é colocado como um dos pioneiros desta ciência no país, embora sua atuação tenha sido distinta daquela do Observatório Nacional, fundado oficialmente em 1827. A associação com Bento Sanches da Orta, no entanto, reproduzida em diversos meios de informação que tratam do tombamento do campus, é usada estrategicamente como elemento que garante maior historicidade ao observatório brasileiro.

Divulgação do tombamento do campus do Observatório Nacional em São Cristóvão no Boletim do SPHAN

Tombamento do campus do Observatório Nacional em São Cristóvão

Em indivíduos e instituições, destacamos não só cientistas com instrução formal, mas todos os indivíduos que contribuíram com a construção do conhecimento científico. Em alguns contextos, como determinadas expedições científicas, indígenas e escravizados, entre outros, foram importantes colaboradores e, por isso, merecem lugar na história da ciência e da tecnologia brasileira. Ao mesmo tempo, evidenciamos também os espaços de ciência - formais ou não - onde esses indivíduos circularam e atuaram.

Indivíduos e Instituições

A história da ciência por meio de seus atores e espaços.

Diferentemente da monarquia, na qual o poder é concentrado nas mãos de um rei ou imperador, na república espera-se que o poder emane do povo, que elege os seus representantes. Com o declínio do prestígio do governo de Pedro II, a ideia de se instituir uma república no Brasil começou a ganhar força. Existiram diversos projetos e várias tentativas regionais foram realizadas até que, em 15 de novembro de 1889, um golpe liderado pelos militares enviou o monarca para o exílio, tomando seu lugar.

Primeira República

A instalação da sede do Observatório Nacional é discutida desde a sua fundação em 1827. Originalmente inserido nas dependências da Escola Militar do Rio de Janeiro, ao
qual estava subordinado, a instituição não possuía espaço próprio até ser transferida para uma igreja jesuítica inacabada localizada no Morro do Castelo. Do alto do morro, os navios atracados no porto da cidade avistavam o balão que anunciava a "hora do Castelo", utilizada como referência para o ajuste dos relógios. O local, no entanto, não era apropriado e sofreu críticas por todos os diretores.&nbsp;Dentre eles, podemos destacar Luiz Cruls, que entre 1882 e 1886 publicou uma série de artigos sobre o tema na Revista do Observatório. Em sua primeira publicação destacou que, por ser "o único do Brasil", o observatório deveria ser instalado em um
local que permitisse a plena realização de todas as suas funções no estudo da astronomia, da física, da meteorologia, do magnetismo, da eletricidade atmosférica e da determinação da hora. Anos depois, em artigo intitulado Inconvenientes e defeitos do local atual, Cruls apontava que o edifício no Morro do Castelo não possuía a estabilidade necessária para o assentamento dos instrumentos, que estremeciam com cada salva de canhões que era disparada pelos navios no porto, prejudicando a precisão dos dados coletados. Outro defeito era a falta de espaço, pois as pequenas salas mal comportavam as grandes lunetas e os cientistas que as manipulavam. Por falta de espaço, instrumentos como a luneta doada pelo imperador Pedro II para o projeto Carta do Céu, por exemplo, jamais chegaram a ser montados. Além disso, a proximidade da cidade acarretava outros problemas, ocasionados pela fumaça das chaminés, os ruídos da movimentação urbana, a reverberação do calor e da luz solar nos telhados das casas, "bem como pela influência perturbadora das
massas de ferro sobre os instrumentos magnéticos". Em seu terceiro e
último artigo, Cruls defendia a transferência para a fazenda imperial de Santa
Cruz, doada por Pedro II. No entanto, não havia orçamento para a construção das
cúpulas necessárias para abrigar os instrumentos. Lélio Gama, que dirigiu o observatório entre 1951 e 1967, chegou a afirmar que o indeferimento do orçamento, por parte do congresso nacional, "chocava-se com o apoio moral que o Imperador dera ao pedido de Cruls".&nbsp;Só em 1910, já sob a direção de Henrique Morize, é que se iniciou a transferência do observatório. O Clube de Engenharia, do qual Morize fazia parte, coordenou o processo que avaliou 30 localidades no Rio de Janeiro, pontuando-as. Da nota máxima de 50, o Morro de São Januário, em São Cristóvão, alcançou 43 pontos, sendo escolhido para
abrigar a instituição. Uma notícia publicada no jornal A Noite, em 1912, informava mais sobre "onde será construída a futura sentinela dos céus", descrevendo o projeto do engenheiro João Baptista de Moraes Rego. No terreno de 35 metros de altitude seriam construídas as cúpulas para as lunetas, além de uma casa para administração, gabinetes de trabalho, laboratórios, biblioteca, museu, sala de conferências, depósito, oficina mecânica e residências para alguns funcionários, como o diretor. Embora a pedra fundamental tenha sido lançada em 1913, quando se iniciou a construção do
campus, a transferência das atividades do Observatório Nacional só foi completada em fevereiro de 1921. Atualmente, o antigo edifício sede, projetado pelo engenheiro Mário de Souza, abriga as exposições do Museu de Astronomia e Ciências Afins.

Notícia publicada na capa do número 342 do jornal A Noite, datada segunda-feira, 19 de agosto de 1912. O periódico, fundado no Rio de Janeiro, foi editado diariamente entre 1911 e 1957 e foi um dos jornais diários de maior circulação em sua época. Na notícia intitulada "O novo observatório. Onde será construída a futura sentinela dos céus. O que terá e o que é preciso fazer", o redator, não identificado, dá detalhes sobre a construção do campus do Observatório Nacional em São Cristóvão, informando sobre os edifícios que serão construídos, o orçamento necessário, o autor do projeto arquitetônico, entre outros detalhes.

Notícia do jornal "A Noite" sobre a construção do campus do Observatório Nacional em São Cristóvão

Transferência do campus do Observatório Nacional para São Cristóvão

A história do rádio é muito próxima da ciência, pois o desenvolvimento da transmissão radiofônica dependia do avanço de pesquisas em radioeletricidade. Nesta área, o padre Roberto Landell de Moura pode ser considerado um dos pioneiros da comunicação no Brasil e seu “transmissor de ondas” é considerado por muitos como o precursor do rádio, embora a invenção do aparelho seja atribuída ao italiano Guglielmo Marconi. No entanto, foi na década de 1920 que o rádio realmente despontou no Brasil, com a primeira transmissão oficial realizada no dia 7 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da independência, quando foi transmitido o discurso do então presidente Epitácio Pessoa. O sucesso da transmissão fez com que Edgar Roquette-Pinto, médico, antropólogo, etnólogo e educador, tenha se encantado com o potencial do rádio para divulgar a ciência. Reunindo-se com outros cientistas na Academia Brasileira de Ciências, criaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com o objetivo de contribuir para a educação e a divulgação científica.Fundada em 20 de abril de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi a primeira emissora de rádio do país. Sua fundação foi fruto de um movimento de cientistas e intelectuais, incluindo os que posaram para esta foto, onde podemos ver, em pé da esquerda para a direita: Dulcídio Pereira, Francisco Lafayette, Roquette-Pinto, Demócrito Seabra, Mário de Souza, Ângelo Maria da Costa Lima e Nestor Serra. Sentados, da esquerda para a direita: Carlos Guinle, Henrique Morize e Luiz Betim Paes Leme. O grupo pretendia que a rádio tivesse uma função educativa, propagando a ciência e a cultura para a população, sobretudo para os analfabetos que tinham na escuta a sua única forma de educação. Para Roquette-Pinto, a rádio seria “o livro dos que não sabiam ler”. Sua programação contava com cursos, lições e palestras sobre diversas áreas científicas, que dividiam a grade com programas voltados para públicos específicos, como mulheres e crianças, além de conselhos médicos e de higiene para a população em geral. Política, religião e propagandas comerciais eram proibidas pelo estatuto da rádio, que tinha como lema: “Pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”.Além da programação diária, a rádio editava duas revistas que contavam com artigos escritos por membros da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Letras e do Museu Nacional. Por seus estúdios, passaram importantes cientistas internacionais, como a física e química Marie Curie e o físico Albert Einstein, que gravou uma mensagem sobre a importância do rádio para a difusão da cultura e da ciência. No entanto, com a regulamentação da radiodifusão no Brasil na década de 1930, particularmente por meio da edição do Decreto nº 21.111, que determinava que as emissoras deveriam aumentar a potência de seus transmissores, a Rádio Sociedade viu-se impossibilitada de se adaptar aos novos padrões por questões financeiras. Logo, em 7 de setembro de 1936, foi doada ao Ministério da Educação e Saúde, na época dirigido por Gustavo Capanema, e rebatizada de Rádio Ministério da Educação. É interessante observar que, na mesma época, a implantação do Estado Novo, em 1937, fazia com que todos os assuntos educacionais passassem a ser rigidamente controlados e gerenciados pelo Estado. Herdeira da Rádio Sociedade, a atual Rádio MEC se mantém em operação, gerenciada pela Empresa Brasil de Comunicação, com um conteúdo que celebra a cultura brasileira.

Fotografia em preto e branco atribuída ao fotógrafo S. M. Lopes com membros fundadores da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro no Pavilhão da Tchecoslováquia utilizado na Exposição Internacional do Centenário da Independência. Vemos em pé, da esquerda para a direita: Dulcídio Pereira, Francisco Lafayette, Edgar Roquette-Pinto, Demócrito Seabra, Mário de Souza, Ângelo Maria da Costa Lima e Nestor Serra. Sentados, da esquerda para a direita: Carlos Guinle, Henrique Morize e Luiz Betim Paes Leme.

Fotografia dos fundadores da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

Aristóteles nasceu na colônia grega de Estagira. Na adolescência, se mudou para Atenas onde se torno discípulo de Platão aos dezessete anos. Após a morte de seu mestre, ele atravessou o Mar Egeu e se fixou na ilha de Lesbos, próxima à costa da Ásia Menor. Sua reputação como erudito cresceu e ele foi convidado para ser tutor do
jovem príncipe Alexandre da Macedônia — futuro Alexandre, o Grande. Quando
retornou para Atenas, Aristóteles se consolidou como um dos mais influentes
professores, escritores e filósofos de sua época.Algumas de suas obras atravessaram os séculos por meio da tradição manuscrita medieval. Dentre elas destacamos Meteorológica escrito Esse tratado foi escrito por volta do século IV a.C. e é responsável por originar o termo “meteorologia”, ou seja,
essa obra constitui a base histórica da configuração inicial desse campo do conhecimento.Em Metereológica, o filósofo se dedicou ao estudo dos meteoros. De modo geral, 
Aristóteles definia os meteoros como fenômenos naturais caracterizados, por um
lado, por sua localização na região sublunar, isto é, abaixo da Lua, onde
reinava a instabilidade, e, por outro, por sua natureza intrinsecamente
irregular. Entre esses fenômenos estavam incluídos elementos que ainda hoje
fazem parte do escopo da meteorologia, como nuvens, ventos, chuvas, raios e
granizo; ao lado de outros que, com o tempo, passaram a ser investigados por
outras ciências, como a Via Láctea, os cometas, as estrelas cadentes e os
terremotos. Para desenvolver seu estudo, o filósofo combinou observação dos
fenômenos naturais, especulação filosófica e ordenação causal do mundo, assim
ele explicou a existência dos meteoros como resultado da quatro elementos —
terra, água, ar e fogo — e de suas qualidades naturais. Em Meteorológica, Aristóteles dedicou-se ao estudo dos meteoros, termo que
empregava para designar fenômenos naturais situados na região sublunar — ou
seja, abaixo da Lua, domínio marcado pela instabilidade — e dotados de natureza
intrinsecamente irregular. Entre esses fenômenos estavam aqueles que ainda hoje
integram o campo da meteorologia, como nuvens, ventos, chuvas, raios e granizo,
bem como outros que, com o tempo, passaram a ser estudados por diferentes áreas
do conhecimento, como a Via Láctea, os cometas, as estrelas cadentes e os
terremotos. Para desenvolver sua investigação, o filósofo combinou observação
empírica, especulação filosófica e uma ordenação causal do mundo visível. Nessa
perspectiva, explicava a origem dos meteoros a partir da interação entre os
quatro elementos — terra, água, ar e fogo — e de suas qualidades naturais. Essa
tradição foi amplamente difundida, até que, entre os séculos XVII e XIX, o
desenvolvimento de novos instrumentos, práticas de medição e modelos
matemáticos começou a desestabilizar esse paradigma e a lançar as bases para um
novo tipo de prática científica.

Frontispício do livro Metereológica escrito por Aristóteles no século IV
a.C. Esta edição, a mais antiga que se tem registro, foi publicada em latim no
ano de 1560.

Frontispício do livro Metereológica de Aristóteles.

Os estudos meteorológicos de Aristóteles.

Em observações e experimentos, ressaltamos dois processos importantes na construção do conhecimento científico. As observações dos fenômenos naturais, orientadas por conhecimentos prévios, assim como os experimentos que reproduzem fenômenos naturais, fornecem suporte para a comunidade científica construir modelos, testar hipóteses e formular teorias para explicar o funcionamento da natureza.

Observações e Experimentos

Embora tivesse apenas 15 anos, D. Pedro II teve sua maioridade antecipada para poder assumir o trono como imperador do Brasil em 1840. Conhecido por ser um monarca ilustrado e um amigo das ciências, seu governo é marcado pela expansão da urbanização, pelo desenvolvimento das ciências, pela prosperidade econômica impulsionada pela exportação do café, pela abolição da escravatura, mas também pela Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, maior conflito bélico na história do país.

Segundo Reinado

Em 1858, Emmanuel Liais se afastou do Observatório de Paris após divergências com o diretor Urban Le Verrier. Sabendo que um eclipse total do Sol poderia ser observado naquele ano no Brasil, o astrônomo pediu permissão ao Ministério da Instrução Nacional da França para realizar uma expedição científica. Chegando no país, foi convidado para acompanhar a comissão brasileira montada pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro com destino a Paranaguá. Nos anos seguintes, foi contratado pelo governo imperial para realizar uma série de pesquisas científicas, entre as quais se destacam ter traçado a costa de Pernambuco, elaborado um projeto de reforma para os portos de Recife e instalado um observatório móvel em Olinda, onde foi visitado por Pedro II. Em 1870, mesmo ano em que publicou o livro O espaço celeste e a natureza tropical, foi convidado pelo imperador para assumir a direção do observatório do Rio de Janeiro, dirigido por militares desde 1850.A partir de 1871, Liais iniciou uma grande reforma institucional. Desde o início, sua direção tinha como objetivo garantir maior autonomia para a instituição, até então ligada à Escola Militar e ao Ministério da Guerra. Inspirado pelo positivismo, que considerava o conhecimento científico como o único capaz de levar ao progresso, defendia que o observatório deveria ser uma instituição dedicada ao que entendia como “ciência pura”, isto é, ao desenvolvimento de investigações científicas que não tivessem como foco apenas a sua aplicação. Para isso, era preciso transformar a identidade militar da instituição. Apesar da resistência dos militares, Liais conseguiu dar maior ênfase ao estudo da astronomia durante seu período na direção. Com o apoio do imperador, conseguiu comprar novos e modernos instrumentos científicos que possibilitassem a realização de observações mais precisas dos fenômenos naturais e ampliou a coleção da biblioteca. Além disso, organizou um novo estatuto e definiu o quadro de carreiras do observatório, dando maior ênfase à pesquisa astronômica. Para tornar a instituição conhecida pela comunidade científica internacional, publicou diversos artigos no periódico da Academia de Ciências de Paris, pois desejava colocar o observatório do Rio de Janeiro em pé de igualdade com outros observatórios ao redor do mundo.No entanto, sua direção durou apenas uma década. Da mesma forma como havia ocorrido com sua demissão do Observatório de Paris, foram desavenças pessoais que colaboraram para que abandonasse o cargo de diretor. O desafeto, dessa vez, era Manoel Pereira Reis, que deixou o cargo de primeiro astrônomo na instituição em 1878. Além de ser aliado dos militares, que permaneciam insatisfeitos com a separação da Escola Militar, Reis discordava do método criado pelo francês para determinar as coordenadas geográficas de meridiano absoluto do observatório. Suas críticas, tornadas públicas em jornais da época, colocavam em xeque a credibilidade científica do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, ao duvidar que seus astrônomos seriam capazes de determinar a localização geográfica da própria instituição. Embora nunca tenha conseguido comprovar que o método de Liais estava incorreto, o desgaste gerado pela controvérsia contribuiu para que Liais resolvesse abandonar o cargo de diretor e retornasse para a França. Assim, em 1881, mesmo ano em que Manoel Pereira Reis assumiu a direção do Observatório da Escola Politécnica, Liais encerrou seu período como diretor, dando lugar a Luiz Cruls.

Gravura com o retrato de perfil do astrônomo Emmanuel Liais, um homem branco, de cabelos curtos escuros, com barba e óculos redondos de pequenas dimensões, vestido com um paletó escuro, camisa branca e gravata borboleta. No paletó veste um broche com o símbolo da Imperial Ordem da Rosa. O retrato possui uma moldura e a gravura é de autoria de Yan' Dargent. O nome de Dupeyron (que pode ser Mauray ou Segur) também aparece gravado. Publicado no livro "O espaço celeste e a natureza tropical" (1865).

Gravura de Emmanuel Liais

Direção de Emmanuel Liais no Imperial Observatório do Rio de Janeiro

Henrique Morize, francês naturalizado brasileiro, estudou engenharia na Escola Politécnica. Na mesma época, ingressou no Imperial Observatório do Rio de Janeiro como aluno-astrônomo. Em 1885 foi efetivado e participou de importantes expedições organizadas pelo compatriota e então diretor Luiz Cruls, como a Comissão Exploradora do Planalto Central em 1892. Na ocasião, auxiliou na demarcação geográfica do território, na realização de trabalhos topográficos e na observação das condições meteorológicas da região que futuramente seria a capital do Brasil. Entusiasta da fotografia, levou uma câmera fotográfica para registrar momentos da expedição, da paisagem e das populações locais.Quando Cruls abandonou a direção do observatório para cuidar da saúde, Morize foi nomeado para substituí-lo e assumiu o cargo em 1908. Sua direção é marcada pelo fortalecimento da chamada “ciência pura”, isto é, da investigação científica que não tinha como objetivo imediato a sua aplicação prática. Como outros cientistas da época, ele acreditava que a ciência pura era o caminho para o progresso da civilização. Por isso, considerava que fortalecer as instituições científicas brasileiras era um passo importante para o desenvolvimento do país. Durante sua gestão, o observatório realizou diversas investigações astronômicas, dentre as quais destacam-se duas expedições realizadas para a observação de eclipses.Se, no século anterior, a observação de eclipses solares despertava pouco interesse dos astrônomos, a defesa da ciência pura na virada para o século XX contribuía para que a situação mudasse. Por ocasião do eclipse solar total observável em Passa Quatro, Minas Gerais, em 1912, um total de oito expedições, nacionais e internacionais, foram enviadas para a região. Entre elas, estava uma chefiada por Morize e organizada pelo observatório do Rio de Janeiro. Poucos anos depois, em 1919, outro eclipse solar total faria convergir astrônomos brasileiros e estrangeiros em Sobral, no Ceará. Nessa ocasião, Morize novamente chefiou a expedição.Apesar dos resultados obtidos por essas e outras pesquisas conduzidas na instituição, Morize considerava que havia pouco interesse pela ciência no Brasil. Enquanto diretor de uma das principais instituições científicas do país, desejava fortalecer a ciência. Para isso, se reuniu com diversos cientistas para fundar, em 1916, a Sociedade Brasileira de Ciências, atual Academia Brasileira de Ciências, da qual foi o primeiro presidente. Em 1923, participou da fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora de rádio do país, que tinha como objetivo propagar a ciência e a cultura para a população. Também como diretor do observatório, participou da Primeira Assembleia Geral da União Astronômica Internacional, sendo o Brasil o único país sul-americano representado.Por fim, sua direção também foi marcada pela transferência do observatório para o Morro de São Januário, em São Cristóvão, onde permanece até hoje. A mudança de local era uma demanda antiga, considerada necessária para que houvesse espaço adequado para a montagem e utilização de alguns instrumentos de observação. O processo foi longo, sendo iniciado pela escolha do local em uma avaliação coordenada pelo Clube de Engenharia, do qual Morize era membro. Selecionado o local, o lançamento da pedra fundamental ocorreu em 1913, mas a transferência se deu apenas em 1921. Morize permaneceu na direção até 1930, quando faleceu em sua casa no campus do observatório.

Na fotografia em preto e branco vemos Henrique Morize em seu gabinete de estudos no campus do Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Vestido com terno claro, ele encontra-se sentado em uma cadeira de madeira defronte uma mesa de madeira, concentrado na leitura de um livro aberto em suas mãos. Ao seu redor, vemos uma vasta biblioteca com diversos livros de diversos formatos e tamanhos, demonstrando que aquele é um espaço de atividade intelectual.

Fotografia de Henrique Morize em seu gabinete no Observatório Nacional

Direção de Henrique Morize no Observatório Nacional

O início da direção de Luiz Cruls no Observatório Nacional, na época Imperial Observatório do Rio de Janeiro, se deu com a saída de Emmanuel Liais. As polêmicas enfrentadas durante a gestão de Liais e, em especial, a contestação de seu método para a determinação do meridiano absoluto por Manoel Pereira Reis, foram responsáveis pelo desgaste que fez com que pedisse demissão e retornasse para a França. Com sua saída, Luiz Cruls assumiu provisoriamente em 1881 e, definitivamente, em 1884.Nascido na Bélgica e formado em engenharia, Cruls vivia no Brasil desde 1874 quando participou da Comissão da Carta Geral do Império. Dois anos depois, ingressou no observatório e se tornou um dos principais colaboradores de Liais, o que contribuiu para que fosse selecionado como seu sucessor. Considerado um hábil cientista e administrador, teve sua capacidade de administração colocada à prova com a Proclamação da República. Naquele momento, as instituições do Estado passaram por grandes reformulações. O distanciamento da Escola Militar durante a gestão de Liais colocava o observatório em uma posição de menor prestígio com a nova relevância dos militares durante os anos iniciais do período republicano. Além disso, o novo regime, influenciado por uma abordagem positivista que valorizava a utilidade das ciências, privilegiava o utilitarismo das instituições científicas na resolução de problemas nacionais. Até mesmo o encerramento das atividades do observatório chegou a ser cogitado. Para garantir a continuidade da instituição, Cruls soube reunir o apoio das camadas em poder naquele momento. Aproveitou de seu histórico militar, uma vez que havia atuado no exército belga, para reaproximar a instituição dos militares e mobilizou o apoio de importantes figuras políticas, como o ministro da instrução pública Benjamin Constant.Outra prova da capacidade de administração de Cruls pode ser encontrada na forma como lidou com as críticas de Pereira Reis. Mais do que contestar o método de Liais para a determinação do meridiano absoluto, Pereira Reis questionava a credibilidade das pesquisas realizadas no observatório. Em defesa da instituição, Cruls publicou um texto crítico informando que, embora o método de Liais pudesse conter algumas imprecisões, estas não interferiam nos resultados dos cálculos e na precisão do meridiano determinado, o que foi suficiente para conter os ataques de Pereira Reis por alguns anos. O recebimento do Prêmio Valz, dado pela Academia de Ciências de Paris à Cruls, também foi importante para assegurar a credibilidade da instituição e de seu novo diretor.Durante a gestão de Cruls, houve grande avanço nas pesquisas astronômicas realizadas no observatório, que avançou na busca de cometas, na determinação do valor da paralaxe solar para o cálculo da distância entre a Terra e o Sol, na divulgação dessas pesquisas em publicações como os anais e a Revista do Observatório e na organização de expedições científicas. O próprio Cruls participou de muitas dessas expedições, como aquela realizada para a observação do trânsito de Vênus (1882), a participação na Conferência do Meridiano (1884), a Expedição Exploradora do Planalto Central (1892) e a subsequente expedição para estudos da nova capital (1894) e a Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia (1901). Nesta última, Cruls foi gravemente afetada pela malária, o que ocasionou sua saída do Brasil para cuidar da saúde na França. Foi substituído na direção por Henrique Morize em 1908.

Fotografia em tons de sépia que apresenta Luiz Cruls sentado em uma cadeira defronte uma mesa em seu gabinete de estudos no Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro. O astrônomo veste um terno escuro com gravata borboleta escura e camisa branca. Seu olhar, mirando um canto alto na sala, sugere reflexão. Uma bandeira do Brasil é visível na parede ao fundo. O gabinete é repleto de livros e papeis que indicam ser uma sala de estudos. Atrás do cientista, vemos um globo terrestre.

Fotografia de Luiz Cruls em seu gabinete no Morro do Castelo

Direção de Luiz Cruls no Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro

Por muito tempo, o Brasil foi a principal colônia do império português e o seu processo de independência é marcado por disputas, revoluções e conflitos violentos. Embora tradicionalmente celebramos a independência no dia 7 de setembro, quando foi proclamada por D. Pedro I, esse foi apenas um ponto-chave em uma longa série de acontecimentos que começaram a se desdobrar com o aumento do descontentamento dos portugueses em relação à permanência da família real no Brasil.

Primeiro Reinado

Primeira instituição científica criada no Brasil após a Independência de Portugal, o Observatório Astronômico surgiu como um espaço importante tanto para a formação de quadros no âmbito da Academia Real dos Guardas Marinha e da Academia Real Militar do Rio de Janeiro, esta criada em 1810.&nbsp;Após algumas discussões na assembleia legislativa do Império do Brasil, ficou decidida a criação de um Observatório Astronômico, conforme decreto de 15 de outubro de 1827. Nele ficou estabelecido que o regulamento da instituição seria elaborado em acordo com a Academia Militar, Academia de Marinha e o Corpo de Engenheiros.&nbsp;Os debates que antecederam a assinatura do decreto certamente foram impactados por um documento encaminhado à casa legislativa, por ofício, pelo então Ministro dos Negócios do Império de Brasil, José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de São Leopoldo. O documento nada mais era do que uma Memória para o estabelecimento de um observatório na cidade do Rio de Janeiro, proposto pelo professor da Academia Imperial Militar, Cândido Baptista de Oliveira e que foi publicada, posteriormente, em 1 de fevereiro de 1828, no Diário Fluminense.&nbsp;Os estudos sobre para organização da instituição ficaram a cargo do próprio Cândido Batista de Oliveira, Eustáquio Adolfo de Melo Matos, do corpo de Engenheiros; e dos professores da Academia da Marinha, Maximiano Antonio da Silva Leite e José Gonçalves Victória. Apenas em 1846 a instituição obteve seu regulamento publicado e iniciou seus trabalhos de forma sistemática, instalando-se no morro do Castelo.Naquele momento, no Rio de Janeiro, a Real Academia dos Guardas Marinhas e a&nbsp; Academia Real Militar eram as principais instituições onde havia cursos de Matemática e Astronomia em seus currículos. A vinda da corte para o Rio de Janeiro, em 1808, transformou a cidade no centro administrativo de Portugal e seus domínios ultramarinos. Algumas instituições centrais para o governo foram transplantadas de Lisboa, como a Academia Real dos Guardas-Marinha, de 1782, com sua biblioteca e instrumentos do observatório, criado em 1798; outras novas foram estabelecidas, como a Academia Real Militar, em 1810, nessa, as "ciências matemáticas e ciências de observações" eram ensinadas e praticadas.O Observatório foi a primeira instituição de caráter científico a ser criada por lei no Brasil após a ruptura política com Portugal, em 1822. A importância, na capital do Império, do estabelecimento de um local cuja tarefa seria concentrar esforços na organização, centralização e acúmulo das observações astronômicas, meteorológicas e geodésicas se relaciona a aspectos estratégicos, culturais e políticos do momento.A instalação de um observatório no Rio de Janeiro alinhava-se à tendência de muitos outros que surgiram na Europa ao longo do século XVIII, especialmente os que foram criados para atender demandas relativas às navegações e ao controle sobre os domínios territoriais dos diferentes Estados. Para isto, era necessário realizar observações astronômicas e meteorológicas de forma acurada, com instrumentos de precisão, e registradas cotidianamente. Estes observatórios, em geral, eram qualificados como reais, imperiais ou nacionais. Não é por acaso que, quando iniciou os trabalhos de forma mais sistemática e constante, a partir de 1846, a instituição foi denominada de Imperial Observatório do Rio de Janeiro, passando a se chamar Observatório Nacional a partir da instalação da República no Brasil.

Decreto assinado em 15 de outubro de 1827 criando um observatório astronômico na cidade do Rio de Janeiro.

Decreto de 15 de outubro 1827

Criação do Observatório Astronômico no Rio de Janeiro em 1827

Foi um golpe de estado, entre tantos na história brasileira, que marca o término do Estado Novo e o fim da Era Vargas, ainda que Getúlio retorne ao poder entre 1951-54. Sua deposição, organizada por militares como o General Góis Monteiro, dá início a um período democrático que só será interrompido em 1964 com novo golpe militar. Esse período é marcado, entre tantos fatos, pela Constituição de 1946, pelo desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubitschek e a inauguração de Brasília em 1960.

Período Democrático

Em uma notícia publicada pelo jornal A Noite, em 27 de março de 1950, a manchete afirmava: "É urgente o amparo econômico à pesquisa científica no Brasil". De acordo com os jornalistas, garantir financiamento para a pesquisa científica era fundamental
para o progresso da nação e "quase todos os países do mundo culto" reservavam recursos para instituições científicas, sendo esse "o segredo da primazia norte-americana". Para reverter o que consideravam um atraso na ciência brasileira, os jornalistas apontavam sugestões, como apoiar o recém-criado Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).&nbsp;Fundado em 15 de janeiro de 1949, o CBPF foi criado para promover estudos e pesquisas nas áreas da Física e da Matemática. Antes de sua criação, havia pouco amparo ao desenvolvimento de pesquisas nessas áreas nas universidades brasileiras e não era incomum que os pesquisadores brasileiros procurassem por oportunidades no exterior. Muitos, no entanto, desejavam retornar. “Voltarei ao Brasil se houver possibilidade de trabalhar livremente”, escreveu o físico José Leite Lopes; “... eu também gostaria de voltar ao Brasil, onde não somente eu poderia estudar como também ajudar aos mais novos”, confessou o matemático Leopoldo Nachbin. O físico Jayme Tiomno escreveu a Leite Lopes dizendo: “Estou inteiramente de acordo em que é um bocado duro lutar nas condições em que você lutou e especialmente vendo que a maioria não reconhece o esforço e sacrifício. Isso é, porém, uma coisa que nos cabe fazer – alguém tem que começar lastrar e lançar a semente, e esse alguém somos nós, atualmente. Eu por minha parte voltarei disposto à luta e a dar minha contribuição pelo melhor de minhas forças.”Na mesma época, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo vivia um período de acentuado interesse pela Física Nuclear. Como representante do Brasil na Comissão de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas em 1946, o Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva seria um dos grandes incentivadores da pesquisa nuclear no Brasil nos anos seguintes. Ainda nesse período, o físico brasileiro César Lattes, junto com o italiano Giuseppe Occhialini e o britânico Cecil Powell anunciavam ao mundo a detecção de uma nova partícula: o méson-л ou píon, uma partícula subnuclear cuja existência até então não havia sido confirmada. Lattes foi
fundamental não só nas pesquisas sobre raios cósmicos realizadas no alto da montanha Chacaltaya, na Bolívia, que confirmaram a existência da partícula, mas também na sua produção em laboratório utilizando um equipamento chamado cíclotron, que usa campos elétricos e magnéticos para fazer com que minúsculas partículas corram através de seus tubos em velocidades muito altas. Noticiada mundialmente, a descoberta do píon trouxe notoriedade para Lattes e facilitou o seu encontro com o ministro João Alberto Lins de Barros, que ajudaria a promover a ideia de um grupo de pesquisadores brasileiros para criar uma instituição de pesquisa física e matemática de ponta, no Rio de Janeiro.Nesse contexto, Lattes, Leite Lopes, Nachbin, Tiomno, o físico Joaquim da Costa Ribeiro, entre outros, se reuniram para fundar o CBPF. Além de assegurar um ambiente adequado para o desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil, a instituição também se dedicaria ao ensino da Física, sendo responsável pela organização do primeiro curso de pós-graduação nessa área no país e pela promoção de um programa de bolsas de estudos e pesquisas para pesquisadores em diferentes níveis.

Notícia publicada na edição número 13446 do jornal "A Noite" de 27 de março de 1950. A notícia tem sua manchete na primeira página da segunda seção e continua na página dois da mesma seção.No contexto da importância das pesquisas em física nuclear, a partir da década de 1940, sobretudo com a Segunda Guerra Mundial, o jornal discute a importância da física atômica para o progresso das nações e afirma que "é urgente o amparo econômico à pesquisa científica no Brasil" para assegurar o futuro do país. A matéria também informa que "quase todos os países do mundo culto" possuem órgãos específicos dedicados à coordenar a pesquisa científica, distribuindo fundos e capacitando cientistas. A existência desse aparato estatal de fomento à pesquisa científica era, para o jornal, o "segredo da primazia norte-americana", país que tinha desenvolvido a bomba atômica, o ciclotron-gigante do Laboratório das Radiações de Berkeley, e construía um novo síncrotron-cíclotron supergigante. Nessa competição pelo desenvolvimento científico e tecnológico, o Brasil estava atrasado e precisavam "ser urgentemente aparelhados os nossos laboratórios de pesquisas". "Não é possível que permaneça o desamparo em que se encontram os nossos cientistas, em face dessa penúria de aparelhamento técnico, fazendo-se necessário um grande movimento de opinião, visando a assegurar-lhes os recursos necessários através da cooperação do Poder Público e de todas as classes produtoras", informava o periódico. Nesse sentido, era fundamental apoiar o recém-criado Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e suas pesquisas.

Notícia do jornal "A Noite" dizendo ser "urgente o amparo econômico à pesquisa científica no Brasil"

Fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

Um observatório astronômico é uma instituição formada por várias seções e repartições onde cientistas trabalham e ampliam os conhecimentos sobre a complexa relação entre o céu e a Terra. Um dos espaços importantes para a realização dos trabalhos dentro de um Observatório é a sua biblioteca.&nbsp;No Observatório Nacional, localizado no Rio de Janeiro desde 1827, não há uma data precisa para a criação de sua biblioteca. O regulamento de 1846, quando passou a se chamar Imperial Observatório do Rio de Janeiro (IORJ), não menciona a existência de um espaço desta natureza, mas desde os primórdios de seu funcionamento, houve uma preocupação com instrumentos científicos, um processo de acumulação de livros, e um local para acomodação de impressos, manuscritos e material de pesquisa devidamente organizados. Encontram-se em registros de despesas do Observatório desde 1849 a aquisição ou gastos com a quitação de livros, frequentemente atendendo solicitações dos diretores.&nbsp;Documentos indicam que a biblioteca ocupava um dos salões do primeiro andar do prédio situado no Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, onde a instituição funcionou desde 1846 até o início da década de 1920, quando houve o desmonte do morro e o Observatório foi transferido para a atual sede no morro de São Januário, em São Cristóvão. No edifício do morro do Castelo, a biblioteca era contígua ao salão reservado para o Imperador D. Pedro II e ao gabinete e alojamento do diretor, formando a ala nobre da instituição. Em 1898, em novo regulamento, criou-se a função de secretário-bibliotecário. Desde então, a biblioteca não parou de ampliar sua coleção e hoje ainda é uma biblioteca importante no país.&nbsp;Fotografias são importantes veículos para fixar uma memória. Essa imagem nos permite refletir sobre os espaços de leitura onde intelectuais trabalham em silêncio, mas também entram em contato com outros textos, manuscritos ou impressos, cuidadosamente selecionados.&nbsp;A forma que a biblioteca se apresenta na fotografia é sugestiva. A cena é iluminada por dois feixes de luz que penetram pelas janelas. Um deles guia para o centro da imagem onde se destaca um globo, provavelmente um globo celeste. A composição nos lembrou um quadro do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675), o Astrônomo, atualmente em exibição no Museu do Louvre, em Paris. Nesta obra de arte, a luz entra por uma janela que ilumina um globo celeste sendo examinado por um sábio em seu gabinete e rodeado de papéis.&nbsp;No canto esquerdo da fotografia, um outro feixe de luz ilumina o busto de uma figura masculina em pedestal, identificada como o astrônomo Emmanuel Liais (1826-1900). O reconhecimento do objeto é possível porque este busto sobreviveu ao tempo e hoje integra o acervo do MAST.Vemos um conjunto de caixas e aparado nelas um instrumento que se assemelha a um barômetro. A posição do instrumento sobre as caixas sugere que ele foi colocado ali para a fotografia, ou retornou de alguma viagem, pois não está em forma para uso. As caixas, algumas acervo do MAST, acondicionavam os instrumentos e eram utilizadas para transportá-los em viagens.A biblioteca do Observatório, além dos livros impressos, reúne uma série de anotações tais como as tabelas das coordenadas celestes dos astros, o registro da hora local feitos a partir dos instrumentos que formam o Observatório.

Fotografia em preto e branco, 18cm x 24 cm, do interior da Biblioteca do Observatório Nacional na antiga sede no morro do Castelo, Rio de Janeiro. Não há indicação do fotógrafo. Na imagem vemos as várias estantes repletas de livros, cadernos e papeis; instrumentos científicos depositados em cima das mesas; caixas de madeira que serviam para acondicionar e transportar os artefatos; escrivaninhas e cadeiras, algumas delas com papeis empilhados. No fundo da fotografia, do lado esquerdo, o busto de Emmanuel Liais e no centro da imagem destaque para um globo celeste.&nbsp;

Biblioteca do Imperial Observatório Nacional, Morro do Castelo, Rio de Janeiro

O Almanaque, representado aqui por seu frontispício, é uma publicação anual iniciada em 1767 e seu primeiro volume foi organizado pelo astrônomo real e diretor do Observatório de Greenwich, Nevil Maskelyne (1732 - 1811). A publicação regular das efemérides astronômicas, catálogo de estrelas e tabelas visava “auxiliar no desenvolvimento da Astronomia, Geografia e Navegação", algo importante para não apenas para a ciência mas, para o aprimoramento das navegações marítimas. Em seu primeiro volume, foram publicadas as tabelas da Lua elaboradas por Johann Tobias Mayer (1723-1762), consideradas as mais acuradas para a determinação da longitude em alto mar com segurança, e isso que era um desafio para a época.

Almanaque Náutico (Nautical Almanac)

Formação da Biblioteca do Observatório Nacional

Se hoje pode ser considerado uma figura pop com seu rosto estampado em diversos produtos comercializados mundialmente, no início do século XX o nome de Albert Einstein ainda era desconhecido pelo grande público. Foi com a confirmação da sua teoria da relatividade, a partir de fotografias feitas no Brasil durante o eclipse solar de 1919, que o físico passou a ganhar notoriedade e receber convites para proferir conferências no exterior.A passagem pelo Brasil se deu no contexto de uma viagem para a Argentina para a realização de uma série de palestras em 1925. A caminho de Buenos Aires, Einstein desembarcou no Rio de Janeiro em 21 de março. Apesar de ter permanecido apenas algumas horas, foi recebido no cais e levado para um passeio pelo Jardim Botânico, seguido de um almoço no Hotel Copacabana Palace. Mesmo breve, sua passagem animou a comunidade científica brasileira que se reuniu para convidar o célebre cientista para passar algum tempo na então capital antes de seu regresso à Europa. Após um mês na Argentina e uma rápida passagem pelo Uruguai, Einstein desembarcou no Rio de Janeiro em 4 de maio.Os dias seguintes foram tomados por uma intensa programação cultural. Ele subiu o Pão de Açúcar, viu o Corcovado e as praias cariocas, visitou o Museu Nacional, concedeu entrevistas para os jornais, proferiu uma palestra sobre a relatividade no Clube de Engenharia, esteve na sede da Academia Brasileira de Ciências onde recebeu o título de sócio, conheceu as instalações do Instituto de Manguinhos, discursou na Escola Politécnica, foi recebido no Clube Germânia por ministros estrangeiros, confraternizou com a colônia israelita no Automóvel Clube, conheceu os tratamentos psiquiátricos colocados em prática no Hospital Nacional dos Alienados, recebeu um diploma honorário da Faculdade de Filosofia, deu uma declaração à Rádio Sociedade e, no dia 9 de maio de 1925 visitou a sede do Observatório Nacional. Na ocasião, teve oportunidade de conhecer as dependências e os instrumentos utilizados no observatório tanto para a observação astronômica quanto para a prestação de serviços como a transmissão da hora. Na foto tirada para celebrar a visita é possível ver, em pé da esquerda para a direita: João Cancio Soares de Assumpção, José Antônio França, Arthur de Almeida, José Frazão Milanez, Lélio Gama, Gualter de Macedo Soares, Carlos Magno, Idelfonso da Silva Souto, Francisco Venâncio Filho, Adalberto Farias dos Santos, Ernesto Morize, Lauro Paiva e Hiron Jacques. Sentados, da esquerda para a direita: Domingos Costa, Alfredo Lisboa, Alix Corrêa Lemos, Albert Einstein, Henrique Morize, Isidoro Kohn e Ignácio Azevedo do Amaral.Ao longo de suas perambulações, encontrou-se com cientistas de diversas áreas, como Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Roquette-Pinto, Pacheco Leão, entre outros, e com representantes nacionais, como o então presidente Artur Bernardes. Sua visita instigou discussões sobre a necessidade de valorização da ciência pura, que Einstein considerava como indispensável ao progresso, em oposição à uma visão positivista que favorecia a ciência aplicada às questões práticas. Além disso, fez com que cientistas e instituições de pesquisa brasileiras figurassem nas primeiras páginas dos principais periódicos locais e contribuiu para a divulgação da teoria da relatividade no Brasil, até então conhecida principalmente por meio da divulgação feita pelo matemático Amoroso Costa. No dia 12 de maio de 1925, deixou o Brasil de regresso à Europa.

Fotografia em preto e branco com o grupo de cientistas reunidos por ocasião da visita de Einstein ao Observatório Nacional. Na fileira de cima: João C. S. de Assumpção, José Antônio França, Arthur de Almeida, Frazão Milânes, Lélio Gama, Gualter Soares, Carlos Magno, Idelfonso Souto, Francisco Filho, Adalberto dos Santos, Ernesto Morize, Lauro Paiva e Hiron Jacques. Na frente: Domingos da Costa, Alfredo Lisboa, Alix Lemos, Albert Einstein, Henrique Morize, Isidoro Kohn e Ignácio Amaral.

Fotografia de Albert Einstein em visita ao Observatório Nacional

Visita de Albert Einstein ao Observatório Nacional

Em 1873 a biblioteca do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, então denominação do Observatório Nacional, recebeu do Observatório Real de Greenwich, a coleção completa do Almanaque Náutico. A oferta pode ser considerada um dos marcos para a formação desta biblioteca, um dos espaços importantes da instituição por possuir obras que auxiliavam não apenas na formação técnico-científica de engenheiros e militares, mas na produção de dados científicos. Este Almanaque é uma publicação anual iniciada em 1767 e seu primeiro volume foi organizado pelo astrônomo real e diretor do Observatório de Greenwich, Nevil Maskelyne (1732 - 1811). A publicação regular das efemérides astronômicas, catálogo de estrelas e tabelas visava “auxiliar no desenvolvimento da Astronomia, Geografia e Navegação", algo importante para não apenas para a ciência mas, para o aprimoramento das navegações marítimas.Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a publicação tornou-se referência não apenas para a Marinha e Companhias de Comércio do Império Britânico, mas foi amplamente utilizado por navegantes e hidrógrafos de outras nações. Em seu primeiro volume, foram publicadas as tabelas da Lua elaboradas por Johann Tobias Mayer (1723-1762), consideradas as mais acuradas para a determinação da longitude em alto mar com segurança, e isso que era um desafio para a época.No Imperial Observatório a publicação também foi reconhecida por sua qualidade mesmo antes da chegada da coleção completa nos anos 1870. Logo em 1852, mesclado com outras obras, o Almanaque foi base para dados publicados na primeira publicação da instituição: Efemérides do Imperial Observatório em 1852. E posteriormente volumes foram utilizados como fonte dados para diversos trabalhos desenvolvidos pela instituição como por exemplo: nas observações do Trânsito de Vênus em 1882; artigo da Revista do Observatório de 1886 sobre ocultações e eclipses; e o Terceiro Tomo dos Anais do Imperial Observatório de 1887 (dedicado ao Trânsito de Vênus e que utilizou tabelas do Almanaque do volume de 1882). Sendo um importante periódico para a execução de atividades de campo e para publicações de dados científicos.A chegada do Almanaque Náutico à Biblioteca do Observatório em 1873 foi informada em relatório do Ministério da Guerra destacando a autoria do Astrônomo Real de Greenwich George Biddel Airy (1801-1892) que remeteu a coleção. O então diretor interino do Observatório, Visconde de Prados (1815-1882), ressaltou no documento que essa e outras publicações científicas estrangeiras recebidas eram fruto do reconhecimento e prestígio do diretor Emmanuel Liais (1826-1900), que encontrava-se em viagem pela Europa.O envio pelo Observatório de Greenwich de sua publicação para a biblioteca do Observatório fazia parte da formação de uma rede de trocas de dados entre observatórios por meio da permuta de suas publicações. Essa prática, que era uma atribuição da biblioteca do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, reforçou o papel desta instituição na circulação de dados obtidos a partir de práticas observacionais regulares no hemisfério sul favorecendo o intercâmbio de ideias, técnicas e instrumentos.A Coleção do Almanaque Náutico continuou sendo atualizada pelo Observatório Nacional até os anos 1980 e os volumes podem ser consultados em sua Biblioteca e até os dias de hoje o Almanaque é publicado pelo órgão administrativo responsável, o Escritório do Almanaque Náutico de Sua Majestade, podendo ser consultado no site do Observatório de Greenwich.

Recebimento do "Almanaque Náutico" de Greenwich pela Biblioteca do Observatório Nacional

Em política científica e cooperação internacional, ressaltamos as relações entre a política - interna e externa - e a ciência. Por um lado, a ciência pode orientar algumas tomadas de decisões políticas que impactam diretamente em nossas vidas. Da mesma forma, negar a ciência pode ter efeitos catastróficos. Por outro lado, sem políticas de incentivo e financiamento, não há ciência. Essa relação funciona, portanto, em via de mão dupla e muitas vezes envolve atores nacionais e internacionais.

Política Científica e Cooperação Internacional

As relações políticas e diplomáticas no desenvolvimento da ciência.

Fundado em 1951 com o nome de Conselho Nacional de Pesquisas, o atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi fruto de uma longa demanda da comunidade científica brasileira pela criação de um órgão que apoiasse o desenvolvimento das ciências no Brasil. Desde os anos 1920, pelo menos, membros da Academia Brasileira de Ciências discutiam a necessidade de criação de uma instituição que estimulasse, inclusive financeiramente, a pesquisa e a formação de pesquisadores. No entanto, foi só durante a década de 1940 que essa demanda começaria a ganhar força.O desfecho da Segunda Guerra Mundial, os impactos das bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre o Japão e o início da corrida armamentista no contexto da Guerra Fria colocavam a ciência e a tecnologia no foco das atenções. O desenvolvimento de pesquisas sobre energia nuclear, sobretudo, era visto como um elemento estratégico em uma corrida geopolítica global, passando a ser compreendido como necessário para a soberania. Como veiculado em diversos jornais da época, a opinião de uma parcela significativa de cientistas era que o Brasil se encontrava atrasado, especialmente nessa área, na qual o investimento em modernos equipamentos de pesquisa era fundamental.Apesar disso, o Brasil estava inserido nas discussões internacionais e participou da Comissão de Energia Atômica promovida pela Organização das Nações Unidas em 1946. Na ocasião, Álvaro Alberto da Motta e Silva, oficial da Marinha formado em engenharia e reconhecido por suas pesquisas na área da química chefiou a delegação brasileira. A partir de então, Álvaro Alberto e o então presidente Eurico Gaspar Dutra começaram a discutir, entre outras iniciativas, a criação do Conselho Nacional de Pesquisas. O órgão constava na lista de medidas necessárias para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, de acordo com documento enviado por Álvaro Alberto para Dutra em 1947. Em 1949, após algumas reuniões entre os dois, Dutra nomeou uma comissão, chefiada por Álvaro Alberto e composta por cientistas e militares, com o objetivo de elaborar o projeto do CNPq.O projeto foi discutido no Congresso Nacional onde o relator, o senador Ivo d’Aquino Fonseca, destacou uma mensagem do presidente Dutra afirmando se tratar de um tema importante “não só por imperativos da defesa nacional, senão também por necessidade de promover o bem-estar coletivo, os estudos científicos e, de modo particular, os que relacionam com o domínio da física nuclear”. Uma vez aprovada, a criação do Conselho Nacional de Pesquisas foi finalmente oficializada em 15 de janeiro de 1951 com a assinatura da lei número 1.310. O novo órgão, cujo Conselho Deliberativo ficava diretamente subordinado à Presidência da República, tinha como finalidade “promover e estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica em qualquer domínio do conhecimento”.Com Álvaro Alberto como seu primeiro presidente, o CNPq priorizou inicialmente as pesquisas em física nuclear, instituindo um programa de fomento e formação de pesquisadores por meio da concessão de bolsas no Brasil e no exterior. Essa orientação foi seguida pelos próximos anos, adentrando no governo de Getúlio Vargas, e permanecendo até a criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em 1956. Com a transferência do planejamento da pesquisa nuclear no Brasil para o CNEN, o CNPq passou pela primeira de muitas reorientações institucionais. Mudando de nome em 1974, o CNPq permanece até hoje como um dos principais órgãos de fomento à pesquisa no Brasil.

Fotografia em preto e branco mostrando dois homens sentados em uma mesa conversando. Do lado esquerdo, de paletó claro, vemos o 16º presidente do Brasil, Eurico Gaspar Dutra. Do lado direito, de paletó escuro, vemos o Almirante Álvaro Alberto. O interior mostra uma sala no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, que foi sede da presidência da república até a mudança da capital para Brasília. Além de atuar no palácio, onde mantinham reuniões, alguns presidentes utilizaram o local como residência, não sendo este o caso de Dutra, que residia no Palácio Laranjeiras. A fotografia retrata uma audiência entre Álvaro Alberto e o Presidente Dutra realizada em 1949, quando o almirante foi convocado para discutir a criação do Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq). Na ocasião, os dois discutiram uma lista de nomes que incluía cientistas notórios para compor uma comissão que elaboraria o anteprojeto do órgão que deveria dedicar-se ao fomento da pesquisa científica no país.

Fotografia de Álvaro Alberto em audiência com o Presidente Eurico Gaspar Dutra, no Palácio do Catete

Notícia publicada na edição 13.668 do jornal "A Noite", de 18 de dezembro de 1950, com manchete dizendo "Controle da energia atômica pelo Estado". O jornal apresenta a notícia de que circulava no senado o projeto de criação do Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq), dizendo ser o projeto ditado "por imperativo da defesa nacional como a de promover estudos científicos, de modo particular que se relacionem com o domínio da física nuclear". Ainda de acordo com o relato, o tema teria sido discutido por mais de duas horas no senado, em reunião sob o comando do relator senador Ivo d'Aquino Fonseca. Por se tratar de um assunto considerado sensível para a defesa nacional, a reunião foi conduzida em segredo.A matéria ainda menciona o contexto histórico do momento, no qual o interesse pela energia nuclear havia sido incentivado pelo desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial e destaca que a criação de uma organização de incentivo às ciências já havia sido proposta, décadas antes, pela Academia Brasileira de Ciências. Foi o impacto da guerra, segundo o jornal, que fez com que o tema fosse agora tratado com "especial relevância". Além disso, o país encontrava-se atrasado em relação às "já 24 nações [que] tinham elaborado legislação adequada às pesquisas e controle da energia atômica". Aprovado pelo senado, o CNPq foi oficialmente criado um mês depois com a assinatura da lei número 1.310 de 15 de janeiro de 1951 pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra.

Notícia do jornal "A Noite" sobre o controle da energia atômica pelo Estado e a criação do CNPq

Fotografia em preto e branco retratando alguns dos membros presentes em uma das reuniões da comissão nomeada pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, chefiada pelo Almirante Álvaro Alberto, encarregada pela elaboração do projeto que resultaria posteriormente na criação do Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq). A comissão era composta por militares e cientistas notórios, dentre os quais podemos identificar na fotografia, da esquerda para a direita: César Lattes, Joaquim da Costa Ribeiro, Mário Abrantes da Silva Pinto, Mário Saraiva e um indivíduo não identificado ao fundo. A reunião foi realizada em abril de 1949 com o objetivo de discutir o projeto de criação de uma organização destinada ao fomente da pesquisa científica no Brasil.

Fotografia de César Lattes e Costa Ribeiro em reunião da comissão de elaboração do projeto do CNPq

Fotografia em preto e branco retratando alguns dos membros presentes em uma das reuniões da comissão nomeada pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, chefiada pelo Almirante Álvaro Alberto, encarregada pela elaboração do projeto que resultaria posteriormente na criação do Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq). A comissão era composta por militares e cientistas notórios, dentre os quais podemos identificar na fotografia, da esquerda para a direita: Álvaro Osório de Almeida, José Carneiro Felippe, Jorge Latour, um indivíduo não identificado, Álvaro Alberto da Motta e Silva, duas mulheres não identificadas, César Mansueto Giulio Lattes (de costas, com cabelos pretos) e Joaquim da Costa Ribeiro (de costas, com cabelos brancos). A reunião foi realizada em abril de 1949 com o objetivo de discutir o projeto de criação de uma organização destinada ao fomente da pesquisa científica no Brasil. A fotografia possui anotações manuscritas com nomes de alguns dos membros da comissão.

Fotografia com anotações manuscritas de reunião da comissão de elaboração do projeto do CNPq

Fotografia em preto e branco retratando alguns dos membros presentes em uma das reuniões da comissão nomeada pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, chefiada pelo Almirante Álvaro Alberto, encarregada pela elaboração do projeto que resultaria posteriormente na criação do Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq). A comissão era composta por militares e cientistas notórios, dentre os quais podemos identificar na fotografia: ao centro, o almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva. Na sua esquerda: Jorge Latour, José Carneiro Felippe, Álvaro Osório de Almeida, um indivíduo não identificado, Francisco de Sá Lessa Filho, quatro indivíduos de costas não identificados, Joaquim da Costa Ribeiro (de costas), César Lattes (de costas), três indivíduos não identificados e duas mulheres não identificadas. A reunião foi realizada em abril de 1949 com o objetivo de discutir o projeto de criação de uma organização destinada ao fomente da pesquisa científica no Brasil.

Fotografia de reunião da comissão de elaboração do projeto do CNPq

Organograma mostrando a estruturação do Conselho Nacional de Pesquisas, atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de acordo com o regimento de sua fundação em 1951. No quadro, podemos ver que o órgão respondia diretamente à Presidência da República, ao qual estava subordinado o seu Conselho Deliberativo. Vemos, ainda, a existência de comissões técnicas, de uma divisão técnico-científico e até mesmo de um serviço de documentação.

Organograma do regimento do CNPq em 1951

Cópia da lei número 1.310 de 15 de janeiro de 1951 assinada pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra que cria o Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq). Com 7 capítulos e um total de 33 artigos, a lei define o novo órgão, suas competências, atribuições, organização, recursos e demais características para o seu funcionamento. A cópia apresentada neste documento foi publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de janeiro de 1951.

Lei número 1.310 de 15 de janeiro de 1951 que cria o CNPq

Criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Publicado no Rio de Janeiro em 1892, O clima do Rio de Janeiro foi escrito por Luiz
Cruls, que, à época, era diretor do Observatório do Rio de Janeiro. O livro
baseia-se em um vasto conjunto de observações meteorológicas realizadas ao
longo de quase quarenta anos, algo tão relevante que aparece logo no
frontispício (a página inicial com as principais informações da obra). Nesse
mesmo espaço, destaca-se também o cargo de Cruls como diretor do Observatório.
Esses elementos reforçam tanto a autoridade do autor quanto a importância do
trabalho científico de longo prazo, evidenciando como a credibilidade do estudo
se apoia na combinação entre a extensa série de observações e a força institucional
do Observatório.Outro elemento marcante do frontispício é a gravura que mostra o prédio do
Observatório, que, na época, funcionava em uma antiga igreja no Morro do
Castelo. A imagem, em formato oval, apresenta um edifício de três andares com
uma cúpula arredondada no topo, feita especialmente para abrigar os
instrumentos de observação. Essa gravura não só ajuda a identificar o local
onde a pesquisa foi realizada, como também remete ao papel central que os
observatórios científicos desempenharam no século XIX. Mais do que locais de
pesquisa, esses espaços foram fundamentais para consolidar o prestígio das
ciências matemáticas, físicas e astronômicas, além de desempenharem um papel
importante na organização do Estado moderno, oferecendo diversos serviços,
especialmente na administração e no controle do território.Quando Cruls escreveu O clima do Rio de Janeiro, a meteorologia passava por uma fase de transformação. Ela deixava de ser apenas a descrição de fenômenos pontuais
para adotar conceitos e métodos das ciências físicas e matemáticas. Isso
significava tratar os fenômenos atmosféricos não mais como acontecimentos
isolados e imprevisíveis, mas como processos mensuráveis e passíveis de análise
sistemática. Um dos fatores que possibilitaram essa mudança foi a criação e o
uso de instrumentos como termômetros, barômetros e higrômetros, que permitiam
registrar de maneira precisa e contínua a temperatura, a pressão e a umidade do
ar. Foi justamente esse tipo de observação, realizada de forma regular ao longo
de quatro décadas, que deu a Cruls a base necessária para compor sua obra.

O frontispício do livro O clima do Rio de Janeiro, escrito por
Luiz Cruls apresenta em destaque o título da obra e o sobrenome do autor, cujo
cargo como diretor do Observatório do Rio de Janeiro também é mencionado.
Informa que o livro foi elaborado a partir de observações realizadas entre 1851
e 1890, traz o local de impressão (Rio de Janeiro), a editora responsável (H.
Lombaerts &amp; Comp., Impressores do Observatório), e a data de publicação (1892).
No centro apresenta uma gravura em formato oval que retrata um edifício de três
andares, com fachada marcada por janelas retangulares e varandas. Sobre o
edifício, há um terraço amplo cercado por um parapeito, no qual se destacam
estruturas menores e uma cúpula semiesférica. Ao fundo, o céu aparece
preenchido por nuvens estilizadas, reforçando o caráter ilustrativo da imagem.

Frontispício do livro O clima do Rio de Janeiro de Luiz Cruls.

Publicação do livro O clima do Rio de Janeiro por Luiz Cruls em 1892.

Em divulgação e controvérsias, salientamos os esforços para divulgar a ciência tanto entre os próprios cientistas - o que chamamos de divulgação entre pares - quanto entre a população em geral - o que chamamos de popularização da ciência. Periódicos especializados, jornais diários, matérias de televisão, sites e podcasts contribuem para tornar conhecidos os processos de construção do conhecimento científico, incluindo as divergências, disputas e controvérsias que fazem parte desses processos.

Divulgação e Controvérsias

A divulgação da ciência e de suas controvérsias.

No dia 6 de dezembro de 1882, o astrônomo francês Hervé Faye escrevia uma carta que enviaria para o Brasil. O destinatário era o Imperador D. Pedro II, que era sócio estrangeiro honorário da Academia de Ciências de Paris, instituição da qual Faye já havia sido presidente. Na correspondência, o astrônomo comunicava que havia indicado Luiz Cruls, então diretor do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, atual Observatório Nacional, e que se encontrava no Chile em meio a uma expedição científica para a observação do trânsito do planeta Vênus, para receber o Prêmio Valz.Criado em 1874 pela viúva do astrônomo Benjamin Valz, a condecoração premiava com 460 francos aqueles cientistas reconhecidos internacionalmente por haver realizado trabalhos considerados importantes. Segundo Faye, Cruls seria premiado pelo conjunto de suas pesquisas sobre cometas, realizadas desde 1878 no observatório do Rio de Janeiro. O prêmio foi oficializado em seção da Academia de Ciências de Paris em 2 de abril de 1883, quando Faye elogiou publicamente as investigações de Cruls sobre os cometas, destacando que haviam sido realizadas com o apoio de um benevolente membro da Academia: Sua Majestade o Imperador do Brasil. Em sua fala, Faye ressaltou ainda que as pesquisas realizadas por Cruls demonstravam a qualidade do trabalho conduzido no observatório do Rio de Janeiro que, por estar localizado no hemisfério Sul, possuía um ponto de observação das efemérides celestes diferente daquele das instituições localizadas no hemisfério Norte. Assim, podemos considerar que além da competência das pesquisas científicas de Cruls sobre os cometas, a concessão do Prêmio Valz também considerava a qualidade das observações realizadas no observatório do Rio de Janeiro e a própria associação de ambas as instituições, tanto o observatório quanto a Academia de Ciências de Paris, com o imperador brasileiro, evidenciando como as esferas da ciência e da política andam entrelaçadas.O recebimento do Prêmio Valz foi um importante marco no reconhecimento internacional das pesquisas científicas realizadas por Luiz Cruls e pelo observatório do Rio de Janeiro. Além disso, a credibilidade associada à premiação contribuiu para dar maior peso às respostas dadas por Cruls às críticas que o observatório recebia, principalmente de um de seus antigos funcionários: Manoel Pereira Reis, que havia se desentendido com Emmanuel Liais, antigo diretor, anos antes.

Na carta em papel timbrado da Academia de Ciências de Paris, com uma gravura em perfil do rosto da deusa grega da sabedoria Atena, vemos a mensagem manuscrita dirigida ao astrônomo Luiz Cruls, do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, informando sobre seu recebimento do Prêmio Valz de Astronomia para o ano de 1882 e lhe desejando felicitações e desejos de sucesso. A carta é datada de 27 de março de 1883 e possui duas assinaturas ilegíveis.

Carta comunicando à Luiz Cruls o recebimento do Prêmio Valz de Astronomia em 1882

Recebimento do prêmio Valz de Astronomia por Luiz Cruls

A palavra “meteorologia” tem suas raízes na Grécia
Antiga e está associada à obra Meteorológica, escrita por Aristóteles. Neste
texto, o filósofo analisou os meteoros, que ele considerava fenômenos naturais
irregulares que ocorriam abaixo da Lua, na região sublunar. Entre esses
fenômenos estavam nuvens, ventos, chuvas, raios e granizo, que ainda são
estudados pela meteorologia, além de outros que, ao longo do tempo, passaram a
ser investigados por diversas ciências, como a Via Láctea, os cometas, as estrelas
cadentes e os terremotos.Essa forma de entender a natureza se manteve por milhares
de anos. Entretanto, entre os séculos XVII e XIX, a meteorologia passou por uma
significativa transformação. A criação de novos instrumentos científicos, a
implementação de métodos de medição mais rigorosos e a elaboração de modelos
matemáticos resultaram em uma ciência mais parecida com a meteorologia que
conhecemos atualmente, pois permitiram quantificar os fenômenos da natureza.Em 1892, Luiz Cruls escreveu o livro O clima do
Rio de Janeiro. A obra foi elaborada com base em quase quarenta anos de
coleta de dados sobre a variação da temperatura, pressão atmosférica, umidade
relativa, tensão do vapor e nebulosidade. A quantificação das observações
meteorológicas é claramente apresentada nas tabelas que organizam os dados
coletados. Essas tabelas, juntamente com a ideia de que a maioria dos fenômenos
meteorológicos exibe um comportamento periódico, ou seja, varia em direção e
intensidade de forma recorrente e regular, levaram Cruls a desenvolver um
conjunto de equações para representar as variações sazonais desses elementos.
Com o modelo criado, Cruls estabeleceu um sistema de equações para cada um dos
elementos atmosféricos analisados. A resolução desses sistemas permitiu que ele
condensasse as informações em gráficos, que ilustram como os elementos da
atmosfera mudaram ao longo do tempo.

A tabela elaborada por Luiz Cruls em O clima do Rio de Janeiro apresenta
as médias de temperatura por décadas na cidade do Rio de Janeiro, organizadas
por mês e subdivididas em três partes de acordo com o horário em que foram
feitas as medições. Ela permite observar as variações térmicas ao longo do ano
e entre os diferentes anos da série, trazendo ao final médias gerais que
sintetizam os valores do período.

A tabela elaborada por Luiz Cruls em O clima do Rio de Janeiro.

O gráfico “Variação Anual da Temperatura (1871–1890)” elaborado por Luiz
Cruls &nbsp;mostra a média das temperaturas ao longo dos meses evidenciando o comportamento sazonal do clima do Rio de Janeiro: temperaturas mais altas no verão e queda acentuada no inverno, seguidas de elevação gradual até dezembro. Na parte inferior, aparece a equação que embasou os cálculos do autor.

Gráfico elaborado por Luiz Cruls em O clima do Rio de Janeiro.

A imagem mostra o conjunto de equações, em que Luiz Cruls utiliza
funções matemáticas com senos e cossenos para representar as variações sazonais
do clima do Rio de Janeiro. As equações estão organizadas por meses e décadas
(períodos de dez dias) e permitem descrever de forma sistemática as oscilações
anuais de temperatura e outros elementos atmosféricos.

Equações elaboradas por Luiz Cruls em O clima do Rio de Janeiro.

A matematização da meteorologia.

Nas vésperas do décimo aniversário da Proclamação da República, a edição de 11 de novembro de 1899 da revista Don Quixote trouxe na capa duas figuras curvadas, abrigando-se sob sombrinhas para se proteger da queda de várias estrelas. À esquerda, um homem com um nariz saliente se destacava, segurando uma dessas
estrelas. A imagem vinha acompanhada de uma legenda citando o astrônomo Luiz
Cruls, que afirmava esperar assistir a uma “chuva de estrelas” em vez da colisão de um cometa.O autor da gravura era Angelo Agostini, um dos principais caricaturistas do século XIX.
Nascido na Itália e radicado no Brasil desde jovem, Agostini começou sua
carreira como pintor em São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que consolidou sua
atuação na imprensa ilustrada, usando o humor e a crítica para comentar eventos
políticos e sociais.Revistas ilustradas como a Don Quixote foram bastante difundidas a partir da segunda
metade do século XIX. Esse crescimento ocorreu tanto pela chegada de artistas e
gravadores europeus quanto pela popularização da litografia, técnica de
impressão que permitia reproduzir imagens em grande quantidade e com custos
mais baixos. Mais do que simples entretenimento, essas revistas eram um
importante canal de comunicação, pois, por meio das imagens, mesmo quem não
sabia ler conseguia acompanhar os debates da época.Um desses debates foi ocasionado pela polêmica em torno da passagem do Cometa Biela retratada por Agostini na capa da Don Quixote. Esse episódio aparece também no interior da revista, no texto “O Fim do Mundo”, que dialoga com a gravura ao
narrar, com ironia, que o autor teria consultado Cruls para saber qual o lugar
da cauda do cometa que oferecia mais comodidade e segurança. À primeira vista,
tanto a imagem quanto o texto podem parecer apenas brincadeiras. Mas, na
verdade, refletem o clima de apreensão que tomou conta do público diante da
notícia de que o cometa poderia colidir com a Terra.Essa previsão, feita pelo astrônomo alemão Rudolf Falb, espalhou-se rapidamente, causando alvoroço. Para conter o pânico, Luiz Cruls, então diretor do Observatório do
Rio de Janeiro, utilizou a imprensa para refutar a previsão alarmista,
explicando que o fenômeno esperado não passaria de uma “chuva de estrelas”. No
entanto, a expectativa deu lugar à frustração, pois, na noite do fenômeno, o
céu estava encoberto por nuvens, impedindo que o espetáculo fosse observado.

Charge de Angelo Agostini.

O humor de Angelo Agostini e a passagem do Cometa Biela na imprensa ilustrada.

No início do século XX, as autoridades políticas e científicas estavam empenhadas em construir imagens positivas do Brasil. Era uma época de euforia no progresso, na ideia de civilização e confiança nos modelos republicanos. Para isso, promoveram no Rio de Janeiro, então capital federal, grandes exposições abertas ao público, apresentando um inventário das riquezas do país, seu desenvolvimento e situação econômica.O primeiro grande evento dessa época foi a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da abertura dos Portos do Brasil, conhecida como “Exposição Nacional de 1908”. Ocorreu entre os dias 11 de agosto e 15 de novembro daquele ano, em uma região pouco acessada à época, a Urca. Ali foram construídos aterramentos, jardins, pavilhões, palácios, áreas de diversões, restaurantes, além de um cais.Após receberem convite oficial, os estados da federação se organizaram para enviar amostras de suas riquezas econômicas, culturais e científicas para a Exposição, e a maioria se apresentou no Palácio dos Estados. Instituições sediadas na capital federal, como o Jardim Botânico, a Sociedade de Agricultura, o Instituto Histórico Geográfico, o Serviço Nacional de Saúde, o Clube de Engenharia, entre outras, também se fizeram representar. A presença delas ajudava a consolidar a imagem de um país com institutos de ciências capazes de dar respostas à sociedade que se modernizava.Uma das instituições convidadas foi o Observatório Nacional, à época sediado no Morro do Castelo. Uma das mais antigas instituições de ciências no Brasil, criado em 1827 para possibilitar a prática de instrumentos astronômicos e geodésicos, reconhecido por delimitar algumas fronteiras do país e por fornecer a hora oficial, entre outros serviços, o Observatório levou um conjunto de materiais que retratava suas atividades.Para encontrar o Observatório na Exposição, o visitante deveria ir até o&nbsp; Palácio dos Estados e dirigir-se ao fundo da ala direita do primeiro pavimento do prédio. Na sala 11, dividindo espaço com os estandes do estado do Pará e da Estrada de Ferro Leopoldina, lá estavam seus materiais selecionados. A lista é grande, se considerarmos que o espaço que lhe foi destinado era pequeno. Ao todo, três aparelhos científicos: dois sismógrafos e um Altazimuth. Este último, de fabricação nacional. Compunham a lista, também, quadros com a variação e distribuição das chuvas. Outros, com a variação de umidade, pressão atmosférica e barométrica, temperatura do ar, variação dos ventos e declinação magnética, entre outros dados de monitoramentos. Além disso, um quadro com fotografia da sede da instituição, mostrando algumas de suas salas e outros&nbsp; aparelhos.Infelizmente não há conhecimento de registros fotográficos que retratam o cenário montado pelo Observatório, mas por esta descrição, e outras informações sobre a localização da sala, podemos dizer que a instituição não ganhou um lugar de destaque quando comparamos a outras com&nbsp; salas maiores e até pavilhões próprios. Mas podemos dizer que houve, sim, uma preocupação em garantir espaço para a astronomia e suas ciências afins naquele evento histórico, mostrando que estes campos são necessários para o desenvolvimento na nação. Além disso, atendendo ao apelo dos organizadores do evento e, possivelmente, do diretor do Observatório Nacional à época, Henrique Morize, a instituição mostrou-se consolidada, atuante por meio de serviços importantes para a sociedade, e capaz de desenvolver ciência e tecnologia nacionais.

Descrição de instrumentos científicos e demais objetos apresentados pelo Observatório Nacional durante a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, em 1908. São duas páginas, 27 e 28, do "Catálogo Resumido ou Synthese dos mostruarios da Exposição Nacional de 1908", produzido pela Imprensa Nacional, naquele ano. No documento, consta parte dos materiais levados pela delegação do Pará e pela Estrada de Ferro Leopoldina, que dividiram espaço com o Observatório. Ao todo, a instituição apresentou no evento 8 quadros informativos, 3 instrumentos científicos e 1 fotografia.

Descrição de materiais apresentados pelo Observatório Nacional na Exposição Nacional de 1908

A participação do Observatório Nacional na Exposição Nacional de 1908

<h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">O PROJETO</h3> O Portal de História da Ciência e da Tecnologia no Brasil é um projeto desenvolvido pela Coordenação de História da Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), situado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Nosso objetivo é divulgar a história da ciência e da tecnologia brasileira a partir de documentos históricos preservados em instituições de pesquisa, como o próprio MAST. Os documentos digitalizados são cadastrados em uma base de dados onde são inseridas informações sobre sua procedência, autoria, datação, entre outros dados importantes para o conhecimento dos seus contextos de produção e circulação. Além disso, cada documento é associado a um evento na história da ciência e da tecnologia brasileira, que é descrito por especialistas em textos autorais voltados para o público não especializado. Por meio de ferramentas interativas que permitem a construção de linhas do tempo e mapas personalizados, esperamos ser uma fonte de estudos capaz de contribuir para tornar as ciências e os cientistas brasileiros mais conhecidos entre nós. Desde 2019, o projeto foi desenvolvido com recursos do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) por meio do edital n° 36/2021 - “Apoio à Editoração e ao Audiovisual Comemorativo do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna”, e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) por meio do projeto “A Cultura Científica no Brasil: Espaços Multiusuários de Ciência e Tecnologia no MAST”. <h3 class="editor-heading-h3 ltr" dir="ltr">A EQUIPE</h3> Coordenação: Heloisa Meireles Gesteira Desenvolvimento e pesquisa: Anderson Pereira Antunes Mariza Pinheiro Bezerra Modelagem do sistema de informação: Sergio Emanuel Dias Campos Base de dados e desenvolvimento do site: Victor Yañez Colaboração: Coordenação de História da Ciência e da Tecnologia (MAST)

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Em artefatos e natureza, pretendemos evidenciar as relações entre o natural e o artificial. Entre os artefatos, destacam-se os instrumentos científicos que permitem, por exemplo, observar tanto aquilo que é invisível ao olho nu, como os átomos, quanto aquilo que se encontra muito distante de nós, como as estrelas. Ao mesmo tempo, também podemos considerar como artefatos as representações da natureza, como desenhos e gráficos.

Artefatos e Natureza

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Em conexões e logística, priorizamos um dos efeitos do avanço científico e tecnológico no mundo moderno: tornar o mundo mais conectado. Entre o estabelecimento dos primeiros sistemas de correios e telégrafos até a conexão instantânea por meio da internet, a ciência e a tecnologia foram elementos fundamentais na construção do mundo globalizado no qual vivemos atualmente.

Conexões e Logística

O papel da ciência na construção de um mundo conectado.

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